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São Paulo, sábado, 29 de novembro de 2003

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FUTEBOL

Justiça poética

JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA

O Cruzeiro tem grandes chances de se tornar campeão nacional amanhã, pela primeira vez.
Pela primeira vez? Sim e não.
Embora nunca tenha vencido o Brasileiro propriamente dito, desde que este torneio foi instituído em 1971, o clube mineiro conquistou quatro vezes a Copa do Brasil, além de ter faturado espetacularmente em 1966 a Taça Brasil, o torneio nacional da época.
Ou seja, títulos de expressão nacional não faltam na carreira do Cruzeiro. Ainda assim, a ausência de um troféu de campeão brasileiro doía mais que o retrato de Itabira na parede de Drummond. Essa lacuna está prestes a ser preenchida.
Há uma série de rimas e simetrias no título histórico que talvez venha amanhã.
Em primeiro lugar, o concorrente direto pelo título deste ano é o mesmo de 1966, quando o Cruzeiro despontou para a glória com um esquadrão inesquecível.
Estou falando do Santos, claro, que há 37 anos tinha Pelé, Toninho Guerreiro e Edu e que hoje tem Diego, Robinho e Renato. No time azul, onde antes despontavam Tostão, Dirceu Lopes e Piazza, hoje brilham Alex, Maurinho e Aristizábal. Os anos passam, os grandes times permanecem -ao menos na memória encantada dos torcedores.
Outra simetria: na Taça Brasil de 1966, Cruzeiro e Santos se enfrentaram duas vezes -uma no Mineirão e a outra na Vila Belmiro- e em ambas o clube mineiro venceu.
No atual Brasileiro, a história se repetiu: duas vitórias azuis, nos mesmos dois palcos. E há quem diga, com muita razão, que foi nessas duas partidas cruciais que se decidiu o título deste ano. Afinal, se tivesse vencido uma delas, o Santos estaria hoje empatado com o líder.
Mas há outra justiça poética em andamento. O primeiro a vencer o Brasileirão, em 1971, foi justamente o maior rival do Cruzeiro, o Atlético-MG, o que tornava o jejum cruzeirense ainda mais doloroso para seus torcedores.
A partir de amanhã, talvez eles fiquem livres desse motivo de zombaria atleticana. Os dois grandes clubes mineiros vão ficar rigorosamente empatados na história do Brasileirão, uma vez que cada um deles contará com um título e três vice-campeonatos.
Para quem não torce para clube nenhum, isso poderá parecer fútil. Mas, para quem tem na ponta da língua a escalação de seu time nos jogos históricos, para quem sabe quem fez os gols decisivos, para quem lamenta até hoje o pênalti perdido há décadas ou a bola que bateu na trave, tudo isso é memória viva, que dá sentido ao presente e ânimo para o futuro.
Cada torcedor carrega consigo a história de seu clube, "como os reis levam coroas/ e as mães carregam seus filhos/ e o mar o seu movimento/ e a floresta seus aromas" (Que me perdoe Cecília Meireles pela apropriação indevida).
O torcedor não vive no passado. Como diria Paulinho da Viola, é o passado que vive nele. Seu tempo é hoje.

Na marca do pênalti
Suspense na rabeira da tabela do Brasileiro. Grêmio e Bahia, dois times que já conquistaram o título de campeão brasileiro, estão na marca do pênalti no que diz respeito ao rebaixamento para a Série B. Qualquer tropeço, já era. E o curioso é que o destino de ambos pode estar nas mãos de dois clubes: Corinthians e Criciúma. Este último enfrenta em casa amanhã o Grêmio e no próximo domingo, também em Santa Catarina, o Bahia. Já o Corinthians joga amanhã contra o Bahia (em São Paulo) e na última rodada contra o Grêmio (em Porto Alegre). O detalhe é que tanto o Criciúma quanto o Corinthians já não têm nada mais a ganhar nem a perder neste Brasileiro. Resta saber qual dos dois tem mais vocação para carrasco.

E-mail jgcouto@uol.com.br


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