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FÁBIO SEIXAS
ENVIADO ESPECIAL AO RIO
O Pan de todos. E do Ferreira
O comprometimento e a empolgação iniciais murcharam depois
de alguns dias, como ocorreu com Ferreira
NO INÍCIO , Ferreira
era só empolgação.
Envergando orgulhoso a credencial -José, o
primeiro nome- e o uniforme laranja da Comlurb,
uma das siglas a que os paulistas nos habituamos nos
últimos dias, chegava cedinho ao Riocentro.
Olho no chão, olho nas
TVs, só queria saber de medalhas. "Já foram quantas
hoje? E o futsal?", um de
seus bordões. Ferreira queria é saber do futsal. "O Falcão é bom", outro.
Ferreira gostava de ler,
também, os jornais já devorados que deixávamos de
lado. Sentia-se parte do
Pan, do espetáculo. E era.
Faxineiro ou jornalista ou
torcedor ou nadador megamedalhista, o Pan era de
todos, era essa a sensação
no ar. Era do Brasil, como
queriam a TV e o governo
federal. Era carioca, como
proclamava a prefeitura
nos ônibus e letreiros eletrônicos. Era do Ferreira.
Antecedido por quase
cinco anos de discursos, de
obras, de polêmicas esportivas, de escândalos orçamentários, de previsões de
medalhas, de ações publicitárias, de forçadas televisivas, de sonhos olímpicos, o
Pan gerou expectativa tamanha que começou como
a Olimpíada que provavelmente nunca receberemos.
Em ruas, arenas e estádios, o mesmo comprometimento, a mesma vibração
do Ferreira. A ponto de
nossos adversários terem
se convertido em inimigos,
alvos das vaias raivosas. As
faixas exclusivas de trânsito, pasmem, foram respeitadas, como se de repente
tivéssemos nos tornado
noruegueses ou suecos
-cheguei a tomar pito de
um taxista que não havia
percebido a credencial no
vidro do Gol-bolinha.
Durou cinco, seis dias,
uma semana. Difícil apontar o ponto de inflexão, mas
a coisa toda foi murchando,
murchando...
Murchou. Voluntários
começaram a se queixar
das condições de trabalho,
o campo do beisebol alagou, a selecinha foi eliminada, o meganadador não
atingiu sua meta, o vôlei feminino caiu de novo, os
torcedores enjoaram do
Bob's, da axé music e das
confusões com ingressos, a
segurança afrouxou, a maratona televisiva encheu,
para usar eufemismo. Para
piorar o astral, o avião caiu.
Com a duvidosa exceção
-porque futebol, e com ingressos gratuitos- do Maracanã cheio para ver e torcer pela Marta, o clima nos
últimos dias foi de Jogos
Abertos do Interior. E chuvoso -não ouse duvidar
que isso derruba o ânimo.
E o Ferreira? Ontem não
apareceu para limpar a sala. Já tinha dito no sábado,
quando, aliviado, passou lá
pela última vez. Quando tirou os papéis velhos sem
separar os jornais e sem
olhar para as TVs. Que
mostravam a final do futsal, com Falcão em quadra.
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