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HÉLIO DE LA PEÑA
ESPECIAL PARA A FOLHA
No estádio ou na TV?
O que todos queriam ver não passou na TV, foi na boate da Vila, onde o vigor físico dos atletas
foi posto à prova
A FESTA do Pan ainda
não acabou, e os cariocas já estão morrendo de saudades. A cidade mudou nesses dias e calou a boca de muita gente.
Antes das competições, a
conversa em qualquer esquina era se as obras seriam concluídas, se o trânsito daria um nó, se a delegação americana, por medo
de um atentado, se hospedaria num submarino atômico a 200 milhas da nossa
costa. Todos éramos unânimes: esse troço não vai
dar certo de jeito nenhum.
Não foi o que se viu. A
platéia foi à festa de abertura e ganhou de brinde um
presidente para vaiar. Poderia ser mais perfeito?
Quando começaram os
jogos, uma polêmica animou as rodas de chope. De
onde seria melhor assistir
ao Pan: do sofá da sala ou
das arquibancadas superfaturadas dos estádios?
Muita gente preferiu lotar as arenas e sustenta que
fez a opção mais acertada.
Nada como estar na hora
certa, no lugar certo.
Acompanhar de perto a
performance dos maiores
atletas do continente, testemunhar ao vivo o choro
de despedida da Janeth,
aplaudir as porradas do
Diogo Silva, conferir o desempenho da Fabiana Murer na vara. Fatos que vão
ficar gravados na memória.
Quem assistiu a tudo de
casa garante que levou vantagem. A maior foi não precisar obedecer aos comandos dos animadores, que
obrigavam o pessoal a levantar, sentar, sacudir os
braços pra lá e pra cá... O
sujeito enfrenta fila, morre
numa nota para comprar
um ingresso e, quando menos espera, está ralando
numa tremenda ginástica!
Tudo por causa de um mané fantasiado com um microfone na mão. Dava vontade de gritar: "Ei, os atletas são aqueles na quadra!".
É sensacional estar no
meio da torcida vibrando a
cada cortada do Giba, a cada braçada do Thiago Pereira, a cada golaço da Marta. Mas sair de casa para
presenciar uma disputa de
tênis de mesa entre dois
chineses de países diferentes e nem ver a bolinha?
Aboletar-se de frente para
o Atlântico para perder de
vista os nadadores da maratona aquática que avançam mar afora? Fala sério!
Sem falar de boliche, tiro
ao alvo e peteca, digo, badminton. Isso não é esporte,
é lazer. Prova de hipismo
do pentatlo moderno passa
todo domingo, nas cassetadas do Faustão. Ginástica
com fitinha e bambolê ficaria melhor na arena multiuso do Cirque du Soleil.
Agora, o que todos queriam ver não passou na TV.
Aconteceu num ginásio secreto: a boate da Vila. Ali
todas as noites o vigor físico dos atletas foi posto à
prova. Muito suor, muita
adrenalina, popozões esculturais testando seus limites. E sem a presença de
animadores profissionais!
Pena que eu não estava lá...
HÉLIO DE LA PEÑA , 48, é humorista
do "Casseta & Planeta"
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