São Paulo, domingo, 30 de agosto de 2009

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Sorteio, faltas e cartões minam o apito nacional

Números do Datafolha e dados de outras ligas mostram que país está sozinho não só na política de sortear árbitros

Apenas 38% dos jogos do Brasileiro foram apitados pelos juízes Fifa, que ficam semanas inativos ou atuam até em menos de 48 horas

Ricardo Nogueira/Folha Imagem
O assistente Marco Aurélio dos Santos atua na Vila Belmiro em Santos 3x3 Internacional

RODRIGO BUENO
DA REPORTAGEM LOCAL

FÁBIO TURA
DO DATAFOLHA

Um Corinthians 3 x 3 Botafogo com arbitragem nota 0.
Arilson Bispo Anunciação, novato, roubou a cena na rodada passada e escancarou o problema da política de renovação de árbitros na elite e do sorteio.
A arbitragem brasileira voltou a ser questionada pelo seu estilo e por estar na direção errada, se for comparada com o que acontece no resto do planeta. Pelos números do Datafolha e pelos dados de fortes ligas nacionais europeias, fica claro que o Brasil é uma ilha do apito.
O Inglês, hoje adorado por seus jogos corridos, não tem nem três rodadas completas e já viu três jogos sem nenhum cartão amarelo -só ontem foi registrada a primeira expulsão.
O Brasileiro já entrou no segundo turno e não viu nenhuma partida sem cartão. São 5,6 amarelos por partida, em média, enquanto na Inglaterra não são nem três por confronto.
O Italiano, torneio de forte marcação, contato, com jogadores "malandros" e arbitragem um tanto parecida, tem sete faltas a menos por partida, em média, que o Brasileiro.
"É característica do brasileiro se jogar. Agora até melhorou, com a ida de muitos para a Europa. E sempre se jogou aqui faltosamente. A CBF já fez palestras para reciclar atletas antes da Copa. Aí o comportamento disciplinar melhora, mas internamente nunca funcionou", afirma José Roberto Wright, ex-juiz e comentarista.
Para lidar com esse estilo diferenciado, estão sendo lançados cada vez mais árbitros na primeira divisão. Neste ano, só 38% dos jogos foram apitados pelos juízes da Fifa, em tese os mais preparados. O número é o menor dos últimos anos e encontra explicação no sorteio feito para escolher os árbitros.
"Tivemos assembleia, e 90% dos árbitros são contrários ao sorteio. É absurdo, prejudica não só os mais experientes mas também os mais jovens. Complica para quem apita e quem escala", diz o juiz Carlos Eugênio Simon. "Já perdi 14 sorteios numa época. Encaminhamos isso ao presidente Lula, que mandou sumir [o sorteio] no Estatuto do Esporte, que está para ser votado", completa ele.
O árbitro gaúcho, que vai para sua terceira Copa no ano que vem, já ficou um mês e cinco dias sem apitar por causa do sorteio. "Já me escalaram numa sexta e num domingo. Atuei duas vezes em menos de 48 horas. Aí deu uma contusão", diz.
O sorteio existe só no Brasil, que segue os padrões físicos internacionais para juízes.
Nas principais ligas europeias, apitam os principais árbitros. Na Espanha, há descenso de juízes. A liga espanhola vem cortando árbitros a cada ano para deixar, na temporada 2010/11, só 20 juízes. No Inglês, com três rodadas incompletas, três árbitros já tinham seus três jogos. "A sequência dá autoestima, confiança", fala Leandro Vuaden, um dos dez árbitros Fifa do Brasil na atualidade.
A Premier League tem árbitros terceirizados. A rica liga inglesa paga por eles, que podem receber ainda uma espécie de "bicho" da empresa à qual pertencem em decorrência de suas performances, treinos e cursos.
"Antes, no Brasil, 1% da renda era dividida, 50% para o árbitro e 25% para cada bandeira. Tinha jogo que dava US$ 10 mil ou US$ 12 mil. Eu usufruí disso com jogos com mais de 100 mil no Maracanã. E isso obrigava a gente a trabalhar bem para poder ser escalado. Hoje, o árbitro é desestimulado", diz Wright.

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