São Paulo, segunda-feira, 30 de abril de 2001

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FUTEBOL

Vitória melancólica

JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA

O São Paulo jogou ontem uma ducha de água fria sobre a até então irresistível ascensão corintiana. Frustrou o sonho alvinegro de bater seu recorde de vitórias seguidas e derrubou o Timão do segundo para o terceiro lugar no Paulistão.
Mais que isso: mostrou o calcanhar de Aquiles do Corinthians, em sua formação atual.
Com dois atacantes velozes (Gil e Ewerthon) e dois grandes lançadores (Marcelinho e Ricardinho), o time de Wanderley Luxemburgo gosta de jogar no contra-ataque, coisa que ontem o tricolor não lhe proporcionou.
O Corinthians atacou muito e ameaçou pouco. O São Paulo fez o contrário: suas poucas pontadas foram mortais.
A superioridade tática do São Paulo consistiu em recuar seu meio-campo, e até o atacante França (que funcionou quase como um terceiro armador), mantendo à frente apenas Luis Fabiano.
Com isso, Carlos Miguel e Souza -ambos numa tarde esplêndida- tinham espaço para lançar os laterais ou usar França como pivô na intermediária corintiana.
Como resultado, o São Paulo atacava aberto, ao contrário do Corinthians, que afunilava suas ações ofensivas, esbarrando numa bem postada zaga, policiada com eficiência por Alexandre e Simplício.
Com tudo isso, foi uma vitória inútil e melancólica. Apesar dos 3 a 1, a torcida tricolor teve de deixar o estádio ouvindo a Fiel gritar: "E-li-mi-na-do". Triste consolo, de ambas as partes.
Quem gostou do resultado foi o Santos, que, além de ir à semifinal com vantagens contra o Corinthians, pegará um adversário menos autoconfiante e embalado.
Pela primeira vez na história do futebol, o Brasil corre o risco real de ficar fora de uma Copa.
A renovação "semi-radical" de Leão saiu pela culatra. Se a idéia era fazer média com a torcida e com a imprensa, fracassou. Se a intenção era dar uma chacoalhada nos astros "estrangeiros", obrigando-os a aumentar seu empenho quando voltassem, fracassou igualmente.
A situação do treinador é crítica. Se chamar de volta os "estrangeiros", corre o risco de ser olhado por eles de cima para baixo, como se dissessem: "Viu como você está na nossa mão?".
Se insistir com o time que teve atuação pífia contra o Peru, dificilmente vai obter bons resultados. Além do mais, esses "novos" jogadores também se queimaram junto à torcida.
Para piorar as coisas, alguns atletas que poderiam ter um papel chave no time, como Ronaldo, Juninho Pernambucano e Ronaldinho Gaúcho, estão fora de jogo.
O que fazer? Chamar outra leva de estreantes? Fazer uma mistura? Mudar o esquema? Chamar um pai-de-santo?
Levando em conta que o tempo é curto e os próximos jogos serão difíceis, parece-me que o mais acertado é voltar à base antiga, chamando os comprovadamente melhores (Cafu, Rivaldo, Vampeta, Alex), brigar por mais tempo para treinar e buscar uma nova dinâmica para a equipe.
Quanto melhor a qualidade dos jogadores, mais se pode esperar em termos de variação tática e de criação de jogadas que surpreendam os adversários. Não digo que seja fácil, mas não vejo outro remédio.

Contra a lambança
Agora que o Paulistão entra na sua reta final, com os confrontos Santos x Corinthians e Ponte Preta x Botafogo, comenta-se a perspectiva de um "acordão" entre os semifinalistas. Fala-se em zerar os cartões amarelos e em permitir a inscrição de novos atletas pelos clubes. Sou absolutamente contra, por uma questão de princípio. Não se mudam as regras de uma competição depois que ela já começou, sob pena de desmoralizá-la.

Chance de revanche
Se Corinthians e Ponte vencerem seus adversários, o time de Campinas terá a chance de vingar duas finais históricas: a de 1977 e a de 1979. A decisão de 77 está entalada na garganta da Macaca, que sustenta ter havido armação para a vitória corintiana. Para quem não se lembra, o craque da Ponte Rui Rei, expulso logo no início do jogo decisivo, foi em seguida contratado pelo Timão.

E-mail jgcouto@uol.com.br



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