|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
FUTEBOL
Ejaculação precoce
JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA
Agora quem dá bola é o
Santos. O time vinha mal
nas últimas rodadas da primeira
fase e se classificou por um triz.
Mas, na hora da decisão, os meninos da Vila viraram gigantes.
Chegaram com todos os méritos
às semifinais e não parecem dispostos a parar por aí.
Com a eliminação do São Paulo, o Santos torna-se automaticamente o time-sensação do torneio, aquele no qual todos os não-torcedores dos outros três semifinalistas depositam suas esperanças de um futebol alegre e vistoso.
O time tricolor fez uma campanha brilhante, acumulou gols e
pontos além da conta, mas sucumbiu no mata-mata, a exemplo do que havia ocorrido no Torneio Rio-SP e na Copa do Brasil.
Há várias maneiras de encarar
isso. Uma delas é protestar contra
a "injustiça" do atual formato do
Campeonato Brasileiro, que permite que clubes de melhor campanha sejam eliminados por outros de desempenho mais fraco ao
longo da competição.
A propósito: dos quatro melhores da primeira fase, só o Corinthians continua na disputa. Os
outros três já ficaram no meio do
caminho.
Concordo que o torneio por
pontos corridos, em turno e returno, é a fórmula mais justa e racional de disputa.
Mas os são-paulinos não têm do
que reclamar. Afinal, o clube
subscreveu as regras vigentes,
que, aliás, estão aí há décadas. O
São Paulo teve, ademais, duas
chances de fazer seu suposto melhor futebol prevalecer sobre o
Santos. Perdeu as duas.
Várias coisas ajudam a explicar
a derrota são-paulina. Uma delas
é a sua dificuldade em jogar contra equipes que não lhe dão campo para o contra-ataque.
O Santos, sobretudo na partida
de anteontem, exerceu uma marcação perfeita sobre os jogadores
de criação do São Paulo, Kaká e
Ricardinho, diminuindo os espaços para as arrancadas do primeiro e os lançamentos do segundo.
Outra explicação possível para
a derrota do São Paulo é o fato de
o time ter chegado antes da hora
a seu ápice técnico e, digamos,
moral. Dez vitórias seguidas, a
sensação de ser campeão por antecipação, tudo isso tirou um pouco o "punch" da equipe. Foi uma
espécie de ejaculação precoce.
Algo parecido aconteceu com a
Argentina, que atingiu seu apogeu nas eliminatórias sul-americanas e chegou à Copa-2002 já em
movimento descendente.
Mas a principal razão da queda
tricolor foi a alta qualidade do time santista. Quando o Santos
acerta a marcação no meio-campo (com Renato e Paulo Almeida)
e encaixa o contra-ataque (com
Diego e Robinho), contando ainda com as descidas alternadas
dos laterais, torna-se uma equipe
quase irresistível.
Quando Fluminense e Corinthians entrarem no Maracanã
amanhã, será impossível deixar
de lembrar outra semifinal nacional entre os dois clubes, ocorrida
no mesmo estádio há 26 anos.
Naquela ocasião -conhecida
como "invasão corintiana" por
conta dos 70 mil torcedores alvinegros que tomaram metade do
Maracanã-, o Flu tinha uma
verdadeira seleção (Rivellino,
Carlos Alberto, Edinho, Doval,
Pintinho etc.), mas prevaleceu a
garra corintiana.
Desta vez, há poucas estrelas
nos dois lados, mas é o Corinthians que tem mais time. (O São
Caetano, porém, também tinha e
tomou de três.)
Vidas fugazes
A morte de Mahicon Librelato, aos 21 anos, coloca-o ao lado de Dener e Roberto Batata
na lista de atletas talentosos
que tiveram sua carreira cortada brutalmente por acidentes de carro. A avenida Beira-Mar Norte, de Florianópolis,
onde Librelato se acidentou,
é uma incitação ao assassinato e um convite ao suicídio,
pela impunidade com que os
carros voam na pista.
Futebol pão-duro
Se o São Paulo morreu de novo na praia depois de realizar
uma bela travessia, o Grêmio
mostrou que é mesmo um time de chegada. Mesmo sem
empolgar, jogou o suficiente
para passar pelo Juventude,
que havia liderado o campeonato por várias rodadas. Assim como o Corinthians de
Parreira (sobretudo na primeira fase), o Grêmio de Tite
parece avesso a qualquer desperdício -de gols, de pontos
ou de talento.
E-mail jgcouto@uol.com.br
Texto Anterior: Motor - José Henrique Mariante: Comercial Próximo Texto: Futebol: Eliminação fará São Paulo cortar salários Índice
|