São Paulo, sábado, 30 de maio de 1998

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Palestra Itália x Palestra Itália

JOSÉ ROBERTO TORERO
da Equipe de Articulistas

Em 1937, Jorge Amado lançou "Capitães de Areia", nasceu Sadam Hussein, Picasso pintou Guernica, explodiu o dirigível Hindenburg, Disney fez Branca de Neve e os Sete Anões e Mussolini oficializou o pacto com Hitler. Mas, para alguns fanáticos italianos que moravam no Brasil, o fato mais importante daquele ano de 1937 aconteceu numa tarde de maio, quando jogaram pela primeira vez na história o Palestra Itália de São Paulo e o Palestra Itália de Belo Horizonte. Ao final da contenda, o Palestra paulistano, de Jurandir, Carnera, Del Nero, Tunga, Moacir e Imparato, venceu fácil por 5 a 1.
Cinco anos depois, por causa da Segunda Guerra Mundial, os dois Palestras foram rebatizados com os nomes de Palmeiras e Cruzeiro.
Os nomes mudaram, a rivalidade não, embora a supremacia do alviverde paulistano fosse total no início.
Na década de 60, as coisas começaram a mudar. O Palmeiras tinha, é verdade, a grande academia de Valdir, Djalma Santos, Dudu, Ademir da Guia e Servílio, mas o Cruzeiro não ficava atrás com o lendário esquadrão de Raul, Piazza, Zé Carlos, Dirceu Lopes e Tostão. Daí para a frente, só equilíbrio.
Equilíbrio que se repetiu na partida de terça-feira.
Partida jogada dentro da previsibilidade: pressão e maior volume de jogo do Cruzeiro; futebol defensivo do Palmeiras. Deu Cruzeiro, um a zero, em boa parte graças a Velloso. A vantagem agora é tida do time mineiro.
Ao Palmeiras resta superar o grande drama da era Scolari. O time é forte, tem boa pegada e jogadores talentosos, mas sofre quando tem que jogar de maneira criativa, para a frente, buscando o gol e comprimindo o adversário.
Números? Nos 30 primeiros jogos do ano passado, ainda sob o comando de Márcio Araújo, o ataque alviverde tinha anotado 79 gols. Nesse ano, já no estilo pragmático de Felipão, 55.
Foi assim na final do Campeonato Brasileiro contra o Vasco, quando, tendo que atacar, o Palmeiras não conseguiu uma saída de bola rápida e uma presença ofensiva compactada. Parece que o time chegava à frente pensando em voltar, com medo de abrir espaços para os contragolpes inimigos. Resultado? Muito toque de bola e poucas chances reais de gol.
E o Cruzeiro de hoje tem muito do Vasco de 97. É disciplinado, fecha bem a entrada da área, além de possuir uma arrancada veloz e perigosa nos pés de Bentinho e Marcelo.
O Palmeiras terá que jogar numa esquizofrênica mistura de cautela e ousadia. A defesa deverá ficar atenta, tentando evitar um gol cruzeirense que complicaria tudo. Já o ataque não tem outra opção a não ser partir para cima. Será também um duelo entre dois ótimos técnicos, o pragmático Felipão e um surpreendente Levir Culpi, que monta ótimas equipes desde os tempos de Criciúma.
O certo é que o placar desta tarde de maio não vai repetir os números do daquela outra tarde de maio de 1937, no primeiro duelo dos palestras. Hoje em dia, tempo de recessão de gols, dois a zero já será uma goleada. E, dessa vez, o jogo não vai terminar em pizza.


José Roberto Torero escreve às terças e sábados



Texto Anterior | Próximo Texto | Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.