São Paulo, terça-feira, 29 de julho de 2008

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"Gatos às avessas" abrem guerra fria entre EUA e China

Mundo da ginástica duvida que 2 atletas chinesas tenham ao menos 16 anos, idade mínima para competir em Pequim

Jornal acha registros que apontam para adulteração de idade, e página na internet é bloqueada logo depois da publicação


LUÍS FERRARI
ENVIADO ESPECIAL A TÓQUIO

A suspeita de que duas ginastas chinesas selecionadas para a equipe que competirá na Olimpíada tenham tido a idade adulterada para participar dos Jogos de Pequim iniciou o embate EUA x China, disputa que permeará o evento pela liderança no quadro de medalhas.
Na última sexta-feira, o país anfitrião anunciou suas seis selecionadas para os Jogos. Entre as ginastas escolhidas estão He Kexin e Jiang Yuyuan. Há dúvidas se elas têm, efetivamente, 16 anos, a idade mínima para competir em Pequim.
"Nos blogs e sites especializados em ginástica, isso gerou bastante debate. Há uma desconfiança quanto à idade delas", disse Eliane Martins, coordenadora da CBG (Confederação Brasileira de Ginástica).
A edição dominical do "New York Times" estampou a desconfiança. O jornal encontrou três registros oficiais de que as ginastas são mais novas.
Um registro nacional de ginastas chineses de 2007 (cuja página na internet agora está bloqueada) aponta que He nasceu em 1º de janeiro de 1994.
Há outro registro da mesma data de nascimento da ginasta, indicando que a favorita ao ouro nas paralelas assimétricas tem 14, e não 16 anos de idade. É a lista de inscrição de uma competição intermunicipal em Chengdu, realizada em 2006.
Jiang, por sua vez, aparece na lista de atletas juniores feita pela autoridade esportiva da Província de Zhejiang como nascida em 1º de outubro de 1993.
Em maio, depois de a FIG (Federação Internacional de Ginástica) receber denúncias de que He teria 14 anos -informação presente inclusive numa reportagem do "China Daily", o jornal oficial do país em língua inglesa-, a entidade cobrou um posicionamento da federação chinesa.
Imediatamente foi enviada uma cópia do passaporte dela, com registro de nascimento em 1º de janeiro de 1992. O documento foi expedido em 14 de fevereiro deste ano. Depois disso, a FIG deu a investigação por encerrada. Ela só pode retomar o processo se receber alguma nova reclamação formal.
Já o passaporte de Jiang, cuja cópia também foi mandada pelas autoridades chinesas para o "New York Times", foi emitido em 2006 e aponta nascimento em 1º de novembro de 1991.
Zhang Hongliang, dirigente da Federação Chinesa de Ginástica, disse que houve erros nos registros das datas de nascimento encontradas pelo jornal e que a informação correta é a que consta nos passaportes. E alega que ambas participaram de eventos internacionais.
Não é a primeira suspeita que paira sobre os chineses de adulteração na idade das ginastas para participarem dos Jogos.
Um vídeo no Youtube exibe entrevista da atleta Yang Yun, que obteve dois bronzes (equipe e paralelas assimétricas) à TV estatal chinesa, em que ela alega ter competido com 14 anos em Sydney-2000.
"Não quero entrar nessa. Não estamos competindo contra elas. Isso é a guerra particular entre China e EUA, que devem travar disputa por cinco ou pelos seis ouros da ginástica feminina. Isso pode pesar decisivamente no quadro de medalhas dos Jogos, pois já vi uma projeção de que a diferença entre os dois países deve ser de três ouros", declarou Renato Araújo, técnico de Diego Hypólito.
A evasiva em comentar a suspeita não é só do brasileiro. Outros envolvidos nos Jogos temem tratar do assunto e acabar vendo seus atletas julgados com rigor excessivo na Olimpíada, segundo o "NYT".


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