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MOTOR
O subversivo
JOSÉ HENRIQUE MARIANTE
EDITOR-ADJUNTO DE ESPORTE
A F-1 está repleta de aventuras pessoais. Algumas entram para a história, outras são
esquecidas. Outras tantas são revistas ou resgatadas. Ainda é cedo
para saber que tratamento merecerá a de Jacques Villeneuve.
O filho de Gilles daria uma boa
história apenas por ser piloto, um
bom piloto, e ostentar o sobrenome que seu pai tornou épico. Daria uma história ainda melhor
por ser tudo isso e ainda conquistar as 500, a Indy e a F-1.
O problema é que Villeneuve
quis mais. Vaticinou subverter a
lógica, sair do zero e novamente
subir ao céu. Só que a seu modo,
tocando violão, pintando o cabelo
e imaginando uma F-1 feita de
trailers e cerveja, sem assessores
de imprensa, seguranças, modelos internacionais e aquela montanha de dinheiro que torna a categoria uma espécie de Ibiza sem
mar, sem festas e sem graça.
Villeneuve imaginou uma F-1
mais parecida com a do seu pai
do que com a sua. Uma F-1 aparentemente romântica, aquela
que insistimos em lembrar, mas
que já era bem diferente, crua,
cheia de interesses e sacanagens,
como agora. Era um garoto, guardou na memória a melhor parte.
A pior veio agora. Após anos de
delírio, a ficha de Villeneuve caiu.
Antes do fim da temporada, David Richards, que comanda a
BAR da mesma maneira segura
que organiza o Mundial de rali,
dispensou seus serviços. O empresário e mentor Craig Pollock ainda tentou emplacar o mirabolante plano de um ano de testes na
McLaren e um subsequente renascimento em time de ponta.
Nada aconteceu, e Villeneuve
afirmou nesta semana na Suíça,
após execrar Richards, que seu futuro está na Nascar ou muito provavelmente em Le Mans. Com 32
anos, parece um amargurado veterano em busca de alternativas.
Foi recusado pela Ferrari (ou
por Schumacher, como acredita),
pela Williams (Head seria o problema) e pela McLaren (que já tinha Montoya). Uma choradeira,
que chegou ao ápice quando acusou Ron Dennis de sabotar a carreira de Coulthard. Com certeza
não sabia que, naquele momento,
o escocês batia o recorde da pista
de Valência, terrível coincidência
que a mídia, claro, não perdoou.
A F-1 não perdoou Villeneuve.
Ele foi petulante. Campeão, deixou a Williams e foi montar um
time novo, arrotando novidades e
confiança no sucesso. Perdeu. E,
ao perder, acusou. Primeiro, o
carro, depois, o motor, agora, o
dirigente, enfim, a categoria. Virou um chato. E, como disse, nesse
tempo todo foi procurado pela
imprensa só quando era preciso
ouvir um chato, um perdedor.
Villeneuve, como seu pai, foi
morto pela F-1. Não em um horroroso acidente, que ficará para
sempre na memória de todos, capaz de transformar um quase estúpido em mito. Mas por um doloroso esquecimento, aquele reservado aos que incomodam ou
não enxergam seu devido lugar.
Villeneuve tinha um lugar na
história recente da F-1. Era o mocinho contra o bandido Schumacher, deveria ter sido o terceiro na
disputa com Hakkinen, uma tentação para McLaren e Ferrari.
Recusou o papel, quis fazer a
própria história. Não conseguiu.
A nova McLaren
Se o carro feito para 2003 mal teve chance de experimentar a pista, o
da temporada de 2004 já está em ação. A McLaren saiu na frente e colocou o MP4/19 para rodar nesta semana. Um começo auspicioso,
que demonstra que a escuderia de Ron Dennis fez a lição de casa.
Mas ainda é cedo para saber se a receita invertida (antecedência recorde contra o atraso recorde deste ano) será páreo para a Ferrari.
O velho Piquet
Nelson, o pai, fez mais uma das suas ao anunciar um contrato de sete
anos de Nelson, o filho, com a Williams. A escuderia, claro, negou. É
muito provável que o contrato de fato exista e que só falte mesmo a
assinatura. Mas deve ser igual ao de todos pilotos de testes. A diferença é que ninguém fala esse tipo de coisa. E que Piquet é macaco velho.
E-mail mariante@uol.com.br
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