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São Paulo, quinta-feira, 30 de outubro de 2003

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FUTEBOL

Paixões e negócios

SONINHA
COLUNISTA DA FOLHA

A discussão sobre pontos corridos x mata-mata tem seus momentos ásperos. Além da paixão envolvida na defesa de qualquer opinião, a aspereza se deve também à suspeita de que algumas partes envolvidas no debate tenham mais poder para impor o seu diagnóstico como definitivo. Mas é uma divergência legítima, não uma luta do bem contra o mal, e tem tudo para se tornar uma polêmica interminável.
Interminável porque é toda pontuada por "se", o que impede qualquer conclusão. Se um time for campeão com antecedência... Se os clubes tivessem se preparado melhor... Se o oitavo colocado pudesse disputar o título, se o torcedor já tivesse o hábito... Se dois times médios chegassem à final...
Há alguns poucos pontos pacíficos nesse embate: um deles, que o torneio por pontos corridos seria melhor com menos times. A duração e a distância entre os extremos seriam menores. Ponto para a CBF, que anunciou a queda de quatro times no ano que vem.
Ninguém discorda que final é legal, com rima e tudo. É fascinante ver um país parar para ver um jogo de futebol, por mais desgosto que cause a quem é contra tamanho envolvimento. Mas a final não é a única possibilidade de emoção (e há, sim, finais pouco empolgantes, que reúnem times feiosos de campanhas medianas). Um campeonato inclui muitas decisões, desafios e prazeres -a artilharia, o gosto de derrotar o líder ou de secar o rival, a fuga do rebaixamento. Com tantos interesses, não é o possível campeão antecipado que vai acabar com toda a graça do campeonato.
Se o torcedor é capaz de se envolver em uma final que não o inclua, e por vários motivos torcer por um dos lados, por que não se interessaria também pela saga de Cruzeiro e Santos, enquanto continua seguindo seu time?
Paralela a essa discussão, há outra interessante: "Você gosta mais do seu time ou de futebol?". Já me perguntei e respondi: "Prefiro o futebol! Adoro o jogo bem jogado, admiro os craques de outros times, vejo várias partidas com interesse". E já jurei, em nome do bom futebol, nunca mais torcer pelo meu time enquanto fulano fosse o técnico ou beltrano o zagueiro... Não consegui. Se meu time jogou feio e foi o campeão, sinto muito, não tenho culpa se ninguém foi melhor que a gente. Futebol é isso, é bola na rede, é pênalti pra fora, um abraço.
Se não estou mais no páreo, aí sim -torço por quem joga mais bonito, pelo craque, pelo menor contra o maior. Muitos torceram assim pelo Santos de 2002 (e já começam a torcer de novo).
No centro da paixão pelo futebol, ou antes dela, está a paixão pelo time. Como a que levou milhares de palmeirenses aos estádios na Série B. Sem essa ligação com a camisa, que o torcedor tanto cobra do jogador, não há fórmula que motive. Sem o gosto puro e original pelo futebol, também não. Mídia, dirigentes, legisladores, patrocinadores, jogadores, técnicos e os próprios torcedores têm parte na responsabilidade de não deixar morrer essa paixão -ou esse negócio.

Tá sobrando?
Diárias de viagem no valor de US$ 300 são um escândalo. Se forem pagas pelo ministério, e não pelo COB, também são imorais. E nem é preciso prestar contas! Pode-se gastar em perfumaria, literalmente.

Chefes de delegação
Aproveito para insistir. Quem banca as viagens dos deputados liberados para viajar com a seleção em "missões oficiais"? Se for a CBF, é imoral. É óbvio que ela tem interesses no Congresso. Se for o Congresso, é imoral também. Isso é coisa que se faça com dinheiro público?

Causa-consequência?
Romário fez gols porque a bola veio no pé e ele ainda chuta bem, não por causa de galinhas e bolachas.

E-mail
soninha.folha@uol.com.br


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