São Paulo, quarta-feira, 30 de novembro de 2005

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

TÊNIS

On the road

RÉGIS ANDAKU
COLUNISTA DA FOLHA

Ligo para Passo Fundo e quase não consigo falar com Marcos Daniel. Com a temporada encerrada, boa parte do tempo este rapaz, 27, hoje único brasileiro entre o top 100, está gastando com seu hobby predileto: uma bela motocicleta -passeios pela cidade, viagens ou simplesmente lavando a moto, como quando conversamos, na sexta.
Discreto, calmo, pouca gente ouviu falar até hoje dele. Não faz parte da "turminha" que aparece aqui e ali no noticiário relacionado ao tênis. Não é genioso, intempestivo. Não tem apadrinhados -nem puxa o saco de ninguém. Não tem assessoria de imprensa, nem vive cercado de gente que faz oba-oba. Melhor tenista do país, não tem patrocínio -nem nunca teve (nem mesmo um fornecedor de roupa que pudesse exibir a marca no uniforme).
"Não é que eu seja um cara sozinho. É que eu sempre tive de correr atrás das coisas sozinho, sem ajuda, então pode ficar essa idéia. Eu não viajo sozinho por opção, por exemplo. É que não dá pra levar meu técnico. São duas passagens aéreas, duas bocas pra comer", explica, voz calma. "Quem sabe agora eu consigo levá-lo para um ou outro torneio?"
Neste ano, pela primeira vez em sua carreira, o gaúcho rompeu a barreira do top 100, bonito. "Já estava correndo atrás disso havia muito tempo, sempre acreditei que tinha jogo para isso, mas era um sonho. Agora consegui."
A virada começou só em setembro. Daniel foi à final do Challenger de Sevilha, mas não ganhou o título. Na cabeça, porém, ficou a idéia de que, poxa, poderia jogar de igual para igual com qualquer um. "Um dia, levantei e deu um estalo, caiu a ficha." Duas semanas depois, no primeiro ATP do ano em que entrou direto na chave principal, teve de encarar Roger Federer, aquele. E ficou longe de fazer feio. Pelo contrário, saiu de quadra, piso rápido, indoor, o predileto do suíço, com respeitosos 6/7, 4/6, confiante.
Somou-se a isso um calendário bem configurado, desenhado com a ajuda do irmão-treinador-amigo, Marcio. E, com jogo mais consistente e cabeça mais positiva, os bons resultados continuaram vindo -dois títulos e uma final em três Challengers seguintes ao confronto com Federer.
A boa cabeça revela também um tenista menos ansioso hoje. "Antes me preocupava com muitas coisas. Ficava chateado, preocupado se não era convocado para a Davis. Mudei a mentalidade. Faço meu trabalho; quem quiser ver e valorizar, os resultados estão aí", fala, não com desdém, mas boa dose de maturidade.
Como todo bom motoqueiro que se preze, Marcos Daniel parece não se incomodar nem um pouco de fazer o seu caminho sem ser visto. "Easy rider", vai a Camboriú passar o Natal com os pais. Depois, sozinho, Chenai, na Índia, Sydney e o Aberto da Austrália. Em seguida, a gira latino-americana. "Não fico esperando nada dos outros. Tenho de seguir melhorando o meu jogo. É disso, do tênis, que eu vivo. O que eu ganho hoje é para jogar amanhã."
Marcos Daniel está na estrada, sozinho, mas cumprindo um papel bonito. Olho nele.

Ainda sobre a Masters Cup
Quatro leitores não entenderam que ao dizer que Federer abandonara o jogo contra Nalbandian na final, a coluna não queria cravar que ele havia saído de quadra. Óbvio que ele seguiu jogando -bastava ver o placar. Dizia que o suíço, ao sentir a lesão no tornozelo, simplesmente deixava o caminho livre para o argentino levantar a taça.

Copa Petrobras
O argentino Carlos Berlocq ganhou o título da última etapa em casa.

Circuito Unimed
Moacir Santos, Aline Berkenbrock (18 anos), Fernando Romboli, Gabriela Rangel (16), André Vidaller, Flávia Borges (14), Victor Galvão e Martina Yurgel foram os campeões do Masters, no Rio.


E-mail - reandaku@uol.com.br

Texto Anterior: Futebol: Rixa de Fifa e agência antidoping alcança a máxima corte esportiva
Próximo Texto: Futebol - Tostão: Canto triste do Galo
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.