São Paulo, sexta-feira, 30 de março de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

XICO SÁ

Corintiano, maloqueiro... sofredor?

A situação do Corinthians é tão trágica que tem tirado da torcida mais passional o direito de sofrer no torneio

AMIGO TORCEDOR , amigo secador, o mais trágico na situação do Corinthians é que o time está tirando dos seus enlouquecidos fiéis, como me sopram Mato Grosso e Joca, gaviões da novíssima maloca, uma coisa sagrada: o direito a que haja pelo menos sofrimento durante os campeonatos.
A mística de ser sofrido, mas estar no jogo, mordendo de todo jeito os calcanhares dos líderes, cutucando o inimigo com a espada milagrosa de Jorge. Ultimamente, o time figura na zona cinzenta reservada, antecipadamente, aos medíocres. Nem correu o perigo de cair, que estranhamente ilustra a vaidosa biografia leonina, muito menos beliscou vaga de retardatário na Libertadores. O mesmo deve se repetir agora.
Não guarda para a torcida mais passional do planeta, aquela que prova a todo jogo que o amor é mesmo cego, nem o mínimo direito às palpitações e pré-infartos de um mata-mata. Há quanto tempo um corintiano não tem o prazer de pôr um engradado na geladeira e reunir os amigos em torno de uma celebrativa carne na brasa? Assim se mede a alegria dos homens de verdade.
"Pela volta do sofrimento de toda uma vida, de toda uma história, do suor que tingiu de preto até o branco da camisa", diz Mato Grosso, poeta bissexto aqui da Bela Vista. Joca só faz trocadilho de quinta categoria e tira a onda durante a peleja na Vila Belmiro: "Se esse é o Amoroso, imaginem quando entrar o Desgostoso", solta, quando o 10 do Corinthians é expulso, após a maldade explícita que atinge o menino do Santos e sangra, como num tango argentino, o coração dos fiéis devotos do alvinegro de Itaquera.
Inevitável, de novo, por que no, cabrón?, lembrar de Tevez, que incorporava, como raros nos últimos tempos, o grito de guerra que faz acordar o mais incrédulo dos ateus quando ecoa nos estádios e no fundão dos ônibus: "Corintiano, maloqueiro e sofredor, graças a Deus!". Sim, o time, com nove, evitou a goleada, e o garoto Willian, que brilhou solitário, tem o instinto de craque no olho esquerdo, mas é tudo muito pouco para quem estava acostumado a sonhar até o último minuto. Para quem gozava do sagrado direito de ser sofrido, até para poder ser infinitamente mais gostoso.

Mil e uma noites
Dos gols de Romário, o mais bonito foi o do elástico em Amaral, no Flamengo 3x0 Corinthians de 99. Esse eu testemunhei, mas boa parte da torcida perdeu. Naquele hora subia às arquibancadas do Pacaembu, metida num shortinho preto de fazer corar a Luz del Fuego, uma destemida catarinense de nome Paula Schmitt, corintiana que estava na companhia dos secadores. Ela merecia uma placa no estádio.

Ghost
A Fifa deve promover o Palmeiras a campeão mundial de vidas passadas, com um título fantasma de 1951. O Santos, fora reconhecido como octocampeão brasileiro, mas nem fez alarde. Se fosse contar esses troféus internacionais, tão importantes quanto o do Palestra, não sobraria espaço na imaculada camisa branca para tanta estrela. A ONU também deve ao Peixe a comenda como o único time do Universo que conseguiu cessar fogo de guerras para vê-lo com Pelé.

Invicto é luxo
O Sport, com a espinha dorsal do Peixe e Carlinhos Bala no papel do forasteiro matador da Ilha, precisa só de outro triunfo para sagrar-se bi em PE. O time do técnico Gallo é o único invicto do país e leva jeito de que beliscará vaga na Libertadores. E não fale que torneio regional não diz nada. Diz sim, quando o clube faz a coisa certa. E isso que tem ocorrido com o rubro-negro, afiado como a orquestra Spokfrevo.

xico.folha@uol.com.br


Texto Anterior: Santos: Luxemburgo cobra melhorias no time
Próximo Texto: COB proíbe união de olímpicos a deficientes
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.