São Paulo, sexta-feira, 30 de junho de 2006

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Torcida apática provoca protesto e compreensão

Jogadores enxergam motivos diferentes para o fato de fãs terem sido superados na garganta por rivais em estádios

Para Juninho e Juan, público é diferente do que torce por clubes, mas Gilberto Silva, irritado, diz que se espera um Brasil "de outro mundo"


DOS ENVIADOS A BERGISCH GLADBACH

Virou regra. Seja contra fanáticos operários croatas, abastados japoneses, australianos ou até diante de humildes africanos, a torcida brasileira na Copa da Alemanha murcha.
E os próprios jogadores do time já perceberam isso.
Numerosa -são pelo 10 mil a cada jogo - a torcida brasileira, com poucos gritos de incentivo, não contagia os atletas. E o time jogou nos maiores estádios, Dortmund, Berlim e Munique.
"Torcida de Copa do Mundo é totalmente diferente. Eles vêm mais para curtir, assistir à competição. São diferentes das organizadas dos clubes, que cantam o tempo todo", diz Juninho, que, ao contrário de boa parte dos colegas passou boa parte da sua carreira no Brasil.
O meia não sabe dizer se a torcida brasileira pouco agita por ser de classes sociais mais abastadas e pouco acostumada a gritar nas arquibancadas.
"O público da seleção é diferente do [torcedor de] clube. Os clubes têm a paixão do torcedor organizado. Na seleção, não é aquela coisa de incentivar o tempo todo. As pessoas vêm mais para o espetáculo do que para apoiar a seleção", faz coro Juan, formado no Flamengo, o mais popular do Brasil.
Para outros jogadores, o comportamento da torcida é indiferente ou até motivo de alguma irritação.
"Quando a gente entra dentro de campo, no aquecimento, no hino, a gente ainda tem noção do que a torcida fala. Na partida, eu particularmente não consigo analisar o que a torcida faz", diz o zagueiro Lúcio, mostrando a frieza que não é seguida por colegas.
"Os torcedores esperam do Brasil algo de outro mundo. Talvez por isso estejam agindo assim [sem festa, até com vaias]. De repente, se a gente jogasse bonito e perdesse, seria melhor. É difícil de entender como são colocadas algumas coisas", afirma Gilberto Silva, que atual no Arsenal da Inglaterra, país onde os fãs têm um comportamento mais quente.
Amanhã, em Frankfurt, próxima à fronteira com a França, os brasileiros não esperam reação diferente dos torcedores brasileiros. A maioria deles gastou mais de R$ 30 mil só com hospedagem, ingressos e passagens para irem à Alemanha.
"Eles [franceses] vão ter mais torcedores que o Brasil. Eles não são tão apaixonados como os alemães, mas também apóiam bastante", afirma Juninho, que atua no francês Lyon.
A seleção vai jogar em um estádio menor, mas com ótimas recordações na equipe. Foi no campo de Frankfurt que o time fez sua melhor exibição nos últimos quatro anos, na final da Copa das Confederações do ano passado, quando goleou a Argentina por 4 a 1. (EDUARDO ARRUDA, PAULO COBOS, RICARDO PERRONE E SÉRGIO RANGEL)

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