São Paulo, segunda-feira, 30 de julho de 2007

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FÁBIO SEIXAS
ENVIADO ESPECIAL AO RIO

O Pan de todos. E do Ferreira

O comprometimento e a empolgação iniciais murcharam depois de alguns dias, como ocorreu com Ferreira

NO INÍCIO , Ferreira era só empolgação. Envergando orgulhoso a credencial -José, o primeiro nome- e o uniforme laranja da Comlurb, uma das siglas a que os paulistas nos habituamos nos últimos dias, chegava cedinho ao Riocentro.
Olho no chão, olho nas TVs, só queria saber de medalhas. "Já foram quantas hoje? E o futsal?", um de seus bordões. Ferreira queria é saber do futsal. "O Falcão é bom", outro.
Ferreira gostava de ler, também, os jornais já devorados que deixávamos de lado. Sentia-se parte do Pan, do espetáculo. E era. Faxineiro ou jornalista ou torcedor ou nadador megamedalhista, o Pan era de todos, era essa a sensação no ar. Era do Brasil, como queriam a TV e o governo federal. Era carioca, como proclamava a prefeitura nos ônibus e letreiros eletrônicos. Era do Ferreira.
Antecedido por quase cinco anos de discursos, de obras, de polêmicas esportivas, de escândalos orçamentários, de previsões de medalhas, de ações publicitárias, de forçadas televisivas, de sonhos olímpicos, o Pan gerou expectativa tamanha que começou como a Olimpíada que provavelmente nunca receberemos.
Em ruas, arenas e estádios, o mesmo comprometimento, a mesma vibração do Ferreira. A ponto de nossos adversários terem se convertido em inimigos, alvos das vaias raivosas. As faixas exclusivas de trânsito, pasmem, foram respeitadas, como se de repente tivéssemos nos tornado noruegueses ou suecos -cheguei a tomar pito de um taxista que não havia percebido a credencial no vidro do Gol-bolinha.
Durou cinco, seis dias, uma semana. Difícil apontar o ponto de inflexão, mas a coisa toda foi murchando, murchando...
Murchou. Voluntários começaram a se queixar das condições de trabalho, o campo do beisebol alagou, a selecinha foi eliminada, o meganadador não atingiu sua meta, o vôlei feminino caiu de novo, os torcedores enjoaram do Bob's, da axé music e das confusões com ingressos, a segurança afrouxou, a maratona televisiva encheu, para usar eufemismo. Para piorar o astral, o avião caiu.
Com a duvidosa exceção -porque futebol, e com ingressos gratuitos- do Maracanã cheio para ver e torcer pela Marta, o clima nos últimos dias foi de Jogos Abertos do Interior. E chuvoso -não ouse duvidar que isso derruba o ânimo.
E o Ferreira? Ontem não apareceu para limpar a sala. Já tinha dito no sábado, quando, aliviado, passou lá pela última vez. Quando tirou os papéis velhos sem separar os jornais e sem olhar para as TVs. Que mostravam a final do futsal, com Falcão em quadra.


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