São Paulo, quinta-feira, 30 de março de 2006

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AÇÃO

Morrer ao vivo é pesado

CARLOS SARLI
COLUNISTA DA FOLHA

O nome do lugar é Hell Hole Bend (declive do buraco do inferno, em inglês), a parte mais sinistra do Grand Canyon, Arizona, EUA. Um local sagrado dentro da reserva dos índios Navajos. Foi lá, correndo o risco de ser abençoado ou desgraçado, o local eleito pelo brasileiro Bob Burnquist para sua nova façanha.
Nos últimos meses, Bob e o americano Danny Way têm se superado na busca de estender os limites do skate e na busca pessoal de emoção. Construindo megarrampas e pistas especiais, obstáculos como a Muralha da China e/ou a lei da gravidade têm sido superados. Desta vez, a doideira consistia num "skate combo": megarrampa-corrimão-base jump.
Voar nunca foi segredo para Bob, seja em aéreos acrobáticos no half pipe, seja pilotando avião, seja em outra de suas paixões, o pára-quedismo. E foi essa experiência que permitiu a maluca combinação: descer em alta velocidade numa rampa de 12 m, saltar para uma trave elíptica com mais de 10 m, seguir num fifty com os eixos do skate deslizando no corrimão até cair no abismo do Grand Canyon, abandonar o skate e aguardar a hora certa para a abertura do pára-quedas.
Apesar do título, a maluquice foi gravada no último dia 23 para futura apresentação na TV. O programa "Stunt Junkies", do Discovery Channel, foi quem organizou e patrocinou a aventura, que para o apresentador e experiente base-jumper Jeb Corliss foi a maior que o show já promoveu: "Elevou os níveis de demência a uma dimensão que tão cedo não vai ser atingida por outro".
E, mesmo que a impressão de Corliss, um dos 30 envolvidos no projeto, seja a avaliação predominante, foi a lucidez de Bob que permitiu tornar realidade uma idéia tão maluca. "Estou acostumado a correr riscos por causa do skate, mas não de vida. Morrer ao vivo é pesado." Ciente do perigo, acompanhou cada detalhe da montagem. "Tratei a megarrampa como no pára-quedismo. Antes de saltar tem que checar muitas vezes. Não foi chegar e fazer."
Durante os dias que antecederam a montagem da estrutura houve tempestade de vento, de neve e tempo para conhecer histórias dos índios e outras menos agradáveis, como a de dois base-jumpers que morreram no local.
Chegou o grande dia. O tempo abriu. Câmeras estrategicamente colocadas para captar todos os movimentos, de todos os ângulos, uma inclusive no capacete de Bob, cujo peso, somado aos 6 kg do pára-quedas, dificultava ainda mais a manobra. A primeira descida foi de reconhecimento. Na segunda, já com a intenção de encaixar a manobra, o skate escapou do pé. A rampa foi ajustada para outra tentativa, quando Bob caiu, felizmente antes do penhasco. Mais um dos sete skates que levara virava oferenda para os deuses índios. Mais ajustes.
Com a rampa perfeita, desceu, encaixou o eixo, deslizou até o final do corrimão, se distanciando o suficiente do penhasco, até saltar no precipício, chutar o skate e abrir o pára-quedas. O programa está previsto para ir ao ar na TV americana em junho. O que esperar dos próximos episódios?

Seleção brasileira de surfe
Um inédito incentivo para todos os brasileiros que disputam o WCT, o Mundial de surfe deve ser anunciado em breve. O patrocínio é igual no início da temporada e prevê bônus pelo desempenho.

Pipeline mexicano
A princípio prevista para Puerto Escondido, a etapa móvel do Mundial de surfe, o Rip Curl Search, deve acontecer mesmo em Barra de La Cruz.

Não à verticalização
A comunidade se mobilizou, o deputado Turco Loco organizou manifestação, e o projeto das Zeis, lei que previa prédios de até cinco andares em São Sebastião, SP, não passou.

E-mail sarli@trip.com.br

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