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Palestra Itália x Palestra Itália
JOSÉ ROBERTO TORERO
da Equipe de Articulistas
Em 1937, Jorge Amado lançou "Capitães de Areia", nasceu Sadam Hussein, Picasso
pintou Guernica, explodiu o
dirigível Hindenburg, Disney
fez Branca de Neve e os Sete
Anões e Mussolini oficializou
o pacto com Hitler. Mas, para
alguns fanáticos italianos que
moravam no Brasil, o fato
mais importante daquele ano
de 1937 aconteceu numa tarde
de maio, quando jogaram pela
primeira vez na história o Palestra Itália de São Paulo e o
Palestra Itália de Belo Horizonte. Ao final da contenda, o
Palestra paulistano, de Jurandir, Carnera, Del Nero, Tunga,
Moacir e Imparato, venceu fácil por 5 a 1.
Cinco anos depois, por causa
da Segunda Guerra Mundial,
os dois Palestras foram rebatizados com os nomes de Palmeiras e Cruzeiro.
Os nomes mudaram, a rivalidade não, embora a supremacia do alviverde paulistano
fosse total no início.
Na década de 60, as coisas
começaram a mudar. O Palmeiras tinha, é verdade, a
grande academia de Valdir,
Djalma Santos, Dudu, Ademir
da Guia e Servílio, mas o Cruzeiro não ficava atrás com o
lendário esquadrão de Raul,
Piazza, Zé Carlos, Dirceu Lopes e Tostão. Daí para a frente,
só equilíbrio.
Equilíbrio que se repetiu na
partida de terça-feira.
Partida jogada dentro da
previsibilidade: pressão e
maior volume de jogo do Cruzeiro; futebol defensivo do Palmeiras. Deu Cruzeiro, um a zero, em boa parte graças a Velloso. A vantagem agora é tida
do time mineiro.
Ao Palmeiras resta superar o
grande drama da era Scolari.
O time é forte, tem boa pegada
e jogadores talentosos, mas sofre quando tem que jogar de
maneira criativa, para a frente, buscando o gol e comprimindo o adversário.
Números? Nos 30 primeiros
jogos do ano passado, ainda
sob o comando de Márcio
Araújo, o ataque alviverde tinha anotado 79 gols. Nesse
ano, já no estilo pragmático de
Felipão, 55.
Foi assim na final do Campeonato Brasileiro contra o
Vasco, quando, tendo que atacar, o Palmeiras não conseguiu uma saída de bola rápida
e uma presença ofensiva compactada. Parece que o time
chegava à frente pensando em
voltar, com medo de abrir espaços para os contragolpes inimigos. Resultado? Muito toque
de bola e poucas chances reais
de gol.
E o Cruzeiro de hoje tem
muito do Vasco de 97. É disciplinado, fecha bem a entrada
da área, além de possuir uma
arrancada veloz e perigosa nos
pés de Bentinho e Marcelo.
O Palmeiras terá que jogar
numa esquizofrênica mistura
de cautela e ousadia. A defesa
deverá ficar atenta, tentando
evitar um gol cruzeirense que
complicaria tudo. Já o ataque
não tem outra opção a não ser
partir para cima. Será também
um duelo entre dois ótimos
técnicos, o pragmático Felipão
e um surpreendente Levir Culpi, que monta ótimas equipes
desde os tempos de Criciúma.
O certo é que o placar desta
tarde de maio não vai repetir
os números do daquela outra
tarde de maio de 1937, no primeiro duelo dos palestras. Hoje em dia, tempo de recessão de
gols, dois a zero já será uma
goleada. E, dessa vez, o jogo
não vai terminar em pizza.
José Roberto Torero escreve às terças e sábados
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