São Paulo, domingo, 30 de julho de 2006

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entrevista

As mães são o meu exemplo, diz treinador

DA REPORTAGEM LOCAL

Mamães, sensibilidade e combate à preguiça. Dunga nunca treinou uma equipe profissional, mas já tem na ponta da língua os preceitos que devem norteá-lo no comando da seleção. Na noite de anteontem, ele conversou com a Folha, por telefone. (GUILHERME ROSEGUINI)

FOLHA - Suas qualidades de líder sempre são exaltadas por quem atuou ao seu lado como jogador. Em quem você se espelha?
DUNGA - Não fico procurando exemplos na política nem no esporte. Me espelho mesmo é nas mães. Quem tem paciência pra agüentar filhos, marido, trabalho, brigas internas e consegue apaziguar as coisas? Quem sabe a hora de puxar as orelhas no momento certo? Quem fica feliz com o sucesso dos outros? Só as mães. São verdadeiras líderes, e podemos aprender com elas lições que podem ser transportadas para o cotidiano do futebol.

FOLHA - Ao anunciar sua contratação, a CBF informou que buscava um técnico vibrante, motivador. Mas só isso basta na seleção?
DUNGA - Tudo é importante. Acredito que a sensibilidade é algo fundamental. É preciso conhecer bem cada jogador, para saber em que momento é preciso fazer cobranças ou elogios, para ter em mente quem pode brilhar, quem pode resolver a situação nos momentos complicados. Fui atleta e tive técnicos que sabiam sugar o que eu tinha de melhor. Eles me conheciam. Quero poder fazer o mesmo agora.

FOLHA - Você estréia no próximo dia 16, contra a Noruega. Já pensou em como motivar o grupo, especialmente após a malfadada campanha na Alemanha?
DUNGA - Estar na seleção já é uma motivação. Eu valorizo muito isso, talvez por não ter sido um craque. Sempre tive vontade de vencer. Quem ocupa um posto tão cobiçado deve ter a exata noção da importância do Brasil. Lembro de uma frase do Ricardo Rocha [zagueiro campeão do mundo em 1994] que acho muito interessante. Ele dizia "eu quero é entrar na banda, não importa o instrumento que vou tocar." Este espírito de entrega precisa existir.

FOLHA - Você sempre declarou gostar de treinar duro. Pretende tornar mais árduas as práticas da seleção, tão criticadas na Copa?
DUNGA - É preciso avaliar caso a caso. Não vou chegar agora e dar um treino de 3 horas só para dar resposta por causa do último Mundial. Os jogadores acabam de sair de férias, é um momento complicado. Mas, quando tiver tempo, aí seguirei as coisas em que acredito. Pô, 180 milhões querem jogar na seleção brasileira. Não pode haver preguiça. Com 14 ou 35 anos, nunca liguei de sair cedo da cama para treinar. Sacrifício momentâneo, satisfação duradoura. Os jogadores vão ter que entender isso.


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