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Desconfiada do uso de novas substâncias, federação estocou 405 amostras de urina do Mundial
Expectativa de doping fez atletismo guardar testes
ADALBERTO LEISTER FILHO
GUILHERME ROSEGUINI
DA REPORTAGEM LOCAL
Os meios esportivos estavam
preparados para detectar casos de
doping relacionados a novas formas de fraudar os controles.
A Iaaf (Associação Internacional das Federações de Atletismo)
planejou guardar 405 amostras de
urina coletadas durante o Mundial de Paris, disputado entre os
dias 23 e 31 de agosto, para apontar possíveis casos positivos.
Segundo István Gyulai, secretário-geral da Iaaf, a entidade já desconfiava do uso de novas drogas.
"Guardamos todas as amostras
do Mundial. Sempre combatemos o doping com rigor. Achamos estranho que, de repente, haja tantos casos positivos", disse
Gyulai, à Folha, por telefone.
O procedimento de estocar as
amostras de urina durante tanto
tempo não ocorre normalmente.
"Os laboratórios têm autonomia para descartar os testes negativos após a análise. Só se guarda
uma quantidade tão grande de
exames se existe um acordo com a
federação. É preciso estrutura para conservar isso", conta Francisco Radler de Aquino, coordenador do Ladetec, laboratório do
Rio credenciado pelo Comitê
Olímpico Internacional.
O THG (tetraidrogestrinona) e
o modafinil, pivôs do maior escândalo de doping dos EUA, foram detectados na mesma época.
Por isso, segundo Gyulai, houve
uma desconfiança de que o uso
do modafinil era, de alguma forma, associado ao THG. A hipótese, por enquanto, está descartada.
"Uma droga é um estimulante
[modafinil]. A outra é um esteróide anabólico [THG]. A punição
para a primeira é a desclassificação. O atleta que for pego com a
segunda pode ser suspenso por
até dois anos", diferencia ele.
Mas a hipótese não foi descartada pela Wada, a Agência Mundial
Antidoping. "Até o momento, porém, não sabemos de nenhuma
relação entre as duas drogas", disse à Folha Farnaz Khadem, diretor de comunicações da entidade.
A existência do THG foi revelada há duas semanas pela Usada, a
agência antidoping dos EUA.
Apesar de não fazer parte da lista de produtos banidos pelo Código Mundial Antidoping, o THG
possui estrutura similar à de duas
drogas que fazem parte da relação, a gestrinona e a trenbolona.
Já o modafinil é um estimulante
que também não faz parte da relação de drogas proibidas. Passou a
ser testado depois de desconfianças sobre sua disseminação.
"Normalmente, os laboratórios
só fazem o teste para as drogas
que constam da lista, que são cerca de 300. Não dá para testar tudo.
Mas, se houver suspeita, podemos
detectar outra substância", explica Jari da Nóbrega, do Ladetec.
Por enquanto, quatro casos positivos de THG são conhecidos:
Kevin Toth, Dwain Chambers,
Regina Jacobs e John McEwen. A
confirmação oficial, porém, ainda
depende da análise da amostra B.
A tecnologia capaz de detectar a
tetraidrogestrinona já foi enviada
ao laboratório de Paris, encarregado de promover o "recall" antidoping do Mundial. Os trabalhos
não devem acabar tão cedo. "São
405 testes. Isso levará muitas semanas. Não deve ser encerrado
antes de dezembro", disse à Folha
Nick Davies, porta-voz da Iaaf.
Depois das pistas, o escândalo
de doping pode respingar nas piscinas. A Federação Internacional
de Natação anunciou ontem que
também irá promover seu "recall". As 450 amostras coletadas
durante o Mundial de Barcelona,
disputado entre julho e agosto,
passarão por nova análise.
Na semana passada, a intenção
já havia sido manifestada por
Cornell Marculescu, diretor-executivo da Fina. "Não temos razão
para não refazer os testes. Não temos nada a esconder", declarou.
O único caso confirmado no último Mundial foi o da ucraniana
Nataliya Khudyakova, pega para
estanozolol, um outro esteróide.
O processo aparentemente incomum de estocagem das urinas
coincidiu com um período em
que os laboratórios credenciados
pelo COI desenvolviam pesquisas
com novas substâncias dopantes.
O Brasil, por exemplo, preparou
a pedido da Wada um formato de
urina contaminada com a gestrinona, esteróide similar ao THG.
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