São Paulo, sábado, 31 de janeiro de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

FUTEBOL

A hora dos urubus

JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA

O Sindicato dos Atletas de São Paulo e a Federação Nacional dos Atletas Profissionais de Futebol divulgaram manifesto contra o linchamento moral sofrido pelos jogadores da seleção brasileira sub-23 depois de sua desclassificação no Pré-Olímpico do Chile. Não sou atleta profissional, mas assino embaixo.
A repercussão do fracasso brasileiro diz muito sobre nossa cultura futebolística, e em especial sobre certa crônica esportiva que gosta de saciar os sentimentos vingativos que costumam aflorar nos torcedores após as derrotas.
Não estou dizendo que a seleção não deva ser criticada. Apontar as falhas táticas e técnicas da equipe é a obrigação de qualquer comentarista.
Mas o que houve ao longo desta semana, com raras exceções, não foi crítica e sim condenação sumária. Tudo aquilo que antes era apontado como virtude dos jogadores -a alegria, a irreverência- passou a ser visto como pecado mortal. Habilidade virou firula, talento virou máscara.
O curioso é que, se uma só das várias chances que perdemos contra o Paraguai tivesse se convertido em gol, os defeitos da seleção seriam esquecidos, assim como foram esquecidas as fraquezas da seleção de Felipão que conquistou o pentacampeonato mundial.
A arrogância dos supremos inquisidores que condenaram à fogueira os garotos da sub-23 só é comparável à dos treinadores Parreira e Zagallo, que manifestaram não apenas falta de ética, mas também de autocrítica, ao atacarem o trabalho de Ricardo Gomes e seus comandados.
Até parece que a seleção principal está esbanjando futebol e passando com folga sobre seus adversários nas eliminatórias. Até parece que Zagallo não perdeu duas Copas tendo em mãos alguns dos maiores jogadores do mundo.
Ou seja, quem mais acusa os atletas pré-olímpicos de falta de humildade é justamente quem não tem humildade alguma.
Sei que o dia seguinte às grandes derrotas é propício à caça aos culpados, à sede de sangue, ao desejo de catarse.
É justamente nessas horas que a razão e o equilíbrio são mais necessários.
Como exercício de ponderação, basta lembrar o que aconteceu com a seleção olímpica eliminada por Camarões nos Jogos de Sydney-2000. Os maiores craques do time, Alex e Ronaldinho Gaúcho, foram responsabilizados pela derrota, acusados de apáticos, omissos, "mascarados". Houve quem dissesse que ambos eram "invenções da mídia".
Por sorte, os dois deram a volta por cima e calaram seus críticos. Espero sinceramente que Diego, Robinho, Daniel Carvalho e companhia consigam fazer o mesmo.
Espero também que Ricardo Gomes -a quem critiquei bastante durante o Pré-Olímpico- aprenda com os erros e se torne um grande treinador.
Pelo menos uma qualidade essencial ele mostrou: a nobreza de assumir sua responsabilidade pelo insucesso, algo que nem sempre seus presunçosos críticos demonstraram.

Clássico promissor
Palmeiras e Santos fazem amanhã o primeiro grande clássico do ano em São Paulo. Posso queimar a língua, mas a meu ver são os dois maiores favoritos ao título paulista, um pouco à frente de São Paulo e São Caetano. O Santos, porque manteve e até reforçou seu ótimo elenco, que joga junto há dois anos. O Palmeiras, porque vem da Segundona sedento de títulos e também tem um time coeso e bem armado.

Auxílio aos veteranos
A volta de Roger ao Fluminense é uma rara boa notícia no Estadual do Rio, que já foi chamado de "sub-40", dada a quantidade de jogadores veteranos que os clubes cariocas insistem em contratar. Agora Romário e Edmundo já têm quem corra por eles.

E-mail jgcouto@uol.com.br


Texto Anterior: Motor - José Henrique Mariante: Finalmente 2004
Próximo Texto: Tênis: Federer é o 23º líder do ranking na história
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.