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BIA ABRAMO
COLUNISTA DA FOLHA
O Pan visto pela televisão
Parece que a regra da transmissão esportiva é simplesmente a de criar torcidas, não a
de formar e informar
UM EVENTO como o
Pan-Americano bota um monte de
gente na frente da TV para
ver esporte. Não falo aqui
dos aficionados habituais,
que domingo após domingo assistem à corrida, ao futebol, a um Mundial de
qualquer modalidade que
esteja rolando em qualquer
parte do mundo, mas dos
telespectadores comuns,
que nos grandes eventos
esportivos tornam-se torcedores fanáticos de uma
hora para outra.
Da cerimônia de abertura à expectativa angustiante da primeira medalha,
das rivalidades nacionais
nos jogos coletivos aos heróis dos individuais, o esporte passa a ser entretenimento de primeira linha
para milhares de pessoas.
É pena que, de maneira
geral, as emissoras invistam mais em emoção do
que em informação.
As transmissões oscilam
entre o ufanismo cego e
descerebrado e a ultra-especialização. Algumas informações essenciais -como, por exemplo, o fato de
países tradicionalmente
mais "fortes" em diversas
modalidades, como EUA e
Canadá, não trazerem para
o Pan suas seleções principais- são escamoteadas de
forma a não atrapalhar os
eventuais feitos brasileiros.
Ou então bota-se ali um
expert que é capaz de entender e comentar o que vê,
mas não de contar para o
espectador o que é uma nota de saída de ginástica artística ou por que no taekwondo ora ganha-se, ora se
descontam pontos.
Parece que a regra da
transmissão esportiva na
TV é simplesmente a de
criar torcidas, não de formar e informar espectadores. Uma bobagem, ou no
mínimo uma redundância,
dado que torcer, no Brasil,
é um movimento quase
que instintivo, de enorme
espontaneidade.
Não é por outra razão
que, de uma hora para outra, adoramos a Marta (como não amar essa moça), a
Daiane (e seu tornozelo
atormentado), a Jade (e
seu choro sentido), a Janeth, a Paula Pequeno, a
Natália (a que luta conectada em seu iPod), o Thiago
(o menino dos muitos ouros), o Allan (do bronze
inesperado) e tantos outros. Ninguém, na verdade,
precisa da TV para ser doutrinado a querer fruir, mesmo que por breves instantes, de alegria e orgulho genuínos por se sentir próximo dessa gente.
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