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FUTEBOL
Vitória melancólica
JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA
O São Paulo jogou ontem
uma ducha de água fria
sobre a até então irresistível ascensão corintiana. Frustrou o
sonho alvinegro de bater seu recorde de vitórias seguidas e derrubou o Timão do segundo para
o terceiro lugar no Paulistão.
Mais que isso: mostrou o calcanhar de Aquiles do Corinthians, em sua formação atual.
Com dois atacantes velozes
(Gil e Ewerthon) e dois grandes
lançadores (Marcelinho e Ricardinho), o time de Wanderley
Luxemburgo gosta de jogar no
contra-ataque, coisa que ontem
o tricolor não lhe proporcionou.
O Corinthians atacou muito e
ameaçou pouco. O São Paulo fez
o contrário: suas poucas pontadas foram mortais.
A superioridade tática do São
Paulo consistiu em recuar seu
meio-campo, e até o atacante
França (que funcionou quase
como um terceiro armador),
mantendo à frente apenas Luis
Fabiano.
Com isso, Carlos Miguel e
Souza -ambos numa tarde esplêndida- tinham espaço para
lançar os laterais ou usar França como pivô na intermediária
corintiana.
Como resultado, o São Paulo
atacava aberto, ao contrário do
Corinthians, que afunilava suas
ações ofensivas, esbarrando numa bem postada zaga, policiada
com eficiência por Alexandre e
Simplício.
Com tudo isso, foi uma vitória
inútil e melancólica. Apesar dos
3 a 1, a torcida tricolor teve de
deixar o estádio ouvindo a Fiel
gritar: "E-li-mi-na-do". Triste
consolo, de ambas as partes.
Quem gostou do resultado foi
o Santos, que, além de ir à semifinal com vantagens contra o
Corinthians, pegará um adversário menos autoconfiante e
embalado.
Pela primeira vez na história
do futebol, o Brasil corre o risco
real de ficar fora de uma Copa.
A renovação "semi-radical"
de Leão saiu pela culatra. Se a
idéia era fazer média com a torcida e com a imprensa, fracassou. Se a intenção era dar uma
chacoalhada nos astros "estrangeiros", obrigando-os a aumentar seu empenho quando voltassem, fracassou igualmente.
A situação do treinador é crítica. Se chamar de volta os "estrangeiros", corre o risco de ser
olhado por eles de cima para
baixo, como se dissessem: "Viu
como você está na nossa mão?".
Se insistir com o time que teve
atuação pífia contra o Peru, dificilmente vai obter bons resultados. Além do mais, esses "novos" jogadores também se queimaram junto à torcida.
Para piorar as coisas, alguns
atletas que poderiam ter um papel chave no time, como Ronaldo, Juninho Pernambucano e
Ronaldinho Gaúcho, estão fora
de jogo.
O que fazer? Chamar outra leva de estreantes? Fazer uma
mistura? Mudar o esquema?
Chamar um pai-de-santo?
Levando em conta que o tempo é curto e os próximos jogos
serão difíceis, parece-me que o
mais acertado é voltar à base
antiga, chamando os comprovadamente melhores (Cafu, Rivaldo, Vampeta, Alex), brigar
por mais tempo para treinar e
buscar uma nova dinâmica para a equipe.
Quanto melhor a qualidade
dos jogadores, mais se pode esperar em termos de variação tática e de criação de jogadas que
surpreendam os adversários.
Não digo que seja fácil, mas não
vejo outro remédio.
Contra a lambança
Agora que o Paulistão entra na sua reta final, com os confrontos
Santos x Corinthians e Ponte Preta x Botafogo, comenta-se a
perspectiva de um "acordão" entre os semifinalistas. Fala-se em
zerar os cartões amarelos e em permitir a inscrição de novos
atletas pelos clubes. Sou absolutamente contra, por uma questão de princípio. Não se mudam as regras de uma competição
depois que ela já começou, sob pena de desmoralizá-la.
Chance de revanche
Se Corinthians e Ponte vencerem seus adversários, o time de
Campinas terá a chance de vingar duas finais históricas: a de
1977 e a de 1979. A decisão de 77 está entalada na garganta da
Macaca, que sustenta ter havido armação para a vitória corintiana. Para quem não se lembra, o craque da Ponte Rui Rei, expulso logo no início do jogo decisivo, foi em seguida contratado
pelo Timão.
E-mail jgcouto@uol.com.br
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