São Paulo, quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Cambista VIP invade GP Brasil

Torcedores vendem na internet ingressos dados como cortesia por empresas para a corrida de F-1

Assistir ao fim de semana em que Felipe Massa pode dar o Mundial ao Brasil após 17 anos, com comida e brinde, pode custar até R$ 10 mil


Eduardo Knapp/Folha Imagem
LISTRADO
Ranhuras feitas no asfalto de Interlagos para facilitar a drenagem em caso de chuva no GP. A meteorologia indica chances de pista molhada na sexta.


MARIANA LAJOLO
DA REPORTAGEM LOCAL

O anúncio é sedutor: ingresso para um dos melhores setores do autódromo de Interlagos, com comida e bebida à vontade, TV, camisa pólo, boné, capas de chuva e protetores auriculares de brinde por R$ 600.
Para quem busca conforto para ver o GP Brasil, a oportunidade é quase imperdível. O ingresso anunciado na internet, no entanto, não devia estar à venda. Ele foi dado como cortesia a clientes, fornecedores e funcionários de uma das principais montadoras da F-1.
A venda de entradas para setores corporativos de Interlagos -40% da capacidade do autódromo- está espalhada pela internet . É possível adquiri-las em sites de relacionamento, como o Orkut, e de compra e venda, como o Mercado Livre.
Há comunidades dedicadas à comercialização, em que os internautas procuram e oferecem entradas e discutem preços. É possível até encontrar vaga no camarote da TV Globo para assistir a Felipe Massa buscar o título do Mundial.
Denise pede R$ 2.500 pelo fim de semana na tribuna global, perto do começo da Reta dos Boxes. Seu marido ganhou o convite de uma empresa, e nenhum dos dois poderá ir.
A Central Globo de Comunicação afirmou que "não tinha até então conhecimento deste episódio" e vai "apurar para avaliar que medidas tomar".
Raphael deixou até o número do celular para contato em seu anúncio. Vende bilhete doado a um centro espírita pela Philip Morris por R$ 1.800.
"Meu pai me repassou o ingresso. Mas, como vou trabalhar no sábado, decidimos vender", diz. "Por enquanto, tem muita gente procurando, mas oferecendo preço de banana.
Estou atuando como cambista, mas não tenho o que fazer, não posso perder o ingresso. E depende também do que você chama de cambista. Estou vendendo por um preço justo."
A Philip Morris informou em nota que os ingressos para sua arquibancada foram oferecidos exclusivamente para varejistas e que o uso e/ou repasse dessas entradas é de responsabilidade de seus portadores.
Segundo advogados consultados pela reportagem, a venda das cortesias não configura crime contra a economia popular, como no caso dos cambistas.
"Se houvesse alguma forma de desvio dos ingressos com o manifesto intuito de lesar alguém, aí sim poderia ser caracterizada infração civil e até criminal", diz Gustavo de Oliveira.
Empresas que se sentirem lesadas, porém, podem oferecer denúncias contra os vendedores. "É mais uma questão de defesa da moralidade", afirma o advogado Marcílio Krieger.
Outros dois grandes investidores da F-1, a Toyota e a Shell, também têm seus bilhetes VIP vendidos na internet. Pacotes da TAM podem ser comprados por preços inflados -a empresa tem arquibancada com 1.050 lugares para quem comprou os produtos e 150 convidados.
A reportagem, sem se identificar, procurou André por e-mail. Ele anunciava dois pacotes de convidado da Shell para o setor D (S do Senna), com alimentação, traslado, hospedagem, além de um show surpresa, que já teve como atrações, diz ele, Roberto Carlos e Ivete Sangalo. Tudo por R$ 2.500.
Procurado de novo pela reportagem, ele não comentou mais o anúncio. A Shell disse que compra parte dos bilhetes e os usa para presentear amigos, revendedores e convidados, e desconhece a venda deles.
Em uma comunidade de F-1 no Orkut, um internauta oferece vaga no camarote da Toyota por valor inicial de R$ 10 mil e abre negociação. Ele usa como atrativo visita aos boxes da equipe, informação negada pela assessoria da montadora, que distribuiu 2.000 lugares em Interlagos a convidados.
A empresa declara que repudia a ação dos vendedores e não poderá se responsabilizar por bilhetes vendidos.


Colaboraram FÁBIO SEIXAS, editor-adjunto de Esporte, e TATIANA CUNHA, da Reportagem Local


Texto Anterior: Tostão: Cinco bons treinadores
Próximo Texto: Para FIA, Ferrari está "mal informada" sobre motores
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.