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Com vaidade e dor, futebol vira coisa de mulher
TPM, bolada nos seios, unhas roídas, cabelos chamativos e ginga expõem as peculiaridades femininas nos gramados
Menstruação sincronizada, que promove oscilações de humor, é o grande vilão, combatido com pílulas anticoncepcionais e diálogo
MARIANA BASTOS
MARIANA LAJOLO
DA REPORTAGEM LOCAL
"Você já imaginou? Seu filho
chega em casa com uma menina e a apresenta como namorada. Daí, você pergunta o que é
que ela faz, e ela responde: "Sou
zagueira do Bangu". Não dá,
né?", repetia João Saldanha a
todos que ousassem defender
as mulheres nos gramados.
O tempo passou, ainda há
preconceito, mas os dribles de
Marta estão cada vez mais desmentindo a tese do ex-treinador, que conduziu a seleção
masculina à Copa de 1970.
Trombadas, hematomas, boladas nos seios, ginga, vaidade,
TPM, tudo se mistura em um
mosaico de peculiaridades que
diferenciam a prática feminina
da masculina e comprovam que
futebol é, sim, coisa de mulher.
A tensão pré-menstrual é a
grande vilã. Vez ou outra, provoca oscilações emocionais,
quedas de auto-estima que podem comprometer o desempenho do grupo, ainda mais quando diversas jogadoras passam a
menstruar ao mesmo tempo.
"É comum que mulheres que
convivem muito juntas tenham
uma tendência a sincronizar o
ciclo menstrual", diz Turíbio
Leite, fisiologista do São Paulo.
"Uma parte da regulação do
ciclo é controlado pelo hipotálamo, que é a região do cérebro
responsável pelo comportamento. Então, quando você
tem um grupo feminino que
convive em concentração e tem
um objetivo em comum, a
menstruação tende a se sincronizar também", explica ele.
Na seleção, há um mapeamento do ciclo menstrual das
jogadoras. A pílula anticoncepcional é recomendada para as
que se sentem mais incomodadas por cólicas ou oscilações de
humor. A maior parte delas
aderiu ao medicamento.
Algumas tomam sem parar,
para não menstruar. Muitas
têm menstruação curta e "rala", por causa do anticoncepcional e dos exercícios físicos.
A minoria que não aderiu ao
uso do contraceptivo ainda sofre com problemas de TPM.
Para contornar os atritos, a
tática é simples: o diálogo.
"Quando uma está a ponto de
morder a cara da outra, a gente
percebe e conversa. Tem umas
que gostam de ficar mais quietas. Hoje, estamos lidando bem
melhor com isso", confessa a
zagueira Tânia Maranhão.
Os seios, por seu lado, são um
ponto de maior sensibilidade
da mulher. Isso, no entanto,
não impede as matadas no peito. "Não dói porque, quando a
bola vem, a gente mata na região entre os seios e o pescoço,
assim como os homens. Eles
também não matam a bola com
os mamilos", explica Juliana
Cabral, ex-capitã da seleção.
Dói mesmo é quando a bola,
sem querer, bate nas mamas.
Não é à toa que, quando uma
barreira é formada, os braços
cobrem os seios, a fim de protegê-los de uma bolada.
"É uma área mais sensível e
pode eventualmente ser sujeita
a um trauma. Mas, se por um lado a mulher mostra mais vulnerabilidade nessa região, por
outro não tem a genitália externa que nem a do homem, que,
às vezes, dói muito mais quando é atingida por uma bolada",
comenta Turíbio.
Já a vaidade tem que ser deixada parcialmente do lado de
fora do gramado. No futebol,
não é permitido o uso de penduricalhos como brinco, pulseira e anel. Unhas compridas,
nem pensar. Já houve jogadoras que precisaram roer a unha
na beira do campo para não serem vetadas pelo árbitro.
Assim, só resta cuidar dos cabelos. As brasileiras ficaram conhecidas pelos penteados coloridos, com fitas, tranças etc.
"Para aparecer bonita em
campo, a gente capricha no cabelo. É a única coisa que dá para
exibir. Eu geralmente tiro as
pontinhas dos cabelos delas,
passo amaciante", diz a "cabeleireira" Tânia Maranhão.
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