São Paulo, sexta-feira, 30 de janeiro de 2004

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Poder público impulsiona ascensão histórica do ABC

Santo André e São Caetano se enfrentam na elite e têm temporada gorda graças a prefeituras

PAULO COBOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Foi São Caetano x Santo André, mas o primeiro clássico do Grande ABC paulista na história pela primeira divisão do Estadual, anteontem à noite, bem que poderia ter sido batizado de Prefeitura de São Caetano x Prefeitura de Santo André. Ou de PTB x PT.
Reflexo da evolução crescente do futebol da região, um oásis em meio à penúria do futebol paulista, o histórico confronto só foi possível graças a um modelo de gestão no qual é impossível distinguir o público do privado.
Oferecendo estrutura e poupando os clubes de custos, além de dividir com eles funcionários públicos graduados, as prefeituras de Santo André (do PT) e São Caetano (PTB) vêem as equipes de suas cidades em alta.
O Santo André está na primeira divisão do Estadual, vai disputar a Copa do Brasil pela primeira vez e conseguiu o acesso à Série B do Brasileiro em 2003. O São Caetano terá mais uma temporada de grande, jogando a primeira divisão nacional e a Libertadores.
A receita do sucesso passa pelos cofres públicos. Os times de sucesso do ABC jogam em estádios municipais, cedidos gratuitamente. Na primeira divisão do Paulista, menos de um terço dos 21 inscritos têm o privilégio de não pagar aluguel nem investir na manutenção do campo próprio.
No clássico de anteontem, tanto São Caetano quanto Santo André tinham outros benefícios estatais. Exigências do Estatuto do Torcedor são bancadas pelas prefeituras. A ambulância à serviço no estádio era do município de São Caetano. Já a delegação de Santo André chegou em um ônibus da prefeitura da sua cidade.
As duas equipes têm suas sedes sociais e treinam em terrenos cedidos pelos dois municípios.
"É claro que isso não é barato", diz Celso Luiz Almeida, diretor de esportes da Prefeitura de Santo André, que em troca do apoio tem o nome de projetos seus estampados na camisa do time.
O entrosamento entre clubes e prefeituras no ABC é tanto que chega ao ponto de os dirigentes das equipes serem funcionários graduados no poder público, situação que poderia causar escândalos em outras áreas.
Além de diretor de esportes da Prefeitura de Santo André, Almeida é também vice-presidente de futebol do time homônimo.
No São Caetano a simbiose se dá em postos mais altos: o presidente Nairo Ferreira de Souza é secretário de planejamento do município, onde tem como chefe o prefeito Luiz Tortorello, presidente de honra do clube.
Nenhum desses dirigentes vê problemas em servir ao mesmo tempo prefeituras e clubes.
Os patrocínios privados também têm o dedo público. O Santo André leva na camisa o nome de duas empresas que prestam serviços à prefeitura e foram envolvidas no recente escândalo de um suposto esquema de propinas em contratos públicos.
Mesmo as eleições municipais de outubro, que podem mudar o cenário político das cidades do ABC, não ameaçam as parcerias.
"Isso não tem nada a ver com partidos. O clube representa a cidade", diz Almeida, de Santo André, local em que o PT tem um largo predomínio na prefeitura.
Em São Caetano, até a oposição ao prefeito Tortorello garante a continuidade do projeto. "Se eleito, não muda nada", diz Anacleto Campanella Jr., vereador que deve ser candidato do PFL à prefeitura. O político, filho do ex-prefeito que batiza o estádio da cidade, não teme vantagens eleitorais para o grupo de Tortorello -o próprio Nairo pode ser candidato.


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