São Paulo, sábado, 29 de julho de 2006

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RODRIGO BUENO

O penalteiro do Morumbi

A diferença entre Rogério e Chilavert está no número de gols por seleção, que é lacuna no currículo do são-paulino

HÁ ALGUM tempo Rogério Ceni inspirou uma coluna na Folha que o chamou de "presepeiro do Morumbi". Lembro que o polêmico texto descrevia uma saída desesperada da área do atleta nos minutos finais de um jogo em que o São Paulo era eliminado de algum torneio, fato que se repetia com freqüência na carreira do goleiro mais artilheiro do futebol.
A tese daquela coluna era a de que Rogério só tentava correr com a bola e pôr o time no ataque para mostrar vontade para a torcida quando a "vaca já tinha ido para o brejo". Assim, ficaria livre do rótulo de "pipoqueiro". Seria tudo cena, não uma tentativa de salvar o time.
Nos últimos anos, Rogério virou cobrador oficial de pênalti do São Paulo e vai cada vez mais ao ataque em momentos cruciais. Contra o Chivas na quarta, venceu o ótimo Sánchez aos 39min do 2º tempo, igualando assim a marca reconhecida do lendário Chilavert de 62 gols. Em Libertadores, foi seu décimo gol, o sétimo em mata-matas e o quarto em lances finais de um jogo.
Descontando as disputas de pênaltis (em que é decisivo), Rogério domina facilmente a lista dos dez pênaltis mais importantes de seu clube. Consta que errou três penalidades (um chute para fora contra o Tigres e duas bolas defendidas pelo rival). Chilavert teve 77,6% de aproveitamento em cobranças.
Desperdiçou 13 pênaltis (um chute para fora e 12 bolas defendidas), dois num mesmo jogo ante o Unión Santa Fé. Rogério já converteu 22 pênaltis no tempo normal (88% de acerto). E poderia igualar a marca de Chilavert só com faltas, pois acumula 40 gols dessa forma em menos de dez anos. O paraguaio fez 15 de falta em 14 anos (contabiliza dois tentos sem ser de bola parada).
A grande diferença entre os dois maiores goleiros-artilheiros está em seleção. Chilavert fez sete gols pelo Paraguai em eliminatórias e um na Copa América. Rogério teve só uma chance de gol pelo Brasil e não teve êxito. O paraguaio foi indagado na Copa sobre a iminente queda de seu recorde e minimizou os gols de Rogério no Paulista. Dos 62 gols do são-paulino, 20 saíram no Estadual mais importante do país. Chilavert anotou por vários Nacionais (36 pelo Argentino, 4 pelo Uruguaio e 1 pelo Espanhol), mas a IFFHS computa os Estaduais de RJ e SP até 2003 (quando iniciou os pontos corridos no Brasileiro).
Nas suas listas de recordes e estatísticas (não é a Fifa quem listou os 62 gols de Chilavert e de Rogério, até porque o paraguaio também tem gols não-oficiais), a Federação Internacional de História e Estatística do Futebol ignora o Paulista a partir de 2003, exceção feita a gols de goleiro. Chilavert já foi eleito melhor goleiro do mundo (em 95, 97 e 98) pela entidade, mas esta prepara uma cerimônia na Europa em janeiro para pôr Rogério no trono que muitos entendiam ser eternamente de Chilavert.

O PRESEPEIRO DE ASSUNÇÃO
Chilavert e Rogério já duelaram em campo. No dia 23 de dezembro de 1997, quando o são-paulino já era um goleiro-artilheiro, o paraguaio o venceu em um pênalti em um 3 a 3 entre Vélez e São Paulo pela Supercopa. O primeiro gol de Chilavert, em 1989, foi em Higuita.

O PAREDÃO DE SÃO JANUÁRIO
A IFFHS já homenageou Marazopi em sua última cerimônia de gala. Pelo Vasco, entre 1977 e 1978, ele ficou 1.816 minutos sem levar gol pelo Estadual do Rio. Recorde.

O PRESEPEIRO DE JALISCO
Sánchez, que se mexeu como pôde diante de Rogério na quarta, pega o Barcelona no dia 6 (no outro domingo). Se você lamenta o fato de o Chivas não poder pegar o campeão europeu no fim do ano, confira o duelo em Los Angeles.


rbueno@folhasp.com.br

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