São Paulo, segunda-feira, 30 de julho de 2007

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BIA ABRAMO
COLUNISTA DA FOLHA

O Pan visto pela televisão

Parece que a regra da transmissão esportiva é simplesmente a de criar torcidas, não a de formar e informar

UM EVENTO como o Pan-Americano bota um monte de gente na frente da TV para ver esporte. Não falo aqui dos aficionados habituais, que domingo após domingo assistem à corrida, ao futebol, a um Mundial de qualquer modalidade que esteja rolando em qualquer parte do mundo, mas dos telespectadores comuns, que nos grandes eventos esportivos tornam-se torcedores fanáticos de uma hora para outra.
Da cerimônia de abertura à expectativa angustiante da primeira medalha, das rivalidades nacionais nos jogos coletivos aos heróis dos individuais, o esporte passa a ser entretenimento de primeira linha para milhares de pessoas.
É pena que, de maneira geral, as emissoras invistam mais em emoção do que em informação.
As transmissões oscilam entre o ufanismo cego e descerebrado e a ultra-especialização. Algumas informações essenciais -como, por exemplo, o fato de países tradicionalmente mais "fortes" em diversas modalidades, como EUA e Canadá, não trazerem para o Pan suas seleções principais- são escamoteadas de forma a não atrapalhar os eventuais feitos brasileiros.
Ou então bota-se ali um expert que é capaz de entender e comentar o que vê, mas não de contar para o espectador o que é uma nota de saída de ginástica artística ou por que no taekwondo ora ganha-se, ora se descontam pontos.
Parece que a regra da transmissão esportiva na TV é simplesmente a de criar torcidas, não de formar e informar espectadores. Uma bobagem, ou no mínimo uma redundância, dado que torcer, no Brasil, é um movimento quase que instintivo, de enorme espontaneidade.
Não é por outra razão que, de uma hora para outra, adoramos a Marta (como não amar essa moça), a Daiane (e seu tornozelo atormentado), a Jade (e seu choro sentido), a Janeth, a Paula Pequeno, a Natália (a que luta conectada em seu iPod), o Thiago (o menino dos muitos ouros), o Allan (do bronze inesperado) e tantos outros. Ninguém, na verdade, precisa da TV para ser doutrinado a querer fruir, mesmo que por breves instantes, de alegria e orgulho genuínos por se sentir próximo dessa gente.


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