São Paulo, terça-feira, 29 de setembro de 2009

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Tóquio-2016 se escora em Jogos orgânicos e gente

Apesar do baixo grau de apoio da população, comitê alega que eventos de ponta irão desenvolver "cultura esportiva"

À parte da crise interna que envolve economia e até taxa de natalidade, país usa Jogos para criar "floresta sobre o mar" e refazer infraestrutura

EDUARDO OHATA
DA REPORTAGEM LOCAL
RAUL JUSTE LORES
EM TÓQUIO

Uma candidatura orgânica, em consonância com o fluxo de crescimento da cidade e com ênfase no investimento nas pessoas, tanto no caso dos desportistas como no do público. É esse o quadro, composto por diversas peças, que é pintado pela campanha de Tóquio-16.
E a cidade tem motivos para se preocupar com as pessoas, mais do que com as obras. O Japão tem o mais baixo índice de natalidade do mundo, a população que envelhece mais rapidamente e uma economia que deixou de crescer há 19 anos.
""Desde seus estágios iniciais, os Jogos têm sido planejados em colaboração com atletas", argumenta Ichiro Kono, cabeça da candidatura Tóquio-2016. ""O fato de as instalações serem no coração da cidade assegurará a participação do público."
Apesar de um ponto fraco dos japoneses ser o apoio popular -apenas 56% da população quer uma Olimpíada na cidade-, os líderes da campanha argumentam que tem sido realizado forte investimento na cultura esportiva no país.
Apontam que o Japão, e Tóquio em particular, tem recebido vários Mundiais ou competições com igual status, como o de judô por equipes, em 2008, passando pela Liga Mundial e o Grand Prix de vôlei e o Mundial de ginástica artística, previsto para 2011, entre outros.
A aclimatação de delegações para Pequim-08 entra nessa aritmética, no sentido de que teria ajudado a depurar o gosto da população pelos esportes.
Para a população local e turistas, a programação de Tóquio-16 contempla clínicas esportivas de diversas espécies para que as pessoas, ainda que nas ruas, tomem parte de atividades ligadas à Olimpíada.
A vila e demais instalações estarão integradas à cidade, o que fará com que os visitantes conheçam a cidade. Evitará que retornem a seus países com a sensação de ter visitado embaixada olímpica, não Tóquio.
Um ponto levantado como problema para os japoneses foi a eleição do primeiro-ministro, Yukio Hatoyama, do Partido Democrata. Quebrou domínio de décadas do Partido Liberal- -Democrata, porém, já enviou carta ao COI confirmando apoio à candidatura de Tóquio.
Pesam ainda contra a candidatura o alto custo de vida, congestionamentos e poluição.
Tadao Ando, um dos mais famosos arquitetos do mundo, foi nomeado chefe de planejamento do plano diretor de Tóquio- -16. Um programa chamado ""A Grande Mudança" propõe criar uma ""floresta sobre o mar" às margens da baía de Tóquio.
A cidade ainda exibe um plano de obras de dez anos, que será realizado "com ou sem os Jogos". Mas uma edição da Olimpíada funcionaria como catalisador para essas obras.
Por mais contraditório que pareça, dentro da linha de valorização das pessoas, um dos mais fortes argumentos da candidatura tem a ver com obras. Trata-se do eventual reaproveitamento, em 2016, de instalações usadas em Tóquio-64.
""O Japão aderiu ao Movimento Olímpico há exatos cem anos, em 1909, agora é a hora de nos levantarmos para devolver ao movimento os benefícios que recebemos", conclui Kono.


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