São Paulo, sexta-feira, 30 de junho de 2006

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Reservas de luxo movem times no duelo de Berlim

Suplentes ganham fachada de titulares na decisão de vaga para as semifinais

Enquanto Klinsmann elege sempre um atleta do banco para dar palestra, do outro lado Tevez e Messi atiçam rival para motivar colegas


DO ENVIADO A HERZOGENAURACH

Na teoria, eles são apenas suplentes, jogadores que não ocupam papel central nas seleções.
Na prática, os reservas de Alemanha e Argentina fazem muito mais do que assistir ao Mundial do banco. Valorizados em suas seleções por incendiarem partidas complicadas e desempenharem papéis cruciais fora de campo, eles travam um duelo à parte no clássico de hoje que abre as quartas-de-final da Copa do Mundo.
O caso mais inusitado ocorre com os anfitriões. No café da manhã que antecede cada jogo da "Mannschaft", Jürgen Klinsmann elege um reserva para dar uma palestra.
No começo, parecia ser mais uma idéia maluca de um treinador adepto de inovações. A tática, contudo, rendeu frutos.
Antes do jogo contra o Equador, o último da primeira fase, o zagueiro Nowotny acabou escolhido para falar. Sua idéia: elencar as qualidades de Lukas Podolski, atacante que até aquele momento não havia balançado as redes no torneio.
O polonês não só desencantou no duelo -fez um dos três gols- como voltou a marcar outras duas vezes, contra Suécia, já nas oitavas-de-final.
"Uma seleção não pode ter apenas 11 atletas motivados. Todos precisam estar com o mesmo espírito. Só assim se ganha uma Copa do Mundo", afirma o técnico alemão.
Esse valor que atribui aos suplentes o ajuda também nos momentos em que precisa alterar os rumos de um duelo.
Contra a Polônia, na segunda exibição de sua equipe, o 0 a 0 prevaleceu no marcador até os 45min da etapa final. Nos acréscimos, uma jogada feita só por atletas que saíram determinados do banco -passe de Odonkor, conclusão de Oliver Neuville- assegurou a classificação para a segunda fase e a euforia que afeta até hoje o comportamento da torcida.
Os oponentes das quartas-de-final também buscam ao máximo evitar uma divisão entre titulares e reservas.
Com jogadores do quilate de Lionel Messi e Carlos Tevez entre os que não costumam estar entre os 11 eleitos para iniciar os jogos, a Argentina procura criar uma divisão de status.
Exemplo: durante a semana, coube a Tevez e Messi a missão de, perante a imprensa, encerrar o período em que os sul-americanos ficaram calados para se lançarem de vez como favoritos a erguer a Taça Fifa.
Os dois atacantes esqueceram as declarações bem-comportadas e torpedearam os alemães. Questionaram o desempenho dos anfitriões e lançaram brincadeiras polêmicas, como dizer que arrancariam a cabeça ou o estômago do goleiro Jens Lehmann em caso de a decisão de uma das vagas às semifinais ocorrer nos pênaltis.
"Contarmos com um plantel de 23 jogadores unidos é uma de nossas maiores virtudes. Todos sabem o papel crucial que podem desempenhar nesta Copa", afirma José Pekerman.
O técnico também guarda boas recordações da atuação de seus suplentes. Tevez e Messi entraram em três dos quatro jogos disputados até o momento. Cada um marcou um gol.
Alguns alemães responderam às provocações sem muita diplomacia. O atacante Miroslav Klose, artilheiro da Copa até aqui (quatro gols), declarou que os rivais até jogam bem, mas "deram azar" de cruzar o caminho da seleção da casa.
O capitão Michael Ballack tem opiniões mais contidas. Declara não temer os argentinos, mas lembra que os confrontos entre as seleções no ano passado -empates por 2 a 2 em um amistoso, em Düsseldorf, e na Copa das Confederações, em Nuremberg- mostram que é preciso cautela. "Sabemos quem vamos enfrentar, só que perdemos a confiança. Para onde você olha, vê jogadores com vontade de vencer na Alemanha. Isso faz um time campeão."0 (GUILHERME ROSEGUINI)


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