EDUARDO OHATA
DA REPORTAGEM LOCAL

Depois de criticar a administração dos clubes de futebol e chamar jogadores de "burros", Pelé envolveu-se ontem em outro tema polêmico ao criticar a falta de união entre os jogadores e defender até a realização de greve como instrumento de reivindicação.
"Os jogadores não sabem a força que têm. Se ficarem três ou quatro semanas de greve, sem jogos durante e nos fins de semana, vai ser o caos", afirmou Pelé na manhã de ontem, em São Paulo.
Ele aproveitou para criticar novamente jogadores que deixam suas carreiras nas mãos de empresários profissionais. Há cerca de duas semanas, chamou atletas que o faziam de "burros".
Na mesma oportunidade, Pelé questionou o que acontecera ao dinheiro obtido por clubes como Flamengo e Vasco via parcerias internacionais, sem lembrar que lucrara com algumas delas e que também emprestara nome à Global Pelé Brasil, agência de gerenciamento de carreiras de atletas.
"A classe é desunida. Em todas as outras [classes de trabalhadores], há protestos por aumentos de salários, contra o atraso nos pagamentos. Mas alguns atletas não recebem por três, quatros meses, e fica por isso mesmo", criticou ele. No Rio de Janeiro, jogadores do Flamengo, sem ganhar salário há três meses, deixaram de dormir na concentração de terça-feira para ontem.
"Quando fui ministro, alertei que os atletas tinham de se mobilizar em torno de uma união", afirmou o ex-ministro extraordinário dos Esportes (95 a 98).
Rinaldo Martorelli, presidente do Sindicato de Atletas Profissionais de São Paulo -reúne cerca de 3.000 filiados-, concorda sobre a necessidade de um engajamento maior. "O atleta vê que o futebol tem pouca importância no cenário político. Mas no terreno do entretenimento é um dos mais importantes. Uma mobilização maior melhoraria nossas condições nas negociações. Uma ameaça [de greve] teria força".


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