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São Paulo, quarta-feira, 30 de julho de 2003

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pan 2003

Cuba reduz investimento e deixa alguns esportes, mas mantém viva rixa com EUA

Guerra fria sem cortes

Niurka Barroso - 14.jul.03/France Presse
Diante da imagem de Che Guevara, atletas cubanos participam de cerimônia antes de viajar para o Pan-2003, em que o país deixará de competir em pelo menos sete modalidades por falta de verba


EDUARDO OHATA
GUILHERME ROSEGUINI
JOÃO CARLOS ASSUMPÇÃO
ENVIADOS ESPECIAIS A SANTO DOMINGO

A Guerra Fria segue mais viva do que nunca, pelo menos no continente americano.
Com a manutenção do bloqueio diplomático e comercial imposto pelos EUA a Cuba, o Pan-Americano continua tendo um sabor especial para o país de Fidel, que vê a chance de mostrar que, apesar do embargo, os cubanos estão de pé e seguem sendo uma pedra no sapato norte-americano também quando o assunto é esporte.
"É um momento especial, uma satisfação a ser desfrutada por toda a nossa população", disse José Ramón Fernández, presidente do Comitê Olímpico Cubano. "Durante o Pan podemos mostrar que somos um povo humilde, mas orgulhoso. Defendemos a bandeira de Cuba com honra e somos o principal adversário da maior potência esportiva do planeta", declarou, referindo-se ao país de George W. Bush.
E tem sido assim desde os anos 70, quando o governo de Fidel Castro passou a fazer um investimento maciço tanto em esporte quanto em educação.
Até lá o predomínio era dos norte-americanos, que apenas na primeira edição do Pan deixaram escapar a liderança -para a Argentina, anfitriã do torneio.
Depois disso, obtiveram estrondosas vitórias, só voltando a perder no quadro de medalhas em 1991, quando os Jogos foram em Havana. Em casa, os cubanos conseguiram 140 medalhas de ouro. Os EUA, dez a menos.
Comitê mais rico do mundo, o Usoc, responsável pelo esporte olímpico norte-americano, acha que a rivalidade com os cubanos torna o Pan mais interessante. Diz que ter um rival forte é um incentivo a mais para os atletas do país.
Segundo o departamento de comunicação da entidade, um exemplo dá-se na luta livre e na greco-romana. Na primeira, o objetivo é manter -o que tem sido feito às duras penas- o domínio da modalidade. Na segunda, superar os cubanos, que têm levado a melhor nos últimos anos.
Outro exemplo é na ginástica. O time masculino dos EUA, que não vai com força máxima, terá o duro desafio de superar Cuba.
Mas, se no caso dos norte-americanos um dos problemas é justamente não contar com seus melhores atletas -em vários esportes serão representados pela equipe B-, os cubanos não ficam muito atrás.
Só que na terra de Fidel as dificuldades são de outra natureza. Sem a ajuda que teve da União Soviética dos anos 60 aos 80, o Comitê Olímpico Cubano não tem tantos recursos à disposição como há 20 ou 30 anos.
"Deixamos de ir a algumas competições internacionais, e o resultado é que vamos ficar de fora de sete modalidades", afirmou Angel Iglesias Guerra, vice-chefe de missão da delegação cubana.
"Por falta de verba, eles tiveram desempenho pior do que seria esperado em alguns esportes. Foi o caso do remo. Na Copa do Mundo, para vocês terem uma idéia, eles deixaram de disputar as etapas de Milão e Munique por problemas financeiros", disse Anderson Nocetti, único remador brasileiro nos Jogos de Sydney-2000.
A saída para os cubanos tem sido encontrar formas alternativas de atrair recursos internacionais. É o que espera conseguir com parcerias que estão firmando em países como o Brasil. O Instituto Nacional de Desporte, Educação Física e Recreação deve mandar técnicos e esportistas ao Brasil e, com isso, espera abrir um canal para arrecadar fundos e manter o esporte cubano em alta.
"Bem ou mal, o esporte em Cuba ainda é um cartão de visitas, e esperamos que continue assim. Em Santo Domingo, não tenho dúvidas de que ficaremos em segundo. O primeiro lugar é dos EUA, mas, da mesma forma que infelizmente não temos condições de superá-los, acredito que, por mais fortes que venham canadenses, brasileiros, argentinos ou mexicanos, a vice-liderança continuará sendo nossa por muitos anos", disse Ramón Fernández.


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