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FUTEBOL
A graça e a desgraça do frango
JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA
Um frango colocou o Santos
na semifinal da Libertadores, outro frango tirou o Grêmio
do torneio.
O primeiro foi engolido pelo goleiro Perez, do Cruz Azul; o segundo, pelo controvertido Danrlei, que em tantas noites mais memoráveis fechou o gol gremista. E
parece que o arqueiro do River
Plate, Buljubasich, também ficou
com as penas nas mãos pelo menos duas vezes na partida contra
o América de Cali.
A ironia é que, na mesma semana em que a América Latina presenciou falhas catastróficas, a Europa se curvou diante da competência de um goleiro brasileiro,
Dida, que pegou três pênaltis na
final da Copa dos Campeões.
São os dois extremos em que o
goleiro, normalmente um ser
quase tão anônimo quanto as
traves, vira manchete de jornal:
quando defende pênalti ou quando toma frango.
"A poesia do futebol está no
frango", dizia Nelson Rodrigues,
referindo-se certamente ao que
há de inesperado, cômico e trágico nessa falha capital. O frango
inverte as expectativas, sacode a
modorra, desperta o torcedor para a carga dramática do jogo.
Mas há frangos e frangos. Nem
todos são iguais. Talvez seja possível classificá-los de acordo com
uma tipologia.
Por falta de espaço e de competência, não vou nem tentar. Só
chamo a atenção para os dois tipos básicos de frango: o "técnico"
e o "psicológico".
O frango que chamo de técnico
é aquele que advém de uma falha
de colocação, de um cálculo mal
feito da trajetória ou da força da
bola, de um golpe defeituoso de
mão (um tapa muito fraco, por
exemplo) ou de pé (uma furada),
de um salto atrasado etc.
Foi o caso, por exemplo, de
Danrlei, no jogo de anteontem.
Ou de Marcos, defendendo o Palmeiras na final do Mundial interclubes de 99. Calculou mal a trajetória da bola num cruzamento e
só foi encontrá-la dentro do gol.
Já o frango "psicológico" é causado exclusivamente pelo estado
mental do goleiro. Se ele estiver
distraído ou demasiado afoito,
poderá deixar de prestar atenção
no que está fazendo e meter os pés
pelas mãos (ou vice-versa).
Um exemplo clássico é o de
Waldir Peres, no primeiro jogo do
Brasil na Copa de 82, contra a então União Soviética. A bola veio
tão fraquinha que, ao se ajoelhar
para apará-la, ele já estava pensando no que fazer em seguida
(Sair jogando com um lateral?
Dar um chutão para o meio-de-campo? Lançar com as mãos?).
Com a mente voltada para o futuro, Waldir não deu a devida
atenção ao gesto prosaico de encaixar a bola junto ao peito, submetê-la, acabar com a vida que
ainda vibrava nela, antes de fazê-la ressuscitar e voltar ao jogo sem
perigo. Quando se deu conta, a
maligna estava dentro do gol.
As câmeras mostraram por todos os ângulos a desolação de
Waldir Peres. A fragilidade de um
homem diante do destino insondável: foi essa a poesia do futebol
que milhões de pessoas pelo mundo afora presenciaram naquele
instante.
Clássico desfalcado
Os desfalques do São Paulo (Ricardinho, Kaká, Leonardo,
Souza e Fabiano) não apenas
desfiguram o time, mas também tiram muito da graça do
clássico de amanhã, contra o
Santos. De todo modo, motivação não deve faltar, pois, sem
falar da rivalidade tradicional,
os dois times estão em luta direta pelas primeiras colocações
no Brasileirão.
Rodada quente
Outros jogos cruciais da rodada
devem ser Fluminense x Atlético-PR e Vasco x Atlético-MG.
O Furacão, que vem de uma bela goleada sobre o Flamengo,
tentará repetir a façanha contra
o abalado Flu, que perdeu de 3 a
0 para o Atlético-MG. O Galo,
por sua vez, procura voltar ao
topo da tabela, enquanto o Vasco tenta manter as esperanças.
E-mail jgcouto@uol.com.br
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