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FUTEBOL
Santa impaciência
JORGE KAJURU
ESPECIAL PARA A FOLHA
Não é somente o insubstituível colunista Tostão que
está sem paciência com tantas
coisas do futebol. Existe uma nação de torcedores do bem que
também não suporta mais ver
tanta incompetência e roubalheira (Tostão, mais equilibrado, preferiu definir como falta de transparência) de muitos dirigentes.
Há uma outra nação, infelizmente menor, de jornalistas que
perderam a paciência com tantas
patotas nos clubes, nas federações, na CBF, na crônica esportiva, nos governos. Como discordar
de Tostão quando diz que há pequenas e grandes patotas, que representam quase o pensamento
único? As pessoas de uma turma
só escolhem e elogiam os que fazem parte ou têm algum vínculo
com a mesma turma. O Brasil é o
país das patotas. Costumo exagerar que em breve as pessoas éticas
vão ser linchadas neste mundo
onde o errado é que parece certo.
A minoria que condena a parceria do Corinthians está errada?
Lavada ou não, então vamos
questionar a grana que entra e sai
de vários outros clubes, com parceiros de origem bem duvidosa.
Mas como profetiza Hailê Sallassiê, eterno dirigente do Goiás, o
futebol é um prostíbulo, não tem
espaço para virgens. Paciência,
até porque temos assuntos mais
sérios. Num país onde não se debate e nada se decide para valer
sobre o tráfico, que virou perspectiva de ascensão social. E, quem
diria, um governo do PT que não
encara esse problema gravíssimo.
Tudo em nome de Jesus, o do
PL. Assim segue o fluxo. De repente é pura tolice criticar fatos extracampo. O que interessa é o espetáculo! Aliás, quando acabou o
jogo Santos x Vasco e se comemorava o justíssimo título conquistado pelo time paulista, o que se
falava na transmissão da Globo?
Que o Vasco jogou com dignidade. Que, mesmo sem Petkovic,
não interessava nem tinha importância saber se o craque não
jogou por vontade própria ou por
decisão do Vasco. Santa paciência. Pobre jornalismo comercial.
E quando entrou Faustão: "Viva
o Peixe do Marcelo Teixeira, esse
grande presidente...". O que fazer,
rir ou chorar?
Numa entrevista sobre o livro
de Memórias de Roberto Marinho, a viúva Lily Marinho disse
que o Roberto colocou o Collor na
Presidência e depois tirou. O que
dizer? Paciência. Solução não seria desligar a TV na hora do futebol ou assistir só com a imagem,
sem áudio. Escolheria um som
alheio ao esporte. Uma jóia rara
como Tom Jobim ao vivo, em Minas. Ah! Quanta saudade de João
Saldanha, meu maestro soberano, no submundo do futebol. Volte logo das férias, pois como você
mesmo, Tostão, escreveu antes do
Natal de 2003, hoje em dia o importante não é fazer bem, e sim
vender bem. Às vezes, percebendo
ou não, vende-se a alma. E quem
não aparece não se vende, não
tem prestígio nem fatura. Aí está
o mundo moderno ou pós-moderno, onde vende-se de tudo, principalmente a própria imagem.
Jorge Kajuru, 43, é jornalista
O colunista Tostão está em férias
O que faço?
Justifico minha existência como jornalista mantendo distância cética de quaisquer poderes. Me divirto bastante no interior, não sendo cordeirinho
de nenhum veículo, e de vez em
quando tenho o privilégio de
ocupar a coluna de Tostão e poder escrever o que penso com
rara liberdade para os tempos
atuais. E ainda sou pago.
Conselho do Felipão
"Kajuru, meu amigo, escute
quem gosta de ti. Quando tu
voltares à mídia nacional, esqueça essa gente toda. Eles vão
continuar existindo e roubando do mesmo jeito."
Conclusão
Não vou consertar o mundo,
mas também não vou deixá-lo
me desconsertar.
E-mail
jorgekajuru@terra.com.br
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