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XICO SÁ
Corintiano, maloqueiro... sofredor?
A situação do Corinthians é tão trágica que tem tirado da torcida mais passional o direito de sofrer no torneio
AMIGO TORCEDOR , amigo secador, o mais trágico na situação do Corinthians é que o time está tirando dos seus enlouquecidos fiéis, como me sopram Mato
Grosso e Joca, gaviões da novíssima
maloca, uma coisa sagrada: o direito
a que haja pelo menos sofrimento
durante os campeonatos.
A mística de ser sofrido, mas estar
no jogo, mordendo de todo jeito os
calcanhares dos líderes, cutucando o
inimigo com a espada milagrosa de
Jorge. Ultimamente, o time figura
na zona cinzenta reservada, antecipadamente, aos medíocres. Nem
correu o perigo de cair, que estranhamente ilustra a vaidosa biografia
leonina, muito menos beliscou vaga
de retardatário na Libertadores.
O mesmo deve se repetir agora.
Não guarda para a torcida mais passional do planeta, aquela que prova a
todo jogo que o amor é mesmo cego,
nem o mínimo direito às palpitações
e pré-infartos de um mata-mata.
Há quanto tempo um corintiano
não tem o prazer de pôr um engradado na geladeira e reunir os amigos
em torno de uma celebrativa carne
na brasa? Assim se mede a alegria
dos homens de verdade.
"Pela volta do sofrimento de toda
uma vida, de toda uma história, do
suor que tingiu de preto até o branco
da camisa", diz Mato Grosso, poeta
bissexto aqui da Bela Vista.
Joca só faz trocadilho de quinta
categoria e tira a onda durante a peleja na Vila Belmiro: "Se esse é o
Amoroso, imaginem quando entrar
o Desgostoso", solta, quando o 10 do
Corinthians é expulso, após a maldade explícita que atinge o menino
do Santos e sangra, como num tango
argentino, o coração dos fiéis devotos do alvinegro de Itaquera.
Inevitável, de novo, por que no, cabrón?, lembrar de Tevez, que incorporava, como raros nos últimos
tempos, o grito de guerra que faz
acordar o mais incrédulo dos ateus
quando ecoa nos estádios e no fundão dos ônibus: "Corintiano, maloqueiro e sofredor, graças a Deus!".
Sim, o time, com nove, evitou a goleada, e o garoto Willian, que brilhou
solitário, tem o instinto de craque no
olho esquerdo, mas é tudo muito
pouco para quem estava acostumado a sonhar até o último minuto. Para quem gozava do sagrado direito
de ser sofrido, até para poder ser infinitamente mais gostoso.
Mil e uma noites
Dos gols de Romário, o mais bonito foi o do elástico em Amaral, no
Flamengo 3x0 Corinthians de 99.
Esse eu testemunhei, mas boa parte da torcida perdeu. Naquele hora
subia às arquibancadas do Pacaembu, metida num shortinho preto de
fazer corar a Luz del Fuego, uma
destemida catarinense de nome
Paula Schmitt, corintiana que estava na companhia dos secadores.
Ela merecia uma placa no estádio.
Ghost
A Fifa deve promover o Palmeiras a campeão mundial de vidas
passadas, com um título fantasma
de 1951. O Santos, fora reconhecido
como octocampeão brasileiro, mas
nem fez alarde. Se fosse contar esses troféus internacionais, tão importantes quanto o do Palestra, não
sobraria espaço na imaculada camisa branca para tanta estrela. A
ONU também deve ao Peixe a comenda como o único time do Universo que conseguiu cessar fogo de
guerras para vê-lo com Pelé.
Invicto é luxo
O Sport, com a espinha dorsal do
Peixe e Carlinhos Bala no papel do
forasteiro matador da Ilha, precisa
só de outro triunfo para sagrar-se
bi em PE. O time do técnico Gallo é
o único invicto do país e leva jeito
de que beliscará vaga na Libertadores. E não fale que torneio regional
não diz nada. Diz sim, quando o
clube faz a coisa certa. E isso que
tem ocorrido com o rubro-negro,
afiado como a orquestra Spokfrevo.
xico.folha@uol.com.br
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