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Torcida apática provoca protesto e compreensão
Jogadores enxergam motivos diferentes para o fato de fãs
terem sido superados na garganta por rivais em estádios
Para Juninho e Juan, público é diferente do que torce por clubes, mas Gilberto Silva, irritado, diz que se espera um Brasil "de outro mundo"
DOS ENVIADOS A BERGISCH GLADBACH
Virou regra. Seja contra fanáticos operários croatas, abastados japoneses, australianos ou
até diante de humildes africanos, a torcida brasileira na Copa da Alemanha murcha.
E os próprios jogadores do time já perceberam isso.
Numerosa -são pelo 10 mil a
cada jogo - a torcida brasileira,
com poucos gritos de incentivo,
não contagia os atletas. E o time
jogou nos maiores estádios,
Dortmund, Berlim e Munique.
"Torcida de Copa do Mundo
é totalmente diferente. Eles
vêm mais para curtir, assistir à
competição. São diferentes das
organizadas dos clubes, que
cantam o tempo todo", diz Juninho, que, ao contrário de boa
parte dos colegas passou boa
parte da sua carreira no Brasil.
O meia não sabe dizer se a
torcida brasileira pouco agita
por ser de classes sociais mais
abastadas e pouco acostumada
a gritar nas arquibancadas.
"O público da seleção é diferente do [torcedor de] clube. Os
clubes têm a paixão do torcedor
organizado. Na seleção, não é
aquela coisa de incentivar o
tempo todo. As pessoas vêm
mais para o espetáculo do que
para apoiar a seleção", faz coro
Juan, formado no Flamengo, o
mais popular do Brasil.
Para outros jogadores, o
comportamento da torcida é
indiferente ou até motivo de alguma irritação.
"Quando a gente entra dentro de campo, no aquecimento,
no hino, a gente ainda tem noção do que a torcida fala. Na
partida, eu particularmente
não consigo analisar o que a
torcida faz", diz o zagueiro Lúcio, mostrando a frieza que não
é seguida por colegas.
"Os torcedores esperam do
Brasil algo de outro mundo.
Talvez por isso estejam agindo
assim [sem festa, até com
vaias]. De repente, se a gente jogasse bonito e perdesse, seria
melhor. É difícil de entender
como são colocadas algumas
coisas", afirma Gilberto Silva,
que atual no Arsenal da Inglaterra, país onde os fãs têm um
comportamento mais quente.
Amanhã, em Frankfurt, próxima à fronteira com a França,
os brasileiros não esperam reação diferente dos torcedores
brasileiros. A maioria deles gastou mais de R$ 30 mil só com
hospedagem, ingressos e passagens para irem à Alemanha.
"Eles [franceses] vão ter mais
torcedores que o Brasil. Eles
não são tão apaixonados como
os alemães, mas também
apóiam bastante", afirma Juninho, que atua no francês Lyon.
A seleção vai jogar em um estádio menor, mas com ótimas
recordações na equipe. Foi no
campo de Frankfurt que o time
fez sua melhor exibição nos últimos quatro anos, na final da
Copa das Confederações do
ano passado, quando goleou a
Argentina por 4 a 1.
(EDUARDO ARRUDA, PAULO COBOS, RICARDO PERRONE
E SÉRGIO RANGEL)
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