São Paulo, terça-feira, 29 de junho de 2010

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ENZO PALLADINI

A solução é o passaporte


O futebol do futuro é cada vez mais multiétnico, como mostra a Alemanha nesta Copa do Mundo


AGORA NA ITÁLIA é proibido torcer. Quando os italianos esperam uma coisa, acontece o contrário.
Depois da eliminação do time de Marcello Lippi, muita gente esperava que Fabio Capello fosse adiante com a sua Inglaterra. Em vez disso, a Alemanha destruiu os ingleses sem piedade. Restava o árbitro Roberto Rosetti. Pequena consolação, mas era um italiano. A partida entre Argentina e México mostra que a Copa terminou também para Rosetti, protagonista de um erro inacreditável. Nas grandes cidades, como Milão e Roma, os estrangeiros que lá residem não desejam ver a bandeira de seus países nas janelas das casas italianas: talvez dê azar.
Analisando esses 20 dias de Copa, pode-se dizer que o futebol italiano está numa fase de depressão total: não tem jogadores de qualidade, não tem técnicos com ideias, não tem árbitros de alto nível. É um futebol de desastres. É preciso mudar algo.
Os italianos estão começando a entender que o exemplo certo é o da Alemanha. Joga bem e vence com jogadores de origens diversas, que talvez não sejam loiros de olhos azuis, como mostram os parâmetros históricos, mas que têm o passaporte alemão e podem ser escalados.
A Itália deve esquecer o passado e pensar que o futebol do futuro é cada vez mais multiétnico. Marcello Lippi, nos últimos meses, considerou somente um jogador da categoria "novos italianos": o brasileiro Amauri, que recebeu o passaporte italiano em março. Entretanto havia outras possibilidades interessantes, como outro brasileiro, Thiago Motta, que chegou à final da Copa dos Campeões com a Inter de Milão. Há também o argentino Christian Ledesma, da Lazio, um meio -campista que poderia ser mais útil que Gattuso.
Naturalmente há também Mario Balotelli. Gana fez de tudo para convencê-lo a jogar a Copa do Mundo. A sua resposta foi sempre "não". Sente-se italiano, e só italiano. Quer jogar com a camiseta azzurra, e todos dizem que o novo técnico, Cesare Prandelli, o chamará em agosto. Balotelli não pode ser o único "novo italiano" da seleção no futuro.
A Itália precisa mudar muito, assim como a Fifa precisa mudar o sistema de arbitragem. É difícil dizer quem mudará primeiro, mas, ao menos neste caso, a Itália não perderá.


ENZO PALLADINI é redator-chefe de Esporte da rede de TV italiana Mediaset

Tradução de ANASTASIA CAMPANERUT


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