São Paulo, domingo, 30 de maio de 1999

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TOSTÃO
Os Estaduais

As empresas que estão chegando no futebol terão de aprender que vale a pena pagar alguns prejuízos, para manter viva a paixão Eu era totalmente contra os campeonatos regionais, mas vi, com o tempo, que o assunto é complexo e merece discussão e reflexão mais profundas.
De um lado, olhando com a razão, vejo essas disputas locais como um jogo de interesses entre a Confederação Brasileira de Futebol, as federações estaduais, os políticos e os clubes.
Os presidentes das federações se elegem com os votos dos clubes, principalmente os do interior, e com o apoio da CBF. Em compensação, retribuem esses votos com outros favores. É o fisiologismo característico da sociedade brasileira.
Os políticos aproveitam o futebol regional para ganhar votos e agradar a suas bases no interior. Quando os grandes clubes jogam em sua cidade, eles estão lá, pescando votos. Os clubes, em troca de apoio, exigem dos políticos o compromisso de continuar participando desses campeonatos.
Os grandes clubes da capital pagam o prejuízo dos campeonatos regionais, sustentando os pequenos clubes do interior, por causa de interesses políticos (muitos presidentes se tornam candidatos).
Alguns jornalistas dão seu apoio, em troca de empregos públicos, de favores, ou porque gostam de ser serviçais, amigos dos dirigentes e dos políticos.
Por outro lado, olhando com a paixão, vejo os clássicos regionais como símbolo da história, da cultura e da tradição do futebol. Foi por meio deles que todos nós aprendemos a conhecer e a amar o esporte.
As pequenas equipes do interior sobrevivem formando jogadores para ser vendidos aos da capital. Sem esses estímulos, eles vão desaparecer.
Os clássicos regionais, quando valem pontos decisivos, enchem os estádios, para a alegria dos torcedores.
Ao lado do fenômeno da globalização, corre, paralelo, o efeito contrário: as pessoas, cada vez mais, querem saber, principalmente, o que aconteceu em seu estado, em sua cidade, em seu bairro e em sua rua. Estão proliferando os canais de TVs dessas pequenas comunidades, em todo o mundo.
Além disso, as empresas que estão chegando no futebol terão de aprender que vale a pena, no esporte, pagar alguns prejuízos, para manter viva a paixão. O prejuízo acaba se tornando um investimento.
Portanto, existem diferentes argumentos. Na minha opinião, os campeonatos estaduais deveriam ser mantidos, em pequenos espaços, de um período de no máximo um mês, com os grandes clubes da capital participando somente das fases finais.
Dessa maneira, o Campeonato Nacional poderia ser mais longo, terminariam esses absurdos jogos de sexta-feira, e as pré-temporadas e as férias dos atletas seriam respeitadas.

A volta do Animal

Edmundo voltou feliz para sua casa e hoje enfrenta o Botafogo no clássico do Estadual do Rio.
A bela cidade de Florença, com suas ruelas, sua história, sua cultura, era muito antiga e velha e não lhe atraía. Seu mundo é outro.
O time do Vasco fica muito melhor com sua presença. Sua ausência foi tão marcante que o clube pagou uma quantia muito superior à que recebeu por sua venda.
Com Donizete a seu lado, o ataque vascaíno fica mais rápido e habilidoso -ideal para se jogar no contra-ataque. Com Guilherme, o time tem um jogador mais fixo, de conclusão -ideal para se jogar pressionando a equipe adversária.
A grande qualidade do Edmundo são suas arrancadas pelos lados, driblando em velocidade, em direção ao gol, ou para a linha de fundo, servindo aos companheiros.
No entanto, ele gosta de recuar ao meio-campo, para dominar a bola e depois partir, com dribles curtos, em direção ao gol. Raramente consegue, perdendo a bola para tantas pernas de adversários a sua frente.
Edmundo não é um jogador de ligação do meio-campo com o ataque, mas um atacante. Ele não é o arco, e sim a flecha. Nunca conseguirá ser as duas coisas ao mesmo tempo, como foram Zico, Sócrates, como é atualmente Rivaldo e outros grandes craques.
Antônio Lopes sabe disso. No melhor momento do Vasco, o técnico recuou Evair e deixou Edmundo na frente, para receber os passes em profundidade. Nem Donizete nem Guilherme têm as mesmas características do atual jogador do Palmeiras.
O treinador terá de criar outras opções, desde que não coloque o animal recuado. A fera, com sua agressividade, tem que jogar livre, na frente, atacando o adversário.


Quando eu era menino, a grande rivalidade mineira -clássico das multidões- era entre o América e o Atlético. Depois, o Cruzeiro conquistou o lugar do América. Hoje, o Galo, renascido pela vitória sobre o Vila Nova (5 a 1) e pelos novos projetos do clube, enfrenta o América, equipe que tem a melhor média de aproveitamento de pontos no Campeonato Mineiro.
A Lusa treinou toda a semana, esperando o cansado Palmeiras no clássico paulista de hoje. Zagallo, com razão, fez uma tremenda guerra psicológica para que seu time não seja novamente prejudicado pelos árbitros. Na dúvida, inconscientemente, sem perceber, eles favorecem os clubes de maior prestígio.
Taffarel, com classe e educação, despediu-se da seleção brasileira, por cima, recusando sua convocação. Wanderley Luxemburgo estava pensando nele não somente para esses amistosos, mas também para a Copa América e para a próxima Copa do Mundo.
O time inglês Manchester United ganhou a Copa dos Campeões da Europa, vencendo na decisão o Bayern de Munique, fazendo os dois gols nos últimos minutos -o que é característica do futebol alemão. Ficou mais interessante ver a provável final do Mundial interclubes, contra o Palmeiras, já que o estilo do Bayern é muito semelhante ao do time paulista.


Tostão escreve aos domingos e às quartas-feiras


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