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Sorteio, faltas e cartões minam o apito nacional
Números do Datafolha e dados de outras ligas mostram que país está sozinho não só na política de sortear árbitros
Apenas 38% dos jogos do Brasileiro foram apitados pelos juízes Fifa, que ficam semanas inativos ou atuam até em menos de 48 horas
Ricardo Nogueira/Folha Imagem
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O assistente Marco Aurélio dos Santos atua na Vila Belmiro em
Santos 3x3 Internacional
RODRIGO BUENO
DA REPORTAGEM LOCAL
FÁBIO TURA
DO DATAFOLHA
Um Corinthians 3 x 3 Botafogo com arbitragem nota 0.
Arilson Bispo Anunciação,
novato, roubou a cena na rodada passada e escancarou o problema da política de renovação
de árbitros na elite e do sorteio.
A arbitragem brasileira voltou a ser questionada pelo seu
estilo e por estar na direção errada, se for comparada com o
que acontece no resto do planeta. Pelos números do Datafolha
e pelos dados de fortes ligas nacionais europeias, fica claro
que o Brasil é uma ilha do apito.
O Inglês, hoje adorado por
seus jogos corridos, não tem
nem três rodadas completas e
já viu três jogos sem nenhum
cartão amarelo -só ontem foi
registrada a primeira expulsão.
O Brasileiro já entrou no segundo turno e não viu nenhuma partida sem cartão. São 5,6
amarelos por partida, em média, enquanto na Inglaterra não
são nem três por confronto.
O Italiano, torneio de forte
marcação, contato, com jogadores "malandros" e arbitragem um tanto parecida, tem sete faltas a menos por partida,
em média, que o Brasileiro.
"É característica do brasileiro se jogar. Agora até melhorou,
com a ida de muitos para a Europa. E sempre se jogou aqui
faltosamente. A CBF já fez palestras para reciclar atletas antes da Copa. Aí o comportamento disciplinar melhora,
mas internamente nunca funcionou", afirma José Roberto
Wright, ex-juiz e comentarista.
Para lidar com esse estilo diferenciado, estão sendo lançados cada vez mais árbitros na
primeira divisão. Neste ano, só
38% dos jogos foram apitados
pelos juízes da Fifa, em tese os
mais preparados. O número é o
menor dos últimos anos e encontra explicação no sorteio
feito para escolher os árbitros.
"Tivemos assembleia, e 90%
dos árbitros são contrários ao
sorteio. É absurdo, prejudica
não só os mais experientes mas
também os mais jovens. Complica para quem apita e quem
escala", diz o juiz Carlos Eugênio Simon. "Já perdi 14 sorteios
numa época. Encaminhamos
isso ao presidente Lula, que
mandou sumir [o sorteio] no
Estatuto do Esporte, que está
para ser votado", completa ele.
O árbitro gaúcho, que vai para sua terceira Copa no ano que
vem, já ficou um mês e cinco
dias sem apitar por causa do
sorteio. "Já me escalaram numa sexta e num domingo. Atuei
duas vezes em menos de 48 horas. Aí deu uma contusão", diz.
O sorteio existe só no Brasil,
que segue os padrões físicos internacionais para juízes.
Nas principais ligas europeias, apitam os principais árbitros. Na Espanha, há descenso de juízes. A liga espanhola
vem cortando árbitros a cada
ano para deixar, na temporada
2010/11, só 20 juízes. No Inglês,
com três rodadas incompletas,
três árbitros já tinham seus três
jogos. "A sequência dá autoestima, confiança", fala Leandro
Vuaden, um dos dez árbitros
Fifa do Brasil na atualidade.
A Premier League tem árbitros terceirizados. A rica liga inglesa paga por eles, que podem
receber ainda uma espécie de
"bicho" da empresa à qual pertencem em decorrência de suas
performances, treinos e cursos.
"Antes, no Brasil, 1% da renda era dividida, 50% para o árbitro e 25% para cada bandeira.
Tinha jogo que dava US$ 10 mil
ou US$ 12 mil. Eu usufruí disso
com jogos com mais de 100 mil
no Maracanã. E isso obrigava a
gente a trabalhar bem para poder ser escalado. Hoje, o árbitro
é desestimulado", diz Wright.
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