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MOTOR
Em busca de tempo
JOSÉ HENRIQUE MARIANTE
EDITOR-ADJUNTO DE ESPORTE
Tanques com um leve bafo
de gasolina devem decidir
hoje a classificação em Mônaco.
Consequência direta, a corrida de
amanhã pode se transformar em
um festival maluco de pit stops logo após a bandeirada. O novo regulamento vai revolucionar o GP
mais tradicional da F-1?
Schumacher, confortável após
um insolente primeiro tempo na
quinta-feira, acredita que não. Já
disse que esta será uma corrida
como as outras e que, mesmo com
a ínfima chance de ultrapassagem, a tática será importante,
mas matematicamente ortodoxa.
Tem gente, no entanto, que vislumbra inovações. Sam Michael,
o novo menino-prodígio da Wil-liams, diz que um time que consiga ocupar a primeira fila com
uma autonomia de pelo menos 15
voltas pode aprontar feio. Para
tanto, um dos pilotos teria que se
sacrificar pelo outro e segurar a
tropa enquanto o companheiro
acumula vantagem. Se o escudeiro conseguir dar mais ou menos
dois segundos por volta para o líder, este pára para o primeiro pit
com 30 ou mais segundos de lambuja e retorna à pista em excelentes condições de obter a vitória.
Corrobora a tese o fato de haver
uma nova saída dos boxes, que,
segundo muitas equipes, facilita
uma operação historicamente
complexa -tanto que a opção
por duas paradas, antes rara, pode se tornar regra neste ano.
O único e crucial problema da
arrojada estratégia é o time escolher o autor do trabalho sujo, que
provavelmente receberá junto
com o agradecimento do companheiro uma chuva de críticas e o
olhar severo dos comissários,
orientados, ainda não se sabe como, a coibir o jogo de equipe.
Para quem já está de papel, lápis e calculadora na mão, é bom
lembrar que a Renault prometeu
para o principado não só uma vitória, mas uma dobradinha.
Heterodoxias à parte, Schumacher corre pela sexta vitória na
Riviera, ou seja, pode se igualar a
Senna e candidatar-se ao título
de novo Mr. Mônaco, como o brasileiro fez com Graham Hill.
Seria, enfim, mais uma marca
do tricampeão a fugir dos anais.
Pior, o recorde de poles, número
que muitos acreditavam inatingível, seja pela sua dimensão seja
pelo fato de o alemão não ser exatamente um especialista, está cada vez mais próximo -o placar,
antes do treino de hoje, é 54 a 65.
Faz tempo que Senna foi relegado a uma simples memória dentro da F-1. Fora dela, o tricampeão parecer perder paulatinamente o caráter divino que lhe foi
atribuído logo após a sua morte.
Sinal desse processo, a Folha publicou nesta semana foto do monumento erguido no Ibirapuera
em sua homenagem pichado.
Instalada na boca de um túnel
por motivos eleitoreiros, a representação do piloto de carro e bandeira em punho há tempos é violada. Como bem observou um colega, Senna virou um Duque de
Caxias, outro herói nacional esquecido em forma de estátua na
seca urbanidade paulistana.
Sujeito às intempéries do tempo
e à ira adolescente de quem não
faz a mínima idéia do que ele fez.
Senna, quem diria, envelheceu.
Piquetices
A mídia inglesa descobriu o filho do tricampeão. Mas, em entrevista
ao "Independent", o que sobrou mesmo foi a língua solta do pai. "Temos Barrichello que não é bom o suficiente." "Schumacher é melhor
do que Senna foi. Essa não é a minha opinião, são os fatos." "Temos
no Brasil uma tradição no esporte a motor e um monte de pilotos,
mas eles não estão no nível mais alto." Sim, ele falou sobre o filho. "É
melhor piloto do que eu." "Talvez seja o próximo brasileiro campeão
mundial. Esperamos." Enfim, mais uma vez, palavras de Piquet.
Anel no dedo
Após seu pior acidente, o bicampeão venceu as 500 Milhas e entrou
para a história de Indianápolis. Foi honesto ao dizer que agora só falta bater Schumacher. Gil é de fato uma das maiores injustiças da F-1.
E-mail mariante@uol.com.br
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