São Paulo, domingo, 30 de abril de 2006

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COPA 2006

Brasil ganha menos da metade de ingressos destinados a patrocinadores como Coca Cola, McDonald's e Gillette

Patrocinadores recebem mais ingressos

MARIANA BASTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Brasileiros espalhados pelo mundo inteiro devem estar se perguntando: onde foram parar os ingressos da Copa?
A resposta está na distribuição feita pela Fifa, que privilegia patrocinadores. Empresas como Coca-Cola, Mastercard e McDonald's foram agraciadas com um de cada seis ingressos, 490 mil, no total. Cada um dos 15 patrocinadores da Copa recebeu mais de 25 mil ingressos. As demais entradas foram compartilhados por outras seis empresas alemães.
Por outro lado, cada uma das confederações das 32 seleções participantes recebeu 8% dos ingressos de cada jogo. Para o Brasil, por exemplo, a Fifa enviou cerca de 12 mil ingressos, pouco menos do que a metade das entradas recebidos pelas grandes corporações que sustentam a Copa.
Após as primeiras quatro fases de venda pela internet, o presidente do comitê organizador de 2006, Franz Beckenbauer, admitiu que o excesso de demanda é um grande problema. "É preciso que haja um número de lugares distribuídos adequadamente para atender à procura", afirmou.
Até mesmo brasileiros que moram na Alemanha encontram muitas dificuldades para comprar entradas para os jogos do time em Berlim, Munique e Dortmund.
"Eu faço parte da equipe da Fifa e não consegui [um ingresso]. Está muito difícil de comprar. Nenhuma das pessoas que eu conheço aqui em Colônia, e são muitas, conseguiram", disse a brasileira Andréa Schilz, que trabalhará para a Fifa recepcionando estrangeiros no aeroporto de Colônia durante a Copa.
Na opinião de Matthias Bettag, porta-voz da BAFF (Federação de Torcedores Ativistas Alemães, em alemão), a escassez de ingressos, até mesmo no país-sede, se relaciona com o fato de que a cultura de torcida está sendo suplantada por outras necessidades.
"Futebol tem se tornado um suporte para fazer grandes negócios. Patrocinadores fazem promoções com seus ingressos para vender mais seus produtos". afirma Bettag. E é de fato isso que vem acontecendo não somente na Alemanha, como também no Brasil. Muitos patrocinadores alegam que grande parte dos ingressos que recebem acabam nas mãos dos torcedores de qualquer forma, através de promoções.
Revoltados com o sistema de partilha injusto, grupos de torcedores de 12 países organizaram uma campanha por mais ingressos na Copa 2006 pela internet. Esperam conseguir um milhão de assinaturas na petição que fazem circular pelo site www.football supportersinternational.com. Muitos brasileiros já aderiram.
Além dos ingressos que sobram na mão dos patrocinadores, outro ponto que tem incomodado estes torcedores são os 11% destinados ao público VIP.
Para assistir a um jogo da seleção contra o Japão em Dortmund, por exemplo, o preço de um lugar em espaço reservado com atendimento especial chega a custar 21,6 mil (cerca de R$ 57 mil).
"O marketing das empresas não compreende os torcedores comuns. Os estádios foram otimizados visando o público VIP e os negociadores." analisou Bettag.
Algumas declarações do presidente da Fifa, Josepp Blatter, indicam que na Copa da África do Sul em 2010 o sistema mudará. Entretanto, a regra de que apenas 8% dos ingressos são destinados às seleções se mantém desde 98 na França. "Resta saber se o slogan mudará de "tempo de fazer amigos" para "tempo de fazer parceiros nos negócios'", brinca Bettag.


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