São Paulo, sexta-feira, 30 de junho de 2006

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Soninha

A estética do acerto

Errar menos, correr menos riscos: o jogo bonito que tanto queremos no Brasil

JOGAR BONITO não é só exibir a habilidade mirabolante dos comerciais de chuteira. É o jogo bem jogado, em suas várias versões.
Muitas coisas nos enchem os olhos: dribles e fintas, tabelas, lançamentos e inversões, desarmes, cobranças de falta...
Feio é o time desorganizado; feio é passe errado, meio-de-campo embolado (ou esgarçado), o jogo sem nexo, sem proposta.
Horrível é perder a bola toda hora. Um time que adote postura defensiva e faça isso bem pode ser bonito de ver -se jogar lealmente, tiver posicionamento perfeito e um belíssimo contra-ataque (afinal, não tomar gol é apenas metade do objetivo).
Se outro prefere valorizar a posse de bola e o faz com categoria, se roda a bola com inteligência, também tem sua beleza.
Se marca pressão e o aperto funciona, que ótimo! Defender-se não é feio, cadenciar ou jogar com velocidade também não. Ter calma é bonito. E ter raça também é.
Quem se impacienta com a seleção brasileira de 2006 às vezes cita a de 1994. Mas o time tinha uma proposta clara e era muito organizado em torno dela -só era chato de ver (até porque, como as vitórias foram por muito pouco, tínhamos pouco prazer e muito sofrimento; a segurança de que nos lembramos à distância não era tão visível ali, durante o jogo...).
Nesta Copa do Mundo, às vezes é difícil saber qual é a idéia. Recuar e sair em velocidade ou trabalhar com calma no meio-campo, prender cada jogador a uma função ou contar com a inspiração e versatilidade de cada um -está tudo lá, mas quase sempre pela metade.
Não vejo os jogos com o coração na boca (talvez até tivesse motivos para isso; toda hora os defensores se destacam!), mas só tive muitos momentos felizes na partida contra o Japão.
Precisamos ser mais consistentes; errar menos, perder menos bolas no meio-de-campo, dar menos chances ao adversário.
Em 1982, dois erros bastaram para nos tirar da Copa. Em 1994, ganhamos no erro deles...
Jogar bonito é jogar bem -uma ambição até modesta para quem tem os homens que temos.


soninha.folha@uol.com.br

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