São Paulo, domingo, 30 de setembro de 2007

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Com vaidade e dor, futebol vira coisa de mulher

TPM, bolada nos seios, unhas roídas, cabelos chamativos e ginga expõem as peculiaridades femininas nos gramados

Menstruação sincronizada, que promove oscilações de humor, é o grande vilão, combatido com pílulas anticoncepcionais e diálogo

MARIANA BASTOS
MARIANA LAJOLO

DA REPORTAGEM LOCAL

"Você já imaginou? Seu filho chega em casa com uma menina e a apresenta como namorada. Daí, você pergunta o que é que ela faz, e ela responde: "Sou zagueira do Bangu". Não dá, né?", repetia João Saldanha a todos que ousassem defender as mulheres nos gramados.
O tempo passou, ainda há preconceito, mas os dribles de Marta estão cada vez mais desmentindo a tese do ex-treinador, que conduziu a seleção masculina à Copa de 1970.
Trombadas, hematomas, boladas nos seios, ginga, vaidade, TPM, tudo se mistura em um mosaico de peculiaridades que diferenciam a prática feminina da masculina e comprovam que futebol é, sim, coisa de mulher.
A tensão pré-menstrual é a grande vilã. Vez ou outra, provoca oscilações emocionais, quedas de auto-estima que podem comprometer o desempenho do grupo, ainda mais quando diversas jogadoras passam a menstruar ao mesmo tempo.
"É comum que mulheres que convivem muito juntas tenham uma tendência a sincronizar o ciclo menstrual", diz Turíbio Leite, fisiologista do São Paulo.
"Uma parte da regulação do ciclo é controlado pelo hipotálamo, que é a região do cérebro responsável pelo comportamento. Então, quando você tem um grupo feminino que convive em concentração e tem um objetivo em comum, a menstruação tende a se sincronizar também", explica ele.
Na seleção, há um mapeamento do ciclo menstrual das jogadoras. A pílula anticoncepcional é recomendada para as que se sentem mais incomodadas por cólicas ou oscilações de humor. A maior parte delas aderiu ao medicamento.
Algumas tomam sem parar, para não menstruar. Muitas têm menstruação curta e "rala", por causa do anticoncepcional e dos exercícios físicos.
A minoria que não aderiu ao uso do contraceptivo ainda sofre com problemas de TPM.
Para contornar os atritos, a tática é simples: o diálogo.
"Quando uma está a ponto de morder a cara da outra, a gente percebe e conversa. Tem umas que gostam de ficar mais quietas. Hoje, estamos lidando bem melhor com isso", confessa a zagueira Tânia Maranhão.
Os seios, por seu lado, são um ponto de maior sensibilidade da mulher. Isso, no entanto, não impede as matadas no peito. "Não dói porque, quando a bola vem, a gente mata na região entre os seios e o pescoço, assim como os homens. Eles também não matam a bola com os mamilos", explica Juliana Cabral, ex-capitã da seleção.
Dói mesmo é quando a bola, sem querer, bate nas mamas. Não é à toa que, quando uma barreira é formada, os braços cobrem os seios, a fim de protegê-los de uma bolada.
"É uma área mais sensível e pode eventualmente ser sujeita a um trauma. Mas, se por um lado a mulher mostra mais vulnerabilidade nessa região, por outro não tem a genitália externa que nem a do homem, que, às vezes, dói muito mais quando é atingida por uma bolada", comenta Turíbio.
Já a vaidade tem que ser deixada parcialmente do lado de fora do gramado. No futebol, não é permitido o uso de penduricalhos como brinco, pulseira e anel. Unhas compridas, nem pensar. Já houve jogadoras que precisaram roer a unha na beira do campo para não serem vetadas pelo árbitro.
Assim, só resta cuidar dos cabelos. As brasileiras ficaram conhecidas pelos penteados coloridos, com fitas, tranças etc.
"Para aparecer bonita em campo, a gente capricha no cabelo. É a única coisa que dá para exibir. Eu geralmente tiro as pontinhas dos cabelos delas, passo amaciante", diz a "cabeleireira" Tânia Maranhão.

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