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FUTEBOL
Derrotas vegetarianas
JOSÉ ROBERTO TORERO
COLUNISTA DA FOLHA
A infância é uma idade
marcada por diversas alegrias, mas também por algumas
tristezas. Quereis alguns exemplos? Dou-vos três: visitar parentes, fazer lição de casa e não poder
jogar futebol na sala por causa
daqueles vasos que minha mãe
tanto gostava (e que, estranhamente, foram sumindo, um a um.
Mas não fui eu!).
Porém a coisa que mais me fazia sofrer era o almoço. Quando
eu voltava da escola, garoto franzino e com uma bronquite crônica, minha mãe me fazia comer
pratos cheios de agrião, chicória,
rabanete, almeirão e espinafre.
O resultado é que fiquei bom da
bronquite, mas hoje a única verdura que como é a que vem no X-salada.
E, caso o leitor esteja se perguntando por que estou escrevendo
sobre verduras, respondo: é que as
derrotas se parecem com elas.
Há, por exemplo, as derrotas-alface, que são leves, inconsequentes e não provocam grandes
alterações em termos da posição
do time na tabela de pontos. Assim eu classificaria o tropeço do
Figueirense diante do Juventude,
embora o 3 a 2 tenha vindo após
uma virada dos gaúchos. Mesmo
fracassando, o clube catarinense
continua viçoso na zona intermediária e mais: com o prestígio em
alta diante da torcida e da crítica.
Temos também as derrotas-rúcula, que são adstringentes e tornam a digestão mais difícil. Nessa
categoria encaixam-se os malogros de Lusa, Coritiba e Internacional. A Lusa chegou até a sustentar o empate no jogo com o
São Paulo, mas, após duas falhas
da defesa, acabou reencontrando
sua trágica sina. O Coritiba, um
dos times mais instáveis do campeonato (às vezes, num mesmo
jogo parece uma equipe entrosada e um bando de cabeças-de-bagre), desta vez oscilou para baixo
e não conseguiu resistir ao rival
Atlético. Já o Inter sofreu uma
derrota sem graves consequências
em termos de classificação no
clássico contra o Grêmio. Porém
perder para o principal inimigo é
amargo feito chimarrão.
Não podemos esquecer as derrotas-quiabo, que são aquelas
que poderiam ter sido evitadas,
mas que acabam acontecendo
por causa de um deslize qualquer
e deixam um gosto amargo no final. Aí o melhor exemplo é o Flamengo, que vinha equilibrando o
jogo com o Santos e que, após
duas expulsões infantis, se tornou
presa fácil.
Derrotas-repolho são aquelas
duras de engolir. Azedas, demoram para serem digeridas, revolvem no estômago e, depois, deixam no ar uma impressão bem
pouco agradável. Derrota-repolho foi a do Gama para o Goiás. A
equipe do Distrito Federal entrou
em campo com boas chances de
alcançar os 25 pontos e a 17ª posição na tabela, mas, em grande
parte graças ao goleiro Harley, do
Goiás, ficou na 23ª colocação e
com apenas mais três jogos para
fazer. Acho que é o mais sério
candidato ao rebaixamento.
E temos, por fim, as derrotas-jiló, que são as piores. Nesta rodada, uma típica derrota-jiló foi a
do Botafogo, que esteve duas vezes na frente, mas acabou caindo
frente ao arqui-rival. Por conta
disso está em 24º lugar no campeonato e é também um sério
candidato à degola.
Eis aí, leitores, um balanço da
horta de reveses que aconteceu no
último final de semana. Alguns times precisarão de muito adubo
nestas últimas rodadas, a fim de
escapar da salada dos rebaixados. Caso contrário, seu fim de
ano será mais chocho que chuchu.
Ponta-esquerda
Nas cinco Copas vencidas pelo Brasil, o time nunca teve
um ponta-esquerda legítimo.
Em 58 e em 62, Pepe era o titular, mas se machucou em
ambas as vezes e a vaga foi
ocupada por Zagallo. Em 70,
tínhamos Paulo César e Edu,
mas quem jogou foi Rivellino, um camisa 10. Em 94, não
havia ninguém por ali, mas
em campo estava Zinho, que
começou como ponta-esquerda no Flamengo. E, na
última Copa, aquela região
coube a Rivaldo, um atacante
moderno que se movimenta
com liberdade. Depois que
Lula também deixou a ponta
e passou a jogar como um
meia-esquerda, tabelando
com o centro e às vezes até
atacando pela direita, tornou-se o homem mais votado da história da humanidade. A vitória do PT, com Lula
pela meia canhota, foi uma
conquista tão importante
quanto vencer uma Copa. Ou
mais. Muito mais.
E-mail torero@uol.com.br
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