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pan 2003
Cuba reduz investimento e deixa alguns esportes, mas mantém viva rixa com EUA
Guerra fria sem cortes
Niurka Barroso - 14.jul.03/France Presse
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Diante da imagem de Che Guevara, atletas cubanos participam de cerimônia antes de viajar para o Pan-2003, em que o país deixará de competir em pelo menos sete modalidades por falta de verba |
EDUARDO OHATA
GUILHERME ROSEGUINI
JOÃO CARLOS ASSUMPÇÃO
ENVIADOS ESPECIAIS A SANTO DOMINGO
A Guerra Fria segue mais viva
do que nunca, pelo menos no
continente americano.
Com a manutenção do bloqueio
diplomático e comercial imposto
pelos EUA a Cuba, o Pan-Americano continua tendo um sabor especial para o país de Fidel, que vê
a chance de mostrar que, apesar
do embargo, os cubanos estão de
pé e seguem sendo uma pedra no
sapato norte-americano também
quando o assunto é esporte.
"É um momento especial, uma
satisfação a ser desfrutada por toda a nossa população", disse José
Ramón Fernández, presidente do
Comitê Olímpico Cubano. "Durante o Pan podemos mostrar que
somos um povo humilde, mas orgulhoso. Defendemos a bandeira
de Cuba com honra e somos o
principal adversário da maior potência esportiva do planeta", declarou, referindo-se ao país de
George W. Bush.
E tem sido assim desde os anos
70, quando o governo de Fidel
Castro passou a fazer um investimento maciço tanto em esporte
quanto em educação.
Até lá o predomínio era dos
norte-americanos, que apenas na
primeira edição do Pan deixaram
escapar a liderança -para a Argentina, anfitriã do torneio.
Depois disso, obtiveram estrondosas vitórias, só voltando a perder no quadro de medalhas em
1991, quando os Jogos foram em
Havana. Em casa, os cubanos
conseguiram 140 medalhas de ouro. Os EUA, dez a menos.
Comitê mais rico do mundo, o
Usoc, responsável pelo esporte
olímpico norte-americano, acha
que a rivalidade com os cubanos
torna o Pan mais interessante. Diz
que ter um rival forte é um incentivo a mais para os atletas do país.
Segundo o departamento de comunicação da entidade, um
exemplo dá-se na luta livre e na
greco-romana. Na primeira, o objetivo é manter -o que tem sido
feito às duras penas- o domínio
da modalidade. Na segunda, superar os cubanos, que têm levado
a melhor nos últimos anos.
Outro exemplo é na ginástica. O
time masculino dos EUA, que não
vai com força máxima, terá o duro desafio de superar Cuba.
Mas, se no caso dos norte-americanos um dos problemas é justamente não contar com seus melhores atletas -em vários esportes serão representados pela equipe B-, os cubanos não ficam
muito atrás.
Só que na terra de Fidel as dificuldades são de outra natureza.
Sem a ajuda que teve da União Soviética dos anos 60 aos 80, o Comitê Olímpico Cubano não tem
tantos recursos à disposição como há 20 ou 30 anos.
"Deixamos de ir a algumas
competições internacionais, e o
resultado é que vamos ficar de fora de sete modalidades", afirmou
Angel Iglesias Guerra, vice-chefe
de missão da delegação cubana.
"Por falta de verba, eles tiveram
desempenho pior do que seria esperado em alguns esportes. Foi o
caso do remo. Na Copa do Mundo, para vocês terem uma idéia,
eles deixaram de disputar as etapas de Milão e Munique por problemas financeiros", disse Anderson Nocetti, único remador brasileiro nos Jogos de Sydney-2000.
A saída para os cubanos tem sido encontrar formas alternativas
de atrair recursos internacionais.
É o que espera conseguir com
parcerias que estão firmando em
países como o Brasil. O Instituto
Nacional de Desporte, Educação
Física e Recreação deve mandar
técnicos e esportistas ao Brasil e,
com isso, espera abrir um canal
para arrecadar fundos e manter o
esporte cubano em alta.
"Bem ou mal, o esporte em Cuba ainda é um cartão de visitas, e
esperamos que continue assim.
Em Santo Domingo, não tenho
dúvidas de que ficaremos em segundo. O primeiro lugar é dos
EUA, mas, da mesma forma que
infelizmente não temos condições de superá-los, acredito que,
por mais fortes que venham canadenses, brasileiros, argentinos ou
mexicanos, a vice-liderança continuará sendo nossa por muitos
anos", disse Ramón Fernández.
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