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Soninha
A estética do acerto
Errar menos, correr menos riscos: o jogo bonito que tanto queremos no Brasil
JOGAR BONITO não é só
exibir a habilidade
mirabolante dos comerciais de chuteira.
É o jogo bem jogado, em
suas várias versões.
Muitas coisas nos enchem os olhos: dribles e
fintas, tabelas, lançamentos e inversões, desarmes,
cobranças de falta...
Feio é o time desorganizado; feio é passe errado,
meio-de-campo embolado (ou esgarçado), o jogo
sem nexo, sem proposta.
Horrível é perder a bola
toda hora.
Um time que adote postura defensiva e faça isso
bem pode ser bonito de
ver -se jogar lealmente,
tiver posicionamento perfeito e um belíssimo contra-ataque (afinal, não tomar gol é apenas metade
do objetivo).
Se outro prefere valorizar a posse de bola e o faz
com categoria, se roda a
bola com inteligência,
também tem sua beleza.
Se marca pressão e o aperto funciona, que ótimo!
Defender-se não é feio,
cadenciar ou jogar com velocidade também não. Ter
calma é bonito. E ter raça
também é.
Quem se impacienta
com a seleção brasileira de
2006 às vezes cita a de
1994. Mas o time tinha
uma proposta clara e era
muito organizado em torno dela -só era chato de
ver (até porque, como as
vitórias foram por muito
pouco, tínhamos pouco
prazer e muito sofrimento; a segurança de que nos
lembramos à distância
não era tão visível ali, durante o jogo...).
Nesta Copa do Mundo,
às vezes é difícil saber qual
é a idéia. Recuar e sair em
velocidade ou trabalhar
com calma no meio-campo, prender cada jogador a
uma função ou contar
com a inspiração e versatilidade de cada um -está
tudo lá, mas quase sempre
pela metade.
Não vejo os jogos com o
coração na boca (talvez até
tivesse motivos para isso;
toda hora os defensores se
destacam!), mas só tive
muitos momentos felizes
na partida contra o Japão.
Precisamos ser mais
consistentes; errar menos,
perder menos bolas no
meio-de-campo, dar menos chances ao adversário.
Em 1982, dois erros bastaram para nos tirar da Copa. Em 1994, ganhamos no
erro deles...
Jogar bonito é jogar
bem -uma ambição até
modesta para quem tem
os homens que temos.
soninha.folha@uol.com.br
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