São Paulo, domingo, 30 de maio de 1999

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F-1
Mecânicos têm incumbência especial de esconder o propulsor da Stewart; equipe é a que mais evoluiu desde 98
Minimotor é o segredo de Barrichello

FÁBIO SEIXAS
enviado especial a Barcelona

Nos últimos três meses, os mecânicos da Stewart vêm tendo uma incumbência especial, além de prepararem os carros do brasileiro Rubens Barrichello e do inglês Johnny Herbert: esconder dos fotógrafos e das câmeras de TV o "minimotor" que a Ford desenvolveu para o time em 99.
Sempre que alguém chega para observar os boxes, eles são rápidos. Formam uma barreira em frente às lentes e cobrem a traseira do carro com um pano preto.
O motivo do sigilo é simples. Além da norte-americana Ford, apenas a alemã Mercedes-Benz hoje dispõe de propulsores compactos, a maior inovação da F-1 nesta temporada. E a curiosidade aumenta a cada prova.
Não por acaso, a McLaren, que usa os Mercedes, tem os melhores carros da categoria em 99. E a Stewart, time que mais evoluiu desde o ano passado, é considerada a grande surpresa da temporada.
Hoje, em Barcelona, na quinta etapa do Mundial, o GP da Espanha, os minimotores terão sua primeira prova de fogo do ano. A prova começa às 9h, com TV.
A pista catalã, com 4,728 km, é a primeira do ano de característica rápida. Ou seja, pela primeira vez, os motores serão exigidos ao limite, principalmente na reta dos boxes, a maior da F-1, com 1 km.
"Começamos a pensar no motor deste ano em março do ano passado, logo que começou o Mundial", disse à Folha o suíço Mario Illen, diretor da Ilmor, empresa que projeta e constrói os motores Mercedes da McLaren.
Segundo ele, o FO 110 H é uma evolução dos propulsores dos anos anteriores. "Ano após ano, os motores estão mais leves. E não sei onde isso vai parar", disse. "Temos que continuar evoluindo. Talvez, os passos sejam menores, mas temos que seguir nessa linha."
A principal vantagem dos minimotores, para Illen, é dar mais liberdade para os projetistas na construção do chassi, já que ele abre espaços no carro.
Ou seja, são maiores as chances de o carro ser melhor do que os rivais também na aerodinâmica.
Para o engenheiro brasileiro José Avallone Neto, que trabalhou entre 94 e 98 na Jordan, os motores compactos também tornam o carro mais equilibrado.
De acordo com ele, como esses motores são mais baixos, diminuem as transferências de peso em uma curva, por exemplo.
"Imagine um carro esporte, baixinho, rente ao solo. Ele faz uma curva melhor do que um ônibus, porque há menos transferência de peso de um lado para outro. É o mesmo caso com o motor, preso ao chassi do carro", afirma Avallone, hoje dono da Petrobrás Avallone Motorsport, equipe que disputa o Sul-Americano de F-3.
Enquanto a maior parte dos propulsores da F-1 pesa entre 120 kg e 130 kg, os compactos chegam a 100 kg. E há comentários de que são mais leves ainda -cerca de 95 kg.
A explicação para isso seria a utilização de metais "exóticos", como o berílio, o titânio e o magnésio, proibidos pelas regras da categoria. Logicamente, ninguém admite o uso desse materiais.
Para Illen, a maior desvantagem dos minimotores, a baixa resistência, já foi superada.
"Quando chegamos à McLaren (em 95), enfrentamos muitas quebras, justamente porque já estávamos buscando motores cada vez menores. Aprendemos com aquilo e hoje superamos esse problema."
O diretor da Ilmor acredita que a maioria das fábricas seguirá os passos da Mercedes e da Ford nos próximos anos. "Tenho certeza disso. É uma tendência, um caminho natural", afirma.
²
Ferrari Nesta semana, a equipe do líder do Mundial, o alemão Michael Schumacher, anunciou que trará um pacote de inovações em seu propulsor a partir do GP da Inglaterra, em julho. Nos bastidores da F-1, muitos acreditam que será a primeira versão de um minimotor do time italiano.
Até lá, talvez o sigilo de Mercedes e Ford tenham sido quebrados. E os mecânicos da Stewart já não estarão mais escondendo seu motor.



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