São Paulo, sexta-feira, 30 de janeiro de 2004

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FUTEBOL

Os técnicos: Marx

JOSÉ ROBERTO TORERO
COLUNISTA DA FOLHA

Carlos Marx terá sido, talvez, o nome mais importante da história de Russas (CE).
Ele está eternizado numa rua, numa auto-escola e num supermercado, sem falar nas várias crianças que, até hoje, são batizadas com o seu nome.
Marx foi, desde sempre, um apaixonado pelo futebol. Jogou no Operário, no Fabril e no Primeiro de Maio antes de se consagrar como técnico do Estrela Vermelha, um dos mais tradicionais clubes da cidade.
Quando o novo treinador chegou ao Estrela Vermelha, em 1917, o quadro era lamentável. Os jogadores estavam desmotivados: uns recebiam apenas as camisas para jogar e outros, entre os quais o filho do presidente e o do diretor de futebol, eram premiados com excelentes gratificações.
Marx tratou, então, de virar o mundo de cabeça para baixo. Antes de mais nada, escreveu um manifesto pedindo o pagamento de salários iguais para todos. O presidente riu na cara dele, mas como, no domingo seguinte, o Estrela derrotou seu mais ferrenho adversário, o Capital de Fortaleza, acabou por atender ao exótico pedido do treinador.
Daí Marx não parou mais: exigiu que se colocassem chuveiros do vestiário, que se construísse uma creche ao lado do clube, que se dessem cestas básicas aos jogadores e que se montasse uma biblioteca na casa onde o clube ficava concentrado.
Para sua sorte, o Estrela correspondeu. Jogando um futebol coletivo e com todos os jogadores se esforçando pelo bem comum, o time mostrou um raro equilíbrio no futebol daqueles dias.
Mesmo com tanto sucesso, ninguém poderia imaginar que um ano depois o time de Russas fosse ser alvo de uma honraria tão alta, uma glória jamais imaginada por um modesto time do interior cearense: ser convidado para representar o Brasil na disputa da Taça Guantanamera, em Cuba.
E o Estrela Vermelha fez bonito: derrotou equipes hondurenhas, guatemaltecas e nicaraguenses, chegando à final do torneio contra o Libertad, de Havana.
Marx não cabia em si de tanto orgulho e, na preleção, tratou de comunicar um grande entusiasmo a seus comandados. Tudo estava pronto para a grande vitória, quando um de seus jogadores, o meia Esquerdinha, levantou-se e pediu a palavra.
- Professor, nós não vamos jogar a final.
- Não? Por quê?
- Queremos um aumento!
- Mas vocês estão loucos, esse não é o momento histórico favorável para obtermos essa nova conquista da classe trabalhadora!
- Sinto muito, professor, greve é greve!
A partir daí a história é conhecida do público. O presidente recusou-se a pagar o adicional, o clube cubano tornou-se campeão por W.O. e o Estrela Vermelha foi extinto no ano seguinte.
Quanto a Marx, tornou-se diretor administrativo-financeiro de uma empresa norte-americana que se instalou em Natal durante a Segunda Guerra e nunca mais quis ouvir falar de futebol.

Latitude Zero E.C.
Na página central da Enciclopédia dos Times Imaginários, o leitor encontrará o Latitude Zero Espuerte Club. Este time equatoriano da segunda divisão usa um curioso uniforme: o lado esquerdo é todo amarelo, inclusive a meia, e o direito é completamente azul. Seu estádio fica exatamente sobre a linha do Equador, ou seja, uma metade do campo fica na parte sul do mundo e a outra, na parte norte. Infelizmente, isso gerou uma divisão em sua própria torcida, pois os zerenses do norte da cidade não aceitam sentar-se no sul do estádio e vice-versa. Os dois grupos se odeiam e só não brigam porque sequer cogitam cruzar a linha do Equador.

Contagem regressiva
Seis...

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