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FUTEBOL
Paixões e negócios
SONINHA
COLUNISTA DA FOLHA
A discussão sobre pontos
corridos x mata-mata tem
seus momentos ásperos. Além da
paixão envolvida na defesa de
qualquer opinião, a aspereza se
deve também à suspeita de que
algumas partes envolvidas no debate tenham mais poder para impor o seu diagnóstico como definitivo. Mas é uma divergência legítima, não uma luta do bem contra o mal, e tem tudo para se tornar uma polêmica interminável.
Interminável porque é toda
pontuada por "se", o que impede
qualquer conclusão. Se um time
for campeão com antecedência...
Se os clubes tivessem se preparado
melhor... Se o oitavo colocado pudesse disputar o título, se o torcedor já tivesse o hábito... Se dois times médios chegassem à final...
Há alguns poucos pontos pacíficos nesse embate: um deles, que o
torneio por pontos corridos seria
melhor com menos times. A duração e a distância entre os extremos seriam menores. Ponto para
a CBF, que anunciou a queda de
quatro times no ano que vem.
Ninguém discorda que final é
legal, com rima e tudo. É fascinante ver um país parar para ver
um jogo de futebol, por mais desgosto que cause a quem é contra
tamanho envolvimento. Mas a final não é a única possibilidade de
emoção (e há, sim, finais pouco
empolgantes, que reúnem times
feiosos de campanhas medianas).
Um campeonato inclui muitas
decisões, desafios e prazeres -a
artilharia, o gosto de derrotar o líder ou de secar o rival, a fuga do
rebaixamento. Com tantos interesses, não é o possível campeão
antecipado que vai acabar com
toda a graça do campeonato.
Se o torcedor é capaz de se envolver em uma final que não o inclua, e por vários motivos torcer
por um dos lados, por que não se
interessaria também pela saga de
Cruzeiro e Santos, enquanto continua seguindo seu time?
Paralela a essa discussão, há
outra interessante: "Você gosta
mais do seu time ou de futebol?".
Já me perguntei e respondi: "Prefiro o futebol! Adoro o jogo bem
jogado, admiro os craques de outros times, vejo várias partidas
com interesse". E já jurei, em nome do bom futebol, nunca mais
torcer pelo meu time enquanto
fulano fosse o técnico ou beltrano
o zagueiro... Não consegui. Se
meu time jogou feio e foi o campeão, sinto muito, não tenho culpa se ninguém foi melhor que a
gente. Futebol é isso, é bola na rede, é pênalti pra fora, um abraço.
Se não estou mais no páreo, aí
sim -torço por quem joga mais
bonito, pelo craque, pelo menor
contra o maior. Muitos torceram
assim pelo Santos de 2002 (e já começam a torcer de novo).
No centro da paixão pelo futebol, ou antes dela, está a paixão
pelo time. Como a que levou milhares de palmeirenses aos estádios na Série B. Sem essa ligação
com a camisa, que o torcedor tanto cobra do jogador, não há fórmula que motive. Sem o gosto puro e original pelo futebol, também
não. Mídia, dirigentes, legisladores, patrocinadores, jogadores,
técnicos e os próprios torcedores
têm parte na responsabilidade de
não deixar morrer essa paixão
-ou esse negócio.
Tá sobrando?
Diárias de viagem no valor de
US$ 300 são um escândalo. Se
forem pagas pelo ministério, e
não pelo COB, também são
imorais. E nem é preciso prestar contas! Pode-se gastar em
perfumaria, literalmente.
Chefes de delegação
Aproveito para insistir. Quem
banca as viagens dos deputados
liberados para viajar com a seleção em "missões oficiais"? Se
for a CBF, é imoral. É óbvio que
ela tem interesses no Congresso. Se for o Congresso, é imoral
também. Isso é coisa que se faça
com dinheiro público?
Causa-consequência?
Romário fez gols porque a bola
veio no pé e ele ainda chuta
bem, não por causa de galinhas
e bolachas.
E-mail
soninha.folha@uol.com.br
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