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São Paulo, segunda-feira, 29 de dezembro de 2003

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FUTEBOL

Nova antologia pessoal

JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA

"Por que vale a pena viver?", pergunta-se o atormentado personagem de Woody Allen no filme "Manhattan".
Como resposta, ele passa a enumerar algumas coisas que, para ele, tornam a vida viável: Groucho Marx, o segundo movimento da sinfonia "Júpiter", as maçãs e pêras de Cézanne, "Potatohead Blues" na interpretação de Louis Armstrong, as ostras de um determinado restaurante etc.
Se parássemos para pensar nisso, cada um de nós teria sua lista pessoal, seu palácio particular da memória. Na minha, com certeza, entraria um punhado de lances de futebol.
Tive sorte. O primeiro golaço que vi ao vivo, no estádio, foi de ninguém menos que Pelé. O jogo era Santos x Corinthians, em junho de 1969. O lance estava meio adormecido na minha lembrança até que, recentemente, li sua perfeita descrição no livro "Time dos Sonhos", de Odir Cunha:
"Toninho pegou um rebote no bico esquerdo da grande área, deixou a bola quicar e, com um toque calculado, ergueu para Pelé na pequena área. Este matou no peito e imediatamente foi acossado por Luís Carlos e Ditão, afoitos para impedir o arremate. Percebendo que não teria tempo para deixar a bola cair até seu pé, Pelé usou o joelho para dar um balãozinho e encobrir a dupla de zagueiros. Enquanto os corintianos se atiravam no espaço vazio, Pelé pôde esperar a bola e, sem deixá-la cair, fulminar o goleiro."
Curiosamente, outro gol inesquecível que presenciei no mesmo estádio também foi contra o meu time. Foi em 1976, Corinthians 2 x 1 Internacional. O gol colorado foi um voleio de fora da área de Falcão, metendo a bola no ângulo esquerdo de Tobias. Não sei por quê, todos os craques gostavam de brilhar contra o Corinthians.
Minha antologia tem outros gols dos quais já falei, e que só pude ver pela TV: o primeiro de Pelé na Copa de 70, contra a Tchecoslováquia, o de Edinho contra a Polônia na de 86, o de Bergkamp contra a Argentina na de 98.
Agora que 2003 está terminando, me pergunto que lances deste ano serão incorporados à minha antologia pessoal. Três deles me vêm imediatamente à lembrança:
1. No primeiro jogo do Cruzeiro no Brasileirão, contra o São Caetano, Alex recebeu na área, matou no peito, limpou a zaga com um único toque e, já quase sem ângulo, encobriu o grandalhão Silvio Luís, colocando a bola no canto oposto.
2. Em 20 de julho, o Atlético-PR recebeu o Bahia e fazia um jogo relativamente morno até que Dagoberto pegou uma bola na sua intermediária e partiu em direção ao gol adversário driblando todo mundo que encontrou pela frente, só parando depois de meter a bola nas redes.
3. Num dos jogos mais empolgantes do ano, Santos 7 x 4 Bahia, Robinho pegou uma bola na intermediária, acossado por três adversários, e colocou no ângulo, por cobertura.
Agradeço aqui a esses três craques por terem tornado a vida mais suportável no ano que agora chega ao fim.

Ranking de clubes
O novo ranking de clubes da Folha, publicado ontem, já está despertando polêmica. Não tenho uma opinião definida, mas acho que, com o tempo, deveria decrescer a pontuação dos estaduais, cuja importância tem decaído. Penso também que se deveria dar uma pontuação maior à Copa do Brasil, agora que virou o único mata-mata de âmbito nacional. De todo modo, é o ranking mais ponderado que há.

Pré-Olímpico
Mesmo sem poder contar com Kaká, Luisão e outros, a seleção brasileira sub-23 tem plenas condições de brilhar no Torneio Pré-Olímpico do Chile. Duvido que alguma outra equipe da competição disponha de talentos como Robinho, Diego, Nilmar e Dagoberto.

E-mail: jgcouto@uol.com.br


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