São Paulo, domingo, 30 de outubro de 2011

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

TOSTÃO

Melhores momentos


Há jogadores regulares, outros, de grandes momentos, e pouquíssimos, dos dois jeitos

Estou desatualizado. Ainda não aprendi a ser um comentarista de melhores momentos. É a especialidade da moda. Tenho também de saber ver detalhes técnicos e táticos de vários jogos ao mesmo tempo. Não consigo.
Deve ser um problema genético. Algo a ver com minhas dificuldades de lidar com tecnologia.
Como os melhores momentos são reprisados milhões de vezes, nos milhões de programas esportivos e pela internet, as análises sobre futebol passam a ser feitas a partir desses lances. Qualquer jogadinha, se não tiver outra melhor, faz parte nos melhores momentos e se torna espetacular, ainda mais se resultar em gol.
A pressa e o imediatismo contribuem para a supervalorização dos melhores momentos. Cada vez mais, as pessoas querem saber do resumo, da síntese, do capítulo final. O mundo, como no futebol, é o dos grandes momentos, sejam bons ou ruins. Esta crônica é também uma síntese, os melhores momentos. Por causa do espaço reduzido, passo um bom tempo escolhendo o que cortar do texto.
Quem mais gosta dos melhores momentos são os agentes dos jogadores. Qualquer medíocre passa a ser craque e a valer muito. Ainda mais se vestir a camisa da seleção brasileira, mesmo que seja contra o Gabão.
Os melhores momentos dos jogadores são, obviamente, melhores que os do restante das partidas. Mas há atletas especializados em melhores momentos, como Lucas, do São Paulo. Desaparecem na maior parte do jogo. Quando fazem um belo gol, voltam a ser chamados de craques.
Os craques são os que têm espetaculares melhores momentos e que atuam muito bem na maior parte do jogo.
Os melhores momentos de Pelé, vistos no filme "Pelé Eterno", foram tão mágicos que muitas pessoas que não o viram jogar ao vivo garantem que tudo é uma farsa, um truque.
Existem também os jogadores regulares, que jogam bem todas as partidas, mas que não possuem melhores momentos. São esquecidos. Alguém mais exagerado, que não foi Nelson Rodrigues, já disse que a regularidade é virtude dos medíocres.
Cruyff falou que jogava 85 minutos bem e para o time e, nos outros cinco, dava show. Eram seus melhores momentos. Assim é também na vida. O ser humano, na maior parte de sua existência, é um animal de hábitos, de repetições, de convenções, de compromissos sociais e de regras. Os Zé- -Regrinhas dominam o mundo.
São poucos os grandes momentos, apaixonados, surpreendentes e inesquecíveis. São os que valem a vida.


Texto Anterior: Palmeiras estreia fase pós-Kleber
Próximo Texto: Neymar oferece e dá espetáculo
Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.