São Paulo, terça-feira, 29 de agosto de 2000


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NATAÇÃO
Atletas da Olympikus usarão maiô da Speedo, que, em tese, melhora desempenho, mas raspam logo da empresa
Brasileiros trocam patrocínio por tempo

EDGARD ALVES E
ROBERTO DIAS
ENVIADOS ESPECIAIS A CANBERRA

Em troca de preciosos centésimos de segundo, alguns nadadores brasileiros devem disputar as provas na Olimpíada de Sydney com a marca do maiô raspada.
Pelo menos quatro integrantes da equipe nacional planejam utilizar o modelo conhecido como fast skin, que tenta imitar a pele do tubarão e diminui o atrito com a água e, em tese, aumenta o desempenho na água.
O problema é que esse maiô é fabricado pela Speedo -enquanto a delegação brasileira é patrocinada pela Olympikus.
"Já está liberado para usar o maiô. O que tem de fazer é tirar o logo", afirma Ricardo de Moura, coordenador técnico da equipe.
Um dos que estudam utilizar o maiô é Gustavo Borges, maior medalhista da natação brasileira. "Já testei. Mas acho que a decisão só deve ser tomada na hora."
"Ele gostou bastante do maiô", diz o técnico de Borges, o norte-americano Joe Goeken. "O efeito psicológico de utilizá-lo é grande", afirma ele.
Quem também deve usar o maiô é Leonardo Costa, medalha de ouro nos 200 m costas no Pan de Winnipeg, no ano passado. "Tem 98% de chances de eu usar", afirma ele.
"O Edvaldo Válerio (que competirá nos 50 m livre e em revezamentos) também está pensando em usá-lo", diz Moura. "Mas não acredite nessa história de ganhar 3% do tempo com esse maiô. O (russo Alexander) Popov, por exemplo, já disse que vai usar sua sunguinha mesmo."
Moura se referiu a uma declaração do atual bicampeão olímpico, que disse que vai atuar com seu calção de "30 dólares mesmo" -o fast skin custa cerca de 300 dólares e esgota sua vida útil em, no máximo, três competições.
"O Popov diz isso por que não quer fazer propaganda de graça, já que ele ganha de qualquer jeito", diz César Quintaes, reserva do revezamento 4 x 100 m livre.
O velocista russo, favorito para o terceiro ouro nos 50 m e 100 m livre, é patrocinado pela Arena.
"A Speedo arrumou os maiôs para a gente. O pai do Gustavo (Borges) vai trazê-los."
O principal problema apontado pelos nadadores no fast skin é a falta de conforto.
"Depois de alguns metros, ele começa a incomodar", diz Costa, que testou o maiô pela primeira vez no Instituto Australiano de Esportes, em Canberra, onde a delegação brasileira está fazendo seu período de aclimatação.
No treino, ele fez sua melhor marca em treinos nos 100 m costas -56s30, quase um segundo melhor que seu tempo anterior.
Já o nadador Alexandre Massura, medalha de prata nos 100 m costas no Pan-Americano de Winnipeg, diz que deve utilizar só metade do maiô.
"Vou usá-lo só se conseguir a parte de baixo dele, para as pernas. O fast skin não foi projetado para o nado costas."
O conflito de patrocínio vivido pela natação brasileira é parte de uma guerra de marketing cuja batalha mais importante acontecerá nas piscinas de Sydney.
O lançamento do fast skin pela Speedo, no início do ano, colocou em polvorosa o mercado de produtos para esportes aquáticos.
Outros fabricantes, como a Adidas, se apressaram a imitar o lançamento, mas nenhum conseguiu ainda, na natação profissional, os resultados obtidos pela Speedo -que fez parte, por exemplo, da recente explosão da natação da Austrália. Segundo a empresa, pelo menos 26 países utilizarão o fast skin em Sydney.
Do ponto de vista do Comitê Olímpico Brasileiro, a saia justa da natação soma-se a pelo menos outros dois conflitos de patrocinadores entre os atletas que vão disputar os Jogos.
O mais antigo deles se passou com o futebol, cuja confederação é patrocinada pela Nike.
Já o tenista Gustavo Kuerten chegou a ter sua ida a Sydney ameaçada por causa da falta de acordo entre a Diadora, que lhe apóia, e a Olympikus.
O caso da natação, porém, é diferente dos dois acima porque a Speedo, ao contrário da Nike e da Diadora, não é patrocinadora dos nadadores brasileiros.
E, para complicar a situação, a Olympikus é também patrocinadora da Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos e apóia, individualmente, seis dos nadadores olímpicos brasileiros, entre eles Borges, Costa e Massura.
Por isso, a Speedo terá seu logo raspado dos maiôs dos brasileiros durante os Jogos.


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