São Paulo, terça-feira, 29 de outubro de 2002

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FUTEBOL

Derrotas vegetarianas

JOSÉ ROBERTO TORERO
COLUNISTA DA FOLHA

A infância é uma idade marcada por diversas alegrias, mas também por algumas tristezas. Quereis alguns exemplos? Dou-vos três: visitar parentes, fazer lição de casa e não poder jogar futebol na sala por causa daqueles vasos que minha mãe tanto gostava (e que, estranhamente, foram sumindo, um a um. Mas não fui eu!).
Porém a coisa que mais me fazia sofrer era o almoço. Quando eu voltava da escola, garoto franzino e com uma bronquite crônica, minha mãe me fazia comer pratos cheios de agrião, chicória, rabanete, almeirão e espinafre.
O resultado é que fiquei bom da bronquite, mas hoje a única verdura que como é a que vem no X-salada.
E, caso o leitor esteja se perguntando por que estou escrevendo sobre verduras, respondo: é que as derrotas se parecem com elas.
Há, por exemplo, as derrotas-alface, que são leves, inconsequentes e não provocam grandes alterações em termos da posição do time na tabela de pontos. Assim eu classificaria o tropeço do Figueirense diante do Juventude, embora o 3 a 2 tenha vindo após uma virada dos gaúchos. Mesmo fracassando, o clube catarinense continua viçoso na zona intermediária e mais: com o prestígio em alta diante da torcida e da crítica.
Temos também as derrotas-rúcula, que são adstringentes e tornam a digestão mais difícil. Nessa categoria encaixam-se os malogros de Lusa, Coritiba e Internacional. A Lusa chegou até a sustentar o empate no jogo com o São Paulo, mas, após duas falhas da defesa, acabou reencontrando sua trágica sina. O Coritiba, um dos times mais instáveis do campeonato (às vezes, num mesmo jogo parece uma equipe entrosada e um bando de cabeças-de-bagre), desta vez oscilou para baixo e não conseguiu resistir ao rival Atlético. Já o Inter sofreu uma derrota sem graves consequências em termos de classificação no clássico contra o Grêmio. Porém perder para o principal inimigo é amargo feito chimarrão.
Não podemos esquecer as derrotas-quiabo, que são aquelas que poderiam ter sido evitadas, mas que acabam acontecendo por causa de um deslize qualquer e deixam um gosto amargo no final. Aí o melhor exemplo é o Flamengo, que vinha equilibrando o jogo com o Santos e que, após duas expulsões infantis, se tornou presa fácil.
Derrotas-repolho são aquelas duras de engolir. Azedas, demoram para serem digeridas, revolvem no estômago e, depois, deixam no ar uma impressão bem pouco agradável. Derrota-repolho foi a do Gama para o Goiás. A equipe do Distrito Federal entrou em campo com boas chances de alcançar os 25 pontos e a 17ª posição na tabela, mas, em grande parte graças ao goleiro Harley, do Goiás, ficou na 23ª colocação e com apenas mais três jogos para fazer. Acho que é o mais sério candidato ao rebaixamento.
E temos, por fim, as derrotas-jiló, que são as piores. Nesta rodada, uma típica derrota-jiló foi a do Botafogo, que esteve duas vezes na frente, mas acabou caindo frente ao arqui-rival. Por conta disso está em 24º lugar no campeonato e é também um sério candidato à degola.
Eis aí, leitores, um balanço da horta de reveses que aconteceu no último final de semana. Alguns times precisarão de muito adubo nestas últimas rodadas, a fim de escapar da salada dos rebaixados. Caso contrário, seu fim de ano será mais chocho que chuchu.

Ponta-esquerda
Nas cinco Copas vencidas pelo Brasil, o time nunca teve um ponta-esquerda legítimo. Em 58 e em 62, Pepe era o titular, mas se machucou em ambas as vezes e a vaga foi ocupada por Zagallo. Em 70, tínhamos Paulo César e Edu, mas quem jogou foi Rivellino, um camisa 10. Em 94, não havia ninguém por ali, mas em campo estava Zinho, que começou como ponta-esquerda no Flamengo. E, na última Copa, aquela região coube a Rivaldo, um atacante moderno que se movimenta com liberdade. Depois que Lula também deixou a ponta e passou a jogar como um meia-esquerda, tabelando com o centro e às vezes até atacando pela direita, tornou-se o homem mais votado da história da humanidade. A vitória do PT, com Lula pela meia canhota, foi uma conquista tão importante quanto vencer uma Copa. Ou mais. Muito mais.

E-mail torero@uol.com.br



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