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São Paulo, sábado, 29 de novembro de 2003

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MOTOR

O subversivo

JOSÉ HENRIQUE MARIANTE
EDITOR-ADJUNTO DE ESPORTE

A F-1 está repleta de aventuras pessoais. Algumas entram para a história, outras são esquecidas. Outras tantas são revistas ou resgatadas. Ainda é cedo para saber que tratamento merecerá a de Jacques Villeneuve.
O filho de Gilles daria uma boa história apenas por ser piloto, um bom piloto, e ostentar o sobrenome que seu pai tornou épico. Daria uma história ainda melhor por ser tudo isso e ainda conquistar as 500, a Indy e a F-1.
O problema é que Villeneuve quis mais. Vaticinou subverter a lógica, sair do zero e novamente subir ao céu. Só que a seu modo, tocando violão, pintando o cabelo e imaginando uma F-1 feita de trailers e cerveja, sem assessores de imprensa, seguranças, modelos internacionais e aquela montanha de dinheiro que torna a categoria uma espécie de Ibiza sem mar, sem festas e sem graça.
Villeneuve imaginou uma F-1 mais parecida com a do seu pai do que com a sua. Uma F-1 aparentemente romântica, aquela que insistimos em lembrar, mas que já era bem diferente, crua, cheia de interesses e sacanagens, como agora. Era um garoto, guardou na memória a melhor parte.
A pior veio agora. Após anos de delírio, a ficha de Villeneuve caiu. Antes do fim da temporada, David Richards, que comanda a BAR da mesma maneira segura que organiza o Mundial de rali, dispensou seus serviços. O empresário e mentor Craig Pollock ainda tentou emplacar o mirabolante plano de um ano de testes na McLaren e um subsequente renascimento em time de ponta.
Nada aconteceu, e Villeneuve afirmou nesta semana na Suíça, após execrar Richards, que seu futuro está na Nascar ou muito provavelmente em Le Mans. Com 32 anos, parece um amargurado veterano em busca de alternativas.
Foi recusado pela Ferrari (ou por Schumacher, como acredita), pela Williams (Head seria o problema) e pela McLaren (que já tinha Montoya). Uma choradeira, que chegou ao ápice quando acusou Ron Dennis de sabotar a carreira de Coulthard. Com certeza não sabia que, naquele momento, o escocês batia o recorde da pista de Valência, terrível coincidência que a mídia, claro, não perdoou.
A F-1 não perdoou Villeneuve. Ele foi petulante. Campeão, deixou a Williams e foi montar um time novo, arrotando novidades e confiança no sucesso. Perdeu. E, ao perder, acusou. Primeiro, o carro, depois, o motor, agora, o dirigente, enfim, a categoria. Virou um chato. E, como disse, nesse tempo todo foi procurado pela imprensa só quando era preciso ouvir um chato, um perdedor.
Villeneuve, como seu pai, foi morto pela F-1. Não em um horroroso acidente, que ficará para sempre na memória de todos, capaz de transformar um quase estúpido em mito. Mas por um doloroso esquecimento, aquele reservado aos que incomodam ou não enxergam seu devido lugar.
Villeneuve tinha um lugar na história recente da F-1. Era o mocinho contra o bandido Schumacher, deveria ter sido o terceiro na disputa com Hakkinen, uma tentação para McLaren e Ferrari.
Recusou o papel, quis fazer a própria história. Não conseguiu.

A nova McLaren
Se o carro feito para 2003 mal teve chance de experimentar a pista, o da temporada de 2004 já está em ação. A McLaren saiu na frente e colocou o MP4/19 para rodar nesta semana. Um começo auspicioso, que demonstra que a escuderia de Ron Dennis fez a lição de casa. Mas ainda é cedo para saber se a receita invertida (antecedência recorde contra o atraso recorde deste ano) será páreo para a Ferrari.

O velho Piquet
Nelson, o pai, fez mais uma das suas ao anunciar um contrato de sete anos de Nelson, o filho, com a Williams. A escuderia, claro, negou. É muito provável que o contrato de fato exista e que só falte mesmo a assinatura. Mas deve ser igual ao de todos pilotos de testes. A diferença é que ninguém fala esse tipo de coisa. E que Piquet é macaco velho.

E-mail mariante@uol.com.br


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