São Paulo, domingo, 30 de julho de 2006

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TOSTÃO

Planejar não é tudo


Dunga precisará de pessoas experientes ao seu lado, e espero que não forme apenas uma turma de amigos de 94 É UMA PIADA dizer que a indicação de Dunga foi conseqüência de um plano de renovação feito pela CBF. O único plano da CBF é vender bem os amistosos da seleção brasileira. Isto está sempre à frente das necessidades dos técnicos e da equipe.
A escolha de Dunga foi uma decisão demagógica. Se a queixa principal contra a seleção foi a apatia, vamos contratar um técnico que simbolize o futebol guerreiro. Foi também um desprestígio aos treinadores. O melhor seria chamar Dunga para ser coordenador, e ele escolheria um treinador. Planejamento técnico, certo ou errado, foi o que não faltou à seleção. A principal deficiência de Parreira é planejar muito e improvisar e intuir pouco. O plano do técnico era o de definir logo uma forma de jogar, um time e repeti-lo até o fim. Durante mais de três anos, não foi experimentada uma única variação tática. Por causa das excepcionais atuações de Adriano na seleção e na Itália até mais ou menos um ano antes do Mundial, o técnico formou um quarteto ofensivo, já que Kaká, Ronaldinho e Ronaldo teriam de ser titulares. A partir daí, durante quase um ano e mais uns 20 dias na Suíça, o time só atuou e treinou nesse esquema tático. Contra a França, Parreira ficou com medo e escalou de novo os três volantes. Ficou pior. Se Parreira tivesse experimentado outras formas de jogar e mais atletas, durante vários jogos, e não apenas por 15 minutos, e sem se preocupar tanto com o primeiro lugar nas eliminatórias, provavelmente teria chegado a outras conclusões. Agora é diferente. Por causa da necessidade de uma grande renovação, Dunga terá de experimentar vários atletas. Mas, como no Brasil os técnicos são avaliados só pelos resultados, será difícil ele chegar ao Mundial de 2010. Pode até acontecer o contrário, ou seja, os resultados serem melhores do que seu trabalho. Dunga vai precisar de pessoas experientes ao seu lado. Espero que não forme apenas uma turma de amigos de 94.

Explicações
Inter e, principalmente, São Paulo jogaram bem e como se estivessem em casa. O São Paulo comandou o jogo contra o Chivas. Os jogadores mexicanos, que se caracterizam pela intensa mobilidade em campo, pareciam apáticos, como os do Brasil contra a França no último jogo e na final da Copa de 98 -Dunga estava presente, era o capitão e foi também envolvido pelo Zidane. Esses momentos de apatia, que não são raros, mostram que um time, quando é dominado pelo adversário, os jogadores ficam sem ação. Tive também essa experiência. Para sair dessa paralisia, o técnico precisa criar um fato novo durante a partida, fazer uma "loucura" e provocar um grande ruído -não me refiro aos gritos histéricos na lateral do campo. Muitos acham o contrário, que a apatia dos jogadores é que faz o outro time dominar a partida. É também uma tese. Melhor ainda é a explicação de Fernando Pessoa: "As coisas não têm explicação; têm existência".

Momento especial
Após a derrota do Flamengo para os reservas do Vasco pelo Brasileiro, o maior elogio que o Ney Franco recebeu foi o de ser o técnico ideal para a terceira divisão. Uma semana depois, ele se tornou um perfeito estrategista. Ney Franco é uma grande promessa, principalmente, pelo longo e bom trabalho que fez no Ipatinga. O Flamengo, em vez de achar que tem um bom time, precisa ter consciência da importância desse momento, das possibilidades que se abrem para o clube, e se preparar para dar um salto de qualidade, dentro e fora de campo.

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