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FUTEBOL
A hora dos urubus
JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA
O Sindicato dos Atletas de
São Paulo e a Federação Nacional dos Atletas Profissionais de
Futebol divulgaram manifesto
contra o linchamento moral sofrido pelos jogadores da seleção brasileira sub-23 depois de sua desclassificação no Pré-Olímpico do
Chile. Não sou atleta profissional,
mas assino embaixo.
A repercussão do fracasso brasileiro diz muito sobre nossa cultura futebolística, e em especial sobre certa crônica esportiva que
gosta de saciar os sentimentos
vingativos que costumam aflorar
nos torcedores após as derrotas.
Não estou dizendo que a seleção
não deva ser criticada. Apontar
as falhas táticas e técnicas da
equipe é a obrigação de qualquer
comentarista.
Mas o que houve ao longo desta
semana, com raras exceções, não
foi crítica e sim condenação sumária. Tudo aquilo que antes era
apontado como virtude dos jogadores -a alegria, a irreverência- passou a ser visto como pecado mortal. Habilidade virou firula, talento virou máscara.
O curioso é que, se uma só das
várias chances que perdemos contra o Paraguai tivesse se convertido em gol, os defeitos da seleção
seriam esquecidos, assim como
foram esquecidas as fraquezas da
seleção de Felipão que conquistou
o pentacampeonato mundial.
A arrogância dos supremos inquisidores que condenaram à fogueira os garotos da sub-23 só é
comparável à dos treinadores
Parreira e Zagallo, que manifestaram não apenas falta de ética,
mas também de autocrítica, ao
atacarem o trabalho de Ricardo
Gomes e seus comandados.
Até parece que a seleção principal está esbanjando futebol e passando com folga sobre seus adversários nas eliminatórias. Até parece que Zagallo não perdeu duas
Copas tendo em mãos alguns dos
maiores jogadores do mundo.
Ou seja, quem mais acusa os
atletas pré-olímpicos de falta de
humildade é justamente quem
não tem humildade alguma.
Sei que o dia seguinte às grandes derrotas é propício à caça aos
culpados, à sede de sangue, ao desejo de catarse.
É justamente nessas horas que a
razão e o equilíbrio são mais necessários.
Como exercício de ponderação,
basta lembrar o que aconteceu
com a seleção olímpica eliminada
por Camarões nos Jogos de
Sydney-2000. Os maiores craques
do time, Alex e Ronaldinho Gaúcho, foram responsabilizados pela
derrota, acusados de apáticos,
omissos, "mascarados". Houve
quem dissesse que ambos eram
"invenções da mídia".
Por sorte, os dois deram a volta
por cima e calaram seus críticos.
Espero sinceramente que Diego,
Robinho, Daniel Carvalho e companhia consigam fazer o mesmo.
Espero também que Ricardo
Gomes -a quem critiquei bastante durante o Pré-Olímpico-
aprenda com os erros e se torne
um grande treinador.
Pelo menos uma qualidade essencial ele mostrou: a nobreza de
assumir sua responsabilidade pelo insucesso, algo que nem sempre
seus presunçosos críticos demonstraram.
Clássico promissor
Palmeiras e Santos fazem amanhã o primeiro grande clássico
do ano em São Paulo. Posso
queimar a língua, mas a meu
ver são os dois maiores favoritos ao título paulista, um pouco
à frente de São Paulo e São Caetano. O Santos, porque manteve e até reforçou seu ótimo
elenco, que joga junto há dois
anos. O Palmeiras, porque vem
da Segundona sedento de títulos e também tem um time coeso e bem armado.
Auxílio aos veteranos
A volta de Roger ao Fluminense
é uma rara boa notícia no Estadual do Rio, que já foi chamado
de "sub-40", dada a quantidade
de jogadores veteranos que os
clubes cariocas insistem em
contratar. Agora Romário e Edmundo já têm quem corra por
eles.
E-mail jgcouto@uol.com.br
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