UOL


São Paulo, sábado, 31 de maio de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

MOTOR

Em busca de tempo

JOSÉ HENRIQUE MARIANTE
EDITOR-ADJUNTO DE ESPORTE

Tanques com um leve bafo de gasolina devem decidir hoje a classificação em Mônaco. Consequência direta, a corrida de amanhã pode se transformar em um festival maluco de pit stops logo após a bandeirada. O novo regulamento vai revolucionar o GP mais tradicional da F-1?
Schumacher, confortável após um insolente primeiro tempo na quinta-feira, acredita que não. Já disse que esta será uma corrida como as outras e que, mesmo com a ínfima chance de ultrapassagem, a tática será importante, mas matematicamente ortodoxa.
Tem gente, no entanto, que vislumbra inovações. Sam Michael, o novo menino-prodígio da Wil-liams, diz que um time que consiga ocupar a primeira fila com uma autonomia de pelo menos 15 voltas pode aprontar feio. Para tanto, um dos pilotos teria que se sacrificar pelo outro e segurar a tropa enquanto o companheiro acumula vantagem. Se o escudeiro conseguir dar mais ou menos dois segundos por volta para o líder, este pára para o primeiro pit com 30 ou mais segundos de lambuja e retorna à pista em excelentes condições de obter a vitória.
Corrobora a tese o fato de haver uma nova saída dos boxes, que, segundo muitas equipes, facilita uma operação historicamente complexa -tanto que a opção por duas paradas, antes rara, pode se tornar regra neste ano.
O único e crucial problema da arrojada estratégia é o time escolher o autor do trabalho sujo, que provavelmente receberá junto com o agradecimento do companheiro uma chuva de críticas e o olhar severo dos comissários, orientados, ainda não se sabe como, a coibir o jogo de equipe.
Para quem já está de papel, lápis e calculadora na mão, é bom lembrar que a Renault prometeu para o principado não só uma vitória, mas uma dobradinha.
 
Heterodoxias à parte, Schumacher corre pela sexta vitória na Riviera, ou seja, pode se igualar a Senna e candidatar-se ao título de novo Mr. Mônaco, como o brasileiro fez com Graham Hill.
Seria, enfim, mais uma marca do tricampeão a fugir dos anais. Pior, o recorde de poles, número que muitos acreditavam inatingível, seja pela sua dimensão seja pelo fato de o alemão não ser exatamente um especialista, está cada vez mais próximo -o placar, antes do treino de hoje, é 54 a 65.
Faz tempo que Senna foi relegado a uma simples memória dentro da F-1. Fora dela, o tricampeão parecer perder paulatinamente o caráter divino que lhe foi atribuído logo após a sua morte. Sinal desse processo, a Folha publicou nesta semana foto do monumento erguido no Ibirapuera em sua homenagem pichado.
Instalada na boca de um túnel por motivos eleitoreiros, a representação do piloto de carro e bandeira em punho há tempos é violada. Como bem observou um colega, Senna virou um Duque de Caxias, outro herói nacional esquecido em forma de estátua na seca urbanidade paulistana.
Sujeito às intempéries do tempo e à ira adolescente de quem não faz a mínima idéia do que ele fez. Senna, quem diria, envelheceu.

Piquetices
A mídia inglesa descobriu o filho do tricampeão. Mas, em entrevista ao "Independent", o que sobrou mesmo foi a língua solta do pai. "Temos Barrichello que não é bom o suficiente." "Schumacher é melhor do que Senna foi. Essa não é a minha opinião, são os fatos." "Temos no Brasil uma tradição no esporte a motor e um monte de pilotos, mas eles não estão no nível mais alto." Sim, ele falou sobre o filho. "É melhor piloto do que eu." "Talvez seja o próximo brasileiro campeão mundial. Esperamos." Enfim, mais uma vez, palavras de Piquet.

Anel no dedo
Após seu pior acidente, o bicampeão venceu as 500 Milhas e entrou para a história de Indianápolis. Foi honesto ao dizer que agora só falta bater Schumacher. Gil é de fato uma das maiores injustiças da F-1.

E-mail mariante@uol.com.br


Texto Anterior: Vôlei: Brasil derrota Itália fora pela Liga Mundial
Próximo Texto: Futebol - José Geraldo Couto: A graça e a desgraça do frango
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.