São Paulo, sexta-feira, 30 de janeiro de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

BOXE

Luvas de pelica

EDUARDO OHATA
DA REPORTAGEM LOCAL

"Você usa brinco, é?", perguntou, em tom irônico, Adilson "Maguila" Rodrigues.
A questão era dirigida a Emile Griffith, ex-campeão mundial dos meio-médios e médios, que acompanhava ao Brasil seu pupilo, James "Quebra-Ossos" Smith, para enfrentar o brasileiro, em 1987.
Nativo das Ilhas Virgens, Griffith não se intimidou com o tamanho de Maguila e disparou: "Sou bicampeão mundial, quem é você para falar assim comigo?".
Sempre espirituoso, desta vez o peso-pesado sergipano ficou sem graça, conforme relatou seu ex e futuro treinador Sidney Gomes.
Mesmo tendo passado vergonha naquela ocasião, Maguila saiu no lucro. E muito (o motivo vocês vão saber mais à frente).
Quanto à resposta de Griffith, ela pareceu um pouco arrogante.
Mas a verdade é que Griffith foi um dos maiores campeões de todos os tempos. Na mesma edição especial da "The Ring" que lista Eder Jofre como o 19º melhor boxeador dos últimos 80 anos (entre todas as categorias de peso), Griffith fica com a 33ª colocação.
Durante a carreira que foi de 1958 a 1977, Griffith foi campeão dos meio-médios (três vezes) e médios (médios) e "Lutador do ano" pela "The Ring", em 1964.
Foi considerado o melhor meio-médio do mundo em 61, 62, 63, 64, 65, e peso-médio, em 66 e 67.
Pendurou as luvas com cartel de 85 vitórias, 24 derrotas e 2 empates e posteriormente foi incluído no Hall da Fama do boxe.
Mas voltando aos episódios recentes de Griffith, ou mais precisamente, àqueles relacionados à sua visita ao Brasil, quando eu tinha 17 anos e ainda treinava, achava não ser possível existirem homossexuais no universo do pugilismo. (Naquela época nem imaginava o quanto o boxe feminino se tornaria popular).
Até que um colega que o encontrou na academia de pugilismo do Centro Olímpico em 1987 disse ter certeza que Griffith era bichão (não me perguntem como ele podia dizer isso com tal convicção).
Retruquei a meu amigo que em uma modalidade como o boxe não dava para ter homossexuais.
"Sim, o boxe é um esporte viril. Mas não é por isso que não tem gays nele", analisou meu colega.
Fiquei achando que a história toda não passava de cascata.
Mas depois algumas pessoas reforçaram o que meu amigo havia dito sobre Griffith. E até a "The Ring" já confirmou que existiram campeões gays (mas sem, convenientemente, nomear ninguém).
Uma das histórias mais famosas sobre Griffith que apontam para essa direção é sobre sua terceira luta com Benny "Kid" Paret.
Durante eventos promocionais, muito conturbados, o cubano chamou Griffith de "maricón" (homossexual, em castelhano). Pagou um preço muito caro.
Tal foi a fúria do ataque de Griffith durante o combate, que matou Paret no 12º assalto.
O episódio abalou Griffith. Os seus nocautes diminuíram drasticamente após a tragédia, o que não impediu que seus feitos fossem reconhecidos por especialistas e, é claro, pelo Hall da Fama.
É confortado por esse conhecimento que Griffith completa 66 anos na próxima terça-feira.

Brasil 1
Popó já pensa em seu segundo título dos leves. O motivo oficial para ele ir hoje para a Venezuela é uma homenagem da AMB. Mas aproveitará para conversar sobre o cinturão dos leves da entidade, vago.

Brasil 2
O meio-médio Denis de Barros pega amanhã Luiz Carlos dos Santos, a partir das 20h, no Clube Internacional de Regatas, em Santos.

Brasil 3
Foi cancelada a luta na qual Reginaldo Martins desafiaria amanhã o campeão dos moscas da OMB, o argentino Omar Narvaez, no Uruguai. Com sete vitórias e um empate, Martins é o 15º do ranking. Mas ele não é o principal mosca do país: é o segundo do ranking nacional.

E-mail eohata@folhasp.com.br


Texto Anterior: Bélgica monopoliza, de novo, decisão feminina
Próximo Texto: Futebol - José Roberto Torero: Os técnicos: Marx
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.