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TÊNIS
On the road
RÉGIS ANDAKU
COLUNISTA DA FOLHA
Ligo para Passo Fundo e quase não consigo falar com
Marcos Daniel. Com a temporada encerrada, boa parte do tempo
este rapaz, 27, hoje único brasileiro entre o top 100, está gastando
com seu hobby predileto: uma bela motocicleta -passeios pela cidade, viagens ou simplesmente
lavando a moto, como quando
conversamos, na sexta.
Discreto, calmo, pouca gente
ouviu falar até hoje dele. Não faz
parte da "turminha" que aparece
aqui e ali no noticiário relacionado ao tênis. Não é genioso, intempestivo. Não tem apadrinhados
-nem puxa o saco de ninguém.
Não tem assessoria de imprensa,
nem vive cercado de gente que faz
oba-oba. Melhor tenista do país,
não tem patrocínio -nem nunca
teve (nem mesmo um fornecedor
de roupa que pudesse exibir a
marca no uniforme).
"Não é que eu seja um cara sozinho. É que eu sempre tive de correr atrás das coisas sozinho, sem
ajuda, então pode ficar essa idéia.
Eu não viajo sozinho por opção,
por exemplo. É que não dá pra levar meu técnico. São duas passagens aéreas, duas bocas pra comer", explica, voz calma. "Quem
sabe agora eu consigo levá-lo para um ou outro torneio?"
Neste ano, pela primeira vez em
sua carreira, o gaúcho rompeu a
barreira do top 100, bonito. "Já estava correndo atrás disso havia
muito tempo, sempre acreditei
que tinha jogo para isso, mas era
um sonho. Agora consegui."
A virada começou só em setembro. Daniel foi à final do Challenger de Sevilha, mas não ganhou o
título. Na cabeça, porém, ficou a
idéia de que, poxa, poderia jogar
de igual para igual com qualquer
um. "Um dia, levantei e deu um
estalo, caiu a ficha." Duas semanas depois, no primeiro ATP do
ano em que entrou direto na chave principal, teve de encarar Roger Federer, aquele. E ficou longe
de fazer feio. Pelo contrário, saiu
de quadra, piso rápido, indoor, o
predileto do suíço, com respeitosos 6/7, 4/6, confiante.
Somou-se a isso um calendário
bem configurado, desenhado com
a ajuda do irmão-treinador-amigo, Marcio. E, com jogo mais consistente e cabeça mais positiva, os
bons resultados continuaram vindo -dois títulos e uma final em
três Challengers seguintes ao confronto com Federer.
A boa cabeça revela também
um tenista menos ansioso hoje.
"Antes me preocupava com muitas coisas. Ficava chateado, preocupado se não era convocado para a Davis. Mudei a mentalidade.
Faço meu trabalho; quem quiser
ver e valorizar, os resultados estão
aí", fala, não com desdém, mas
boa dose de maturidade.
Como todo bom motoqueiro
que se preze, Marcos Daniel parece não se incomodar nem um
pouco de fazer o seu caminho sem
ser visto. "Easy rider", vai a Camboriú passar o Natal com os pais.
Depois, sozinho, Chenai, na Índia, Sydney e o Aberto da Austrália. Em seguida, a gira latino-americana. "Não fico esperando
nada dos outros. Tenho de seguir
melhorando o meu jogo. É disso,
do tênis, que eu vivo. O que eu ganho hoje é para jogar amanhã."
Marcos Daniel está na estrada,
sozinho, mas cumprindo um papel bonito. Olho nele.
Ainda sobre a Masters Cup
Quatro leitores não entenderam que ao dizer que Federer abandonara o jogo contra Nalbandian na final, a coluna não queria cravar que
ele havia saído de quadra. Óbvio que ele seguiu jogando -bastava
ver o placar. Dizia que o suíço, ao sentir a lesão no tornozelo, simplesmente deixava o caminho livre para o argentino levantar a taça.
Copa Petrobras
O argentino Carlos Berlocq ganhou o título da última etapa em casa.
Circuito Unimed
Moacir Santos, Aline Berkenbrock (18 anos), Fernando Romboli,
Gabriela Rangel (16), André Vidaller, Flávia Borges (14), Victor Galvão e Martina Yurgel foram os campeões do Masters, no Rio.
E-mail - reandaku@uol.com.br
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