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FUTEBOL
Os técnicos: Marx
JOSÉ ROBERTO TORERO
COLUNISTA DA FOLHA
Carlos Marx terá sido, talvez, o nome mais importante
da história de Russas (CE).
Ele está eternizado numa rua,
numa auto-escola e num supermercado, sem falar nas várias
crianças que, até hoje, são batizadas com o seu nome.
Marx foi, desde sempre, um
apaixonado pelo futebol. Jogou
no Operário, no Fabril e no Primeiro de Maio antes de se consagrar como técnico do Estrela Vermelha, um dos mais tradicionais
clubes da cidade.
Quando o novo treinador chegou ao Estrela Vermelha, em
1917, o quadro era lamentável. Os
jogadores estavam desmotivados:
uns recebiam apenas as camisas
para jogar e outros, entre os quais
o filho do presidente e o do diretor
de futebol, eram premiados com
excelentes gratificações.
Marx tratou, então, de virar o
mundo de cabeça para baixo. Antes de mais nada, escreveu um
manifesto pedindo o pagamento
de salários iguais para todos. O
presidente riu na cara dele, mas
como, no domingo seguinte, o Estrela derrotou seu mais ferrenho
adversário, o Capital de Fortaleza, acabou por atender ao exótico
pedido do treinador.
Daí Marx não parou mais: exigiu que se colocassem chuveiros
do vestiário, que se construísse
uma creche ao lado do clube, que
se dessem cestas básicas aos jogadores e que se montasse uma biblioteca na casa onde o clube ficava concentrado.
Para sua sorte, o Estrela correspondeu. Jogando um futebol coletivo e com todos os jogadores se
esforçando pelo bem comum, o time mostrou um raro equilíbrio
no futebol daqueles dias.
Mesmo com tanto sucesso, ninguém poderia imaginar que um
ano depois o time de Russas fosse
ser alvo de uma honraria tão alta,
uma glória jamais imaginada por
um modesto time do interior cearense: ser convidado para representar o Brasil na disputa da Taça Guantanamera, em Cuba.
E o Estrela Vermelha fez bonito:
derrotou equipes hondurenhas,
guatemaltecas e nicaraguenses,
chegando à final do torneio contra o Libertad, de Havana.
Marx não cabia em si de tanto
orgulho e, na preleção, tratou de
comunicar um grande entusiasmo a seus comandados. Tudo estava pronto para a grande vitória, quando um de seus jogadores,
o meia Esquerdinha, levantou-se
e pediu a palavra.
- Professor, nós não vamos jogar a final.
- Não? Por quê?
- Queremos um aumento!
- Mas vocês estão loucos, esse
não é o momento histórico favorável para obtermos essa nova
conquista da classe trabalhadora!
- Sinto muito, professor, greve
é greve!
A partir daí a história é conhecida do público. O presidente recusou-se a pagar o adicional, o
clube cubano tornou-se campeão
por W.O. e o Estrela Vermelha foi
extinto no ano seguinte.
Quanto a Marx, tornou-se diretor administrativo-financeiro de
uma empresa norte-americana
que se instalou em Natal durante
a Segunda Guerra e nunca mais
quis ouvir falar de futebol.
Latitude Zero E.C.
Na página central da Enciclopédia dos Times Imaginários, o
leitor encontrará o Latitude Zero Espuerte Club. Este time
equatoriano da segunda divisão usa um curioso uniforme: o
lado esquerdo é todo amarelo,
inclusive a meia, e o direito é
completamente azul. Seu estádio fica exatamente sobre a linha do Equador, ou seja, uma
metade do campo fica na parte
sul do mundo e a outra, na parte norte. Infelizmente, isso gerou uma divisão em sua própria torcida, pois os zerenses do
norte da cidade não aceitam
sentar-se no sul do estádio e vice-versa. Os dois grupos se
odeiam e só não brigam porque
sequer cogitam cruzar a linha
do Equador.
Contagem regressiva
Seis...
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