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FUTEBOL
As amantes e o futebol
JOSÉ ROBERTO TORERO
COLUNISTA DA FOLHA
Adulto leitor, adúltera leitora, confesse: você tem um(a)
amante. Se não tem, já teve. Não,
não adianta negar. Todos nós já
caímos neste pecado. Eu mesmo
já o cometi. E mais de uma vez. O
pior é que não me arrependo. Faz
parte da vida. Às vezes a gente
cansa e precisa mesmo dar uma
variada.
A amante faz coisas diferentes,
de uma forma com a qual não estamos acostumados. As cores são
outras, a velocidade é outra e outras são as táticas. A minha primeira foi a holandesa. Ah, ela girava como eu nunca tinha visto.
É claro que estou falando de
equipes-amantes. Aquela equipe
para a qual você torce quase secretamente, aquela para a qual,
se já não estivesse casado com
uma respeitável agremiação, você
torceria com fervor. A minha primeira foi a seleção holandesa em
74. Aquela camisa laranja, aqueles jogadores correndo para todos
os lados e aquela busca constante
de gol me conquistaram. Lamentei muito quando ela perdeu para
a Alemanha. E, na Copa seguinte,
fiquei triste quando ela foi derrotada pela Argentina.
Nesta Copa, todos terão uma
amante, uma paixão não confessada. O Brasil será nosso cônjuge,
mas muitos torcerão para Portugal de Felipão ou para a simpática Angola. Estas, aliás, com a Holanda, formarão meu harém.
Mas os amantes não precisam
ser seleções nacionais. Às vezes
basta um simples vizinho ou um
conterrâneo. Eu, por exemplo, tenho especial simpatia pela Portuguesa Santista. E ainda arrasto
uma asa pelo Jabaquara.
Estes amantes futebolísticos servem de consolo quando nossa
equipe-cônjuge não nos satisfaz.
Se nosso time vai mal e a equipe
amante se mostra fogosa e brilhante, nos sentimos recompensados. Como disse o comentarista
esportivo Machado de Assis, a felicidade é uma questão de sorte,
uma loteria, e sempre tem mais
chance quem possui dois bilhetes.
Uma ardorosa fã do desclassificado Atlético-PR, por exemplo,
pode agora estar flertando com o
Adap. Um torcedor apaixonado,
mas decepcionado com o Atlético-MG, pode buscar refúgio nos
braços do jovem Ipatinga. E uma
fiel torcedora do Bahia, que está
fora da final do primeiro turno,
talvez busque o colo do Colo Colo.
Também é muito comum ter
amantes em outros Estados. Há,
por exemplo, quem seja Fluminense no Rio mas também seja
são-paulino em São Paulo e gremista no Sul. No caso, trata-se
quase de uma fidelidade ao princípio tricolor.
E, curiosamente, há muitos que
realmente buscam amantes parecidos com os cônjuges. Há o que é
Flamengo e Corinthians porque
os dois são populares, há os que
são Botafogo e Santos porque são
times de sucesso na década de 60,
e há os que torcem pelos Américas, sejam do Rio, de Minas ou do
Rio Grande do Norte.
O problema das equipes-amantes é que um dia elas vão se encontrar. É inevitável. E aí, caro infiel, não tem jeito. Você vai ter
que escolher. E, qualquer que seja
a sua escolha, você ficará com um
gosto de derrota na boca.
Santos em São Paulo
Neste sábado estive no chuvoso
Pacaembu, atchim!, para ver
Santos x Juventus. O estádio
cheio, com mais de 34 mil pessoas, não deixa dúvida: o Santos tem que jogar em São Paulo
mais vezes. É uma questão de
marketing e de justiça.
Museu da Língua
Já no domingo, fui espirrar, digo, visitar, o Museu da Língua
Portuguesa. Pensei que veria algo chato, como um jogo entre
dois times que só tivessem zagueiros. Estava enganado. E
muito. Se fosse futebol, o museu seria um clássico emocionante, daqueles de assistir de
pé. O lugar é divertido, belo e
inteligente. Visita obrigatória.
E, entre as atrações, que não
conto para não estragar as surpresas, há um bom documentário sobre futebol e palavras.
E-mail torero@uol.com.br
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