São Paulo, sábado, 31 de janeiro de 2009

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JOSÉ GERALDO COUTO

Todos os tempos mais um


No campo da imaginação, aperfeiçoamos o time ideal como quem lapida um futebol de sonho

COMO ERA de se esperar, a seleção "de todos os tempos" do Campeonato Paulista que esbocei aqui na última coluna suscitou algumas contestações e vários reparos por parte dos leitores. Volto, pois, ao assunto, até porque ele lança luz sobre o caráter seletivo e enganoso da memória, bem como sobre o que há de sentimental e subjetivo em todas as escolhas desse tipo.
Antes de seguir adiante, relembro aqui a seleção que escalei, repetindo que entraram nela somente jogadores que vi atuar, portanto "todos os tempos" são dos anos 60 para cá: Gilmar; Carlos Alberto, Luiz Pereira, Roberto Dias e Wladimir; Gérson, Ademir da Guia e Pedro Rocha;
Pelé, Ronaldo e Rivellino.
Os nomes mais contestados dessa seleção foram os do quarto-zagueiro Roberto Dias e do lateral-esquerdo Wladimir. Para o lugar do primeiro, na zaga, os nomes sugeridos foram vários: Dario Pereyra, Ramos Delgado, Oscar, Gamarra. Para a lateral- -esquerda, basicamente um só: Roberto Carlos, embora um leitor tenha dito que talvez Léo, ex-Santos, também merecesse a vaga. Outro mencionou Marinho Chagas, mas considero que o jogador, quando atuou pelo São Paulo, nos anos 80, já não estava na sua melhor forma.
Por esse critério de exclusão ficaram de fora craques que só jogaram no Estado quando já estavam baleados e em fim de carreira, como Garrincha e Falcão. Reconheço que, para ser coerente com esse princípio, o primeiro a sair da minha seleção deve ser Ronaldo, que, como bem lembrou um leitor, nem sabemos se chegará a jogar pelo Corinthians no Paulistão. Então, fora Ronaldo.
Mas voltemos a Dias e Wladimir.
Embora respeite as opiniões contrárias, mantenho os dois. Pensei que minha opção por eles se devesse a motivos subjetivos, já que o primeiro foi um ídolo de infância e o segundo representa como ninguém o time da minha predileção, o Corinthians.
Consultei minhas bases, ou seja, meu irmão Claudio, que trabalhou como médico num punhado de clubes e seleções, e ele me relatou que o técnico Evaristo de Macedo lhe disse uma vez que o melhor quarto-zagueiro que ele viu jogar foi Roberto Dias. Ora, Evaristo brilhou no Flamengo, no Barcelona e no Real Madrid, enfrentando os melhores beques do mundo. Vou na dele e mantenho Dias.
Quanto a Wladimir, foi um jogador tecnicamente completo, além de ser mais regular que Roberto Carlos e dono de uma fibra inigualável. Também continua no meu time.
Já a saída de Ronaldo me deu até um certo alívio, pois abre espaço para a inclusão de um nome que não poderia ficar de fora, e que foi citado por vários leitores: Sócrates. Imagine o Doutor trocando passes com Rivellino, Pelé, Ademir...
Outros jogadores lembrados mereciam ao menos disputar uma posição nesse time: Clodoaldo, Rivaldo, Kaká, Edu (ponta-esquerda do Santos), Careca.
Claro que não há espaço para todos no campo do real, mas, na nossa imaginação, sim. É ela que nos faz sair do ramerrame cotidiano, saltar as décadas, desconcertar as cronologias, desprezar as limitações físicas e construir um futebol de sonho como quem compõe um quadro pintado ao mesmo tempo por Michelangelo, Van Gogh e Picasso.

jgcouto@uol.com.br


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