São Paulo, domingo, 30 de maio de 2004

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FUTEBOL

Planejamento e acaso

TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA

Aos poucos, devido ao planejamento e ao acaso, a seleção brasileira está melhorando e se renovando.
As três últimas partidas, principalmente contra a França, foram importantes para aumentar a confiança, dar tranqüilidade e fazer alguns ajustes técnicos.
As mudanças estão acontecendo, para melhor. Logo após a Copa da Coréia/Japão, as únicas alterações foram a entrada, no gol, do Dida no lugar do Marcos e a troca de um zagueiro-volante (Edmilson) pelo Zé Roberto.
Edmilson jogou no Mundial de 2002 mais de volante do que de zagueiro. Gosto mais da formação atual, com uma linha de quatro defensores.
Depois, Rivaldo ficou sem jogar, e entrou Kaká. Gilberto Silva e Kléberson se contundiram, pioraram e perderam a posição. Juninho Pernambucano não era nem convocado. Parreira achava que ele era um meia ofensivo, sem condições de atuar de volante. Mas como Emerson e Renato não agradaram e Juninho brilhava atuando de volante, na França, o técnico resolveu experimentá-lo. Ainda bem.
Edmilson entrou no lugar do Gilberto Silva. Ele está jogando bem, mas ainda é cedo para dizer que deva ser o titular.
Júlio Baptista repetiu na seleção as suas ótimas atuações no Sevilla. Parreira está entusiasmado com o jogador. Júlio Baptista é o reserva do Juninho e pode substituir o Zé Roberto. Não será surpresa também se ele se tornar a primeira opção para os lugares do Kaká e do Ronaldinho Gaúcho. Júlio Baptista joga nessa posição no futebol espanhol. Porém seria um erro, para essa função, preferi-lo ao Alex.
Com a mudança de posição do Edmilson, sobrou uma vaga para o Luisão, que poderá ser o titular. Mudei de opinião sobre o Edu Dracena e o Alex, do Santos. Parreira tinha razão. Os dois ainda não merecem ser convocados.
Nos últimos três jogos, a principal evolução foi a presença do Juninho, que ataca e defende bem. Falta o Zé Roberto fazer o mesmo pela esquerda. Ele tem mobilidade e habilidade para isso. Os zagueiros e volantes passaram também a marcar mais na frente e se aproximaram dos três do ataque. O time ficou mais compacto.
Apesar do Parreira dizer que Kaká é agora o meia de ligação e que Ronaldinho Gaúcho é atacante, não houve nenhuma mudança no desenho tático. Na prática, os dois se alternam na armação e na finalização.
A equipe está se renovando, com segurança, e não pode parar. Parreira mostra que a seleção precisa mais de um técnico equilibrado, prudente e com bons conhecimentos técnicos do que de um treinador inovador, com grande saber tático, mas afoito, confuso e facilmente influenciável pelas críticas.
Porém precisamos continuar cobrando, criticando, elogiando e sugerindo, sem formar patotas.
Muitas coisas ainda vão acontecer até a Copa da Alemanha, em 2006. O planejamento é essencial em qualquer atividade, mas são os fatos novos e o acaso os principais responsáveis pelas grandes mudanças. Não se pode controlar o futuro.

Faltas e violência
Eu pensava que os árbitros brasileiros estivessem no mesmo nível dos europeus. Após assistir a tantos jogos, aqui e lá, durante anos, mudei de opinião.
Os erros na marcação de impedimento são os mesmos. A diferença está nas faltas e na punição aos infratores. Os árbitros brasileiros marcam faltas demais. O defensor toca na bola, o atacante cai, e o árbitro apita. Por outro lado, os juízes brasileiros são muito complacentes com a violência.
As partidas no Brasil deveriam ter menos faltas, e mais expulsões e suspensões, até os atletas pararem de se agredirem.

Venda de ingressos
Foi absurdo o esquema de venda de ingressos para o jogo entre Brasil e Argentina. A comercialização é feita por uma empresa particular, contratada pela CBF.
Milhares de pessoas ficaram dois dias nas filas, e a maioria não conseguiu comprar os ingressos. Houve tumultos, e muitos se machucaram. Enquanto isso, grande número de bilhetes era reservado para empresas, políticos, clubes e amigos do poder. Na internet, os poucos ingressos se esgotaram em algumas horas. Isso sem falar no imenso número de convidados do governo.
É sempre assim. O Brasil continua sendo o país do futuro, que nunca chega.

E-mail
tostao.folha@uol.com.br


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