São Paulo, segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

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SONINHA

O jogo dos mil erros


Há erros acidentais e dolosos, e isso inclui a arbitragem, mas o São Paulo não foi campeão por causa dela

HÁ QUINZE dias prometi falar sobre arbitragem na semana "que vem". Só não disse quando ela vinha...
Não adiei de propósito (Ronaldo e Mundial Interclubes apareceram no meio do caminho), mas é interessante discutir o tema quando o calor em torno dele já arrefeceu. O futebol continua vivo nas trocas de presentes, provocações entre amigos e bandeiras penduradas nas janelas -mas, exceto pelos natural ou etilicamente exaltados, não desperta a raiva da primeira segunda-feira depois da 38ª rodada.
Nas semanas finais do Brasileiro, fez sucesso uma lista de doze erros de arbitragem que teriam beneficiado o São Paulo. Renato Mauricio Prado a publicou em sua coluna no "Globo", e o que sai em um jornalão dá ânimo e credibilidade às intermináveis discussões na internet.
Algumas decisões da arbitragem inegavelmente interferem no placar. Gol mal anulado, por exemplo, é um erro decisivo (a bola já estava LÁ DENTRO!), que dificilmente causa comoção. Às vezes nem aparece nos "melhores momentos", ou recebe uma menção de passagem: "O Náutico teve ainda um gol anulado porque o auxiliar entendeu que o atacante estava impedido".
Já um pênalti não assinalado é reprisado e discutido até a eternidade.
Pênalti sequer é garantia de gol!
O São Paulo foi beneficiado, sim, por decisões erradas (mesmo sem saber se a bola do pênalti ia entrar ou não). Mas eu queria ter tempo (ou uma equipe de estagiários) para levantar, rodada a rodada, todos os erros de arbitragem - conforme imagens da TV, relatos da imprensa e queixas dos torcedores. E classificá-los em "consensuais", "polêmicos", "despercebidos".
Os consensuais seriam divididos em "ao vivo" e "VT". Uma coisa é ter certeza de que o juiz errou no momento exato do erro; da arquibancada, do banco de reservas ou do sofá se enxergou o que só o homem do apito não viu. Outra, bem diferente, é chegar à certeza inabalável de que "estava impedido" depois de 400 reprises em câmera lenta.
Feitos todos os cálculos, balanços e compensações, encontraríamos outros 200 lances em que o São Paulo foi beneficiado. E também o Flamengo, o Palmeiras, o Grêmio etc.
Ainda haveria diferenças entre eles, mas não a ponto de se dizer que o São Paulo foi campeão por causa dos juízes.
O que não quer dizer que, entre todos os ramos da atividade humana, o futebol -justo ele! - esteja livre de máculas, intocado por maquinações ilícitas. O mundo do esporte é assolado por desonestidades de vários tipos. Precisamos ser tão intolerantes a elas quanto somos a um impedimento mal assinalado.
Existem árbitros venais? Não é possível que não haja. Há pedidos e ofertas indecentes? Quem dera não houvesse. Mas há erros grosseiros cometidos de maneira inocente e erros "bobos" cometidos com dolo, prejudicando um time de maneira menos visível pelas 30 câmeras de TV.
Estejamos atentos, mas cientes de que os grandes esquemas só serão desvendados por investigações policiais e não nos replays em câmera lenta. O São Paulo foi campeão porque errou menos que os outros, não porque erraram mais a seu favor.

soninha.folha@uol.com.br


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