|
Texto Anterior | Índice
FUTEBOL
Nova antologia pessoal
JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA
"Por que vale a pena viver?", pergunta-se o atormentado personagem de Woody
Allen no filme "Manhattan".
Como resposta, ele passa a enumerar algumas coisas que, para
ele, tornam a vida viável: Groucho Marx, o segundo movimento
da sinfonia "Júpiter", as maçãs e
pêras de Cézanne, "Potatohead
Blues" na interpretação de Louis
Armstrong, as ostras de um determinado restaurante etc.
Se parássemos para pensar nisso, cada um de nós teria sua lista
pessoal, seu palácio particular da
memória. Na minha, com certeza, entraria um punhado de lances de futebol.
Tive sorte. O primeiro golaço
que vi ao vivo, no estádio, foi de
ninguém menos que Pelé. O jogo
era Santos x Corinthians, em junho de 1969. O lance estava meio
adormecido na minha lembrança
até que, recentemente, li sua perfeita descrição no livro "Time dos
Sonhos", de Odir Cunha:
"Toninho pegou um rebote no
bico esquerdo da grande área,
deixou a bola quicar e, com um
toque calculado, ergueu para Pelé
na pequena área. Este matou no
peito e imediatamente foi acossado por Luís Carlos e Ditão, afoitos
para impedir o arremate. Percebendo que não teria tempo para
deixar a bola cair até seu pé, Pelé
usou o joelho para dar um balãozinho e encobrir a dupla de zagueiros. Enquanto os corintianos
se atiravam no espaço vazio, Pelé
pôde esperar a bola e, sem deixá-la cair, fulminar o goleiro."
Curiosamente, outro gol inesquecível que presenciei no mesmo
estádio também foi contra o meu
time. Foi em 1976, Corinthians 2 x
1 Internacional. O gol colorado foi
um voleio de fora da área de Falcão, metendo a bola no ângulo esquerdo de Tobias. Não sei por
quê, todos os craques gostavam
de brilhar contra o Corinthians.
Minha antologia tem outros
gols dos quais já falei, e que só pude ver pela TV: o primeiro de Pelé
na Copa de 70, contra a Tchecoslováquia, o de Edinho contra a
Polônia na de 86, o de Bergkamp
contra a Argentina na de 98.
Agora que 2003 está terminando, me pergunto que lances deste
ano serão incorporados à minha
antologia pessoal. Três deles me
vêm imediatamente à lembrança:
1. No primeiro jogo do Cruzeiro
no Brasileirão, contra o São Caetano, Alex recebeu na área, matou no peito, limpou a zaga com
um único toque e, já quase sem
ângulo, encobriu o grandalhão
Silvio Luís, colocando a bola no
canto oposto.
2. Em 20 de julho, o Atlético-PR
recebeu o Bahia e fazia um jogo
relativamente morno até que Dagoberto pegou uma bola na sua
intermediária e partiu em direção ao gol adversário driblando
todo mundo que encontrou pela
frente, só parando depois de meter a bola nas redes.
3. Num dos jogos mais empolgantes do ano, Santos 7 x 4 Bahia,
Robinho pegou uma bola na intermediária, acossado por três
adversários, e colocou no ângulo,
por cobertura.
Agradeço aqui a esses três craques por terem tornado a vida
mais suportável no ano que agora
chega ao fim.
Ranking de clubes
O novo ranking de clubes da
Folha, publicado ontem, já está
despertando polêmica. Não tenho uma opinião definida, mas
acho que, com o tempo, deveria
decrescer a pontuação dos estaduais, cuja importância tem decaído. Penso também que se
deveria dar uma pontuação
maior à Copa do Brasil, agora
que virou o único mata-mata
de âmbito nacional. De todo
modo, é o ranking mais ponderado que há.
Pré-Olímpico
Mesmo sem poder contar com
Kaká, Luisão e outros, a seleção
brasileira sub-23 tem plenas
condições de brilhar no Torneio Pré-Olímpico do Chile.
Duvido que alguma outra equipe da competição disponha de
talentos como Robinho, Diego,
Nilmar e Dagoberto.
E-mail: jgcouto@uol.com.br
Texto Anterior: Vôlei - Cida Santos: Fim de uma era Índice
|