São Paulo, sábado, 30 de novembro de 2002

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FUTEBOL

Ejaculação precoce

JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA

Agora quem dá bola é o Santos. O time vinha mal nas últimas rodadas da primeira fase e se classificou por um triz. Mas, na hora da decisão, os meninos da Vila viraram gigantes. Chegaram com todos os méritos às semifinais e não parecem dispostos a parar por aí.
Com a eliminação do São Paulo, o Santos torna-se automaticamente o time-sensação do torneio, aquele no qual todos os não-torcedores dos outros três semifinalistas depositam suas esperanças de um futebol alegre e vistoso.
O time tricolor fez uma campanha brilhante, acumulou gols e pontos além da conta, mas sucumbiu no mata-mata, a exemplo do que havia ocorrido no Torneio Rio-SP e na Copa do Brasil.
Há várias maneiras de encarar isso. Uma delas é protestar contra a "injustiça" do atual formato do Campeonato Brasileiro, que permite que clubes de melhor campanha sejam eliminados por outros de desempenho mais fraco ao longo da competição.
A propósito: dos quatro melhores da primeira fase, só o Corinthians continua na disputa. Os outros três já ficaram no meio do caminho.
Concordo que o torneio por pontos corridos, em turno e returno, é a fórmula mais justa e racional de disputa.
Mas os são-paulinos não têm do que reclamar. Afinal, o clube subscreveu as regras vigentes, que, aliás, estão aí há décadas. O São Paulo teve, ademais, duas chances de fazer seu suposto melhor futebol prevalecer sobre o Santos. Perdeu as duas.
Várias coisas ajudam a explicar a derrota são-paulina. Uma delas é a sua dificuldade em jogar contra equipes que não lhe dão campo para o contra-ataque.
O Santos, sobretudo na partida de anteontem, exerceu uma marcação perfeita sobre os jogadores de criação do São Paulo, Kaká e Ricardinho, diminuindo os espaços para as arrancadas do primeiro e os lançamentos do segundo.
Outra explicação possível para a derrota do São Paulo é o fato de o time ter chegado antes da hora a seu ápice técnico e, digamos, moral. Dez vitórias seguidas, a sensação de ser campeão por antecipação, tudo isso tirou um pouco o "punch" da equipe. Foi uma espécie de ejaculação precoce.
Algo parecido aconteceu com a Argentina, que atingiu seu apogeu nas eliminatórias sul-americanas e chegou à Copa-2002 já em movimento descendente.
Mas a principal razão da queda tricolor foi a alta qualidade do time santista. Quando o Santos acerta a marcação no meio-campo (com Renato e Paulo Almeida) e encaixa o contra-ataque (com Diego e Robinho), contando ainda com as descidas alternadas dos laterais, torna-se uma equipe quase irresistível.
 
Quando Fluminense e Corinthians entrarem no Maracanã amanhã, será impossível deixar de lembrar outra semifinal nacional entre os dois clubes, ocorrida no mesmo estádio há 26 anos.
Naquela ocasião -conhecida como "invasão corintiana" por conta dos 70 mil torcedores alvinegros que tomaram metade do Maracanã-, o Flu tinha uma verdadeira seleção (Rivellino, Carlos Alberto, Edinho, Doval, Pintinho etc.), mas prevaleceu a garra corintiana.
Desta vez, há poucas estrelas nos dois lados, mas é o Corinthians que tem mais time. (O São Caetano, porém, também tinha e tomou de três.)

Vidas fugazes
A morte de Mahicon Librelato, aos 21 anos, coloca-o ao lado de Dener e Roberto Batata na lista de atletas talentosos que tiveram sua carreira cortada brutalmente por acidentes de carro. A avenida Beira-Mar Norte, de Florianópolis, onde Librelato se acidentou, é uma incitação ao assassinato e um convite ao suicídio, pela impunidade com que os carros voam na pista.

Futebol pão-duro
Se o São Paulo morreu de novo na praia depois de realizar uma bela travessia, o Grêmio mostrou que é mesmo um time de chegada. Mesmo sem empolgar, jogou o suficiente para passar pelo Juventude, que havia liderado o campeonato por várias rodadas. Assim como o Corinthians de Parreira (sobretudo na primeira fase), o Grêmio de Tite parece avesso a qualquer desperdício -de gols, de pontos ou de talento.

E-mail jgcouto@uol.com.br


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