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MOTOR
O solista
JOSÉ HENRIQUE MARIANTE
EDITOR-ADJUNTO DE ESPORTE
Sem querer, no último domingo, segui a receita Mansell de
ver F-1 nestes dias: ligar a TV,
acompanhar a largada, sair para
fazer qualquer outra coisa e voltar para conferir a bandeirada.
Muitos diriam que funciona, já
que o alemão largou na frente e
na frente chegou, como em quase
todas as corridas deste ano. Os
puristas diriam que não, e eles
têm razão, já que no mínimo perdi a espetacular corrida de Button, de 13º a segundo, segurando
o capacete com a mão. Mas isso é
detalhe. O Mundial-2004 é um
passeio para Schumacher.
Muitos diriam que todo esse
show de corridas cronometradas
não tem a mínima graça e que a
F-1 de outros tempos era muito
mais divertida. Os puristas, uma
vez mais, retrucariam, show é
show, mesmo que seja solo.
Esse raciocínio é vital para tentar entender Schumacher. É um
solista, suas melhores apresentações em todos esses anos prescindiram de adversários. Coadjuvantes, quando existiram, só
atrapalharam. É ridículo imaginar, por exemplo, que algum dia
precisou de Barrichello. O brasileiro, Ross Brawn, os mecânicos,
todos eles trabalham para o primeiro piloto da Ferrari e da F-1
dar espetáculo.
Schumacher é a antítese do
duelista, perfil que perseguimos
em um piloto de ponta desde que
vimos Senna correr contra Prost.
Eles marcaram uma geração,
mas também acabaram com a seguinte. Nunca mais um time conseguiu ou quis colocar seus dois
pilotos para correr de verdade.
Senna x Prost foi o último momento de real combate na F-1. O
que vemos desde então são esses
poucos e brilhantes vôos solos, como Donington/93 e Spa/95, gotas
em um deserto de desempenhos
discrepantes, domínios e abismos.
Ocorreram só duas exceções, as
duas da era Schumacher. Só que
nas decisões de 94 e 97, o alemão
tampouco duelou. Inferiorizado,
se desesperou. No primeiro, a sorte lhe sorriu, talvez merecidamente, já que sua temporada foi muito melhor que a de Hill, um rival
fabricado. No segundo, contra o
mocinho Villeneuve, lhe traiu.
Sua já contestada reputação desceu a um nível insuportável.
Schumacher jogou o carro em
cima dos rivais nos dois casos como se estivesse em uma briga de
trânsito. Não teve receio, não teve
razão. Schumacher, aparentemente, não sabe duelar.
Sabe dominar um time, dar voltas de classificação em plena corrida e cumprir estratégias que outros nem tentariam. Faz o que
ninguém faz e faz isso sozinho,
pelo rádio, de olho no cronômetro
e com dados da telemetria.
Schumacher é o ideal do esportista moderno, aquele que só vence, não perde e nem corre o risco
de perder. É o piloto ideal para os
homens de marketing. A F-1 está
uma chatice não porque ele existe, mas porque os outros times
imaginam poder fazer igual.
Falta humildade, criatividade e
coragem à concorrência para elaborar outro plano, buscar outra
alternativa. Poucos times fazem
isso, e quem faz, como a BAR,
ainda está longe da Ferrari.
Schumacher é um gênio, e isso
virou uma desculpa para os rivais
não reconhecerem suas falhas.
Pô, Pizzonia!
Antes do treino de Hockenheim, a última coluna parecia premonitória. Pizzonia fora o segundo na pré-classificação e entraria de novo
na pista para tentar a pole. Após o treino e aquele incrível e pífio desempenho, pelo menos um trecho continuava válido. O que dizia
que, em um campeonato tão restrito, não era possível desperdiçar as
poucas balas à disposição. Pizzonia desperdiçou seu único tiro.
Perto do fim
Schumacher pode ser campeão em Spa, mas a lógica indica que o
hepta só será celebrado em Monza. Se o Mundial deste ano já parece
próximo do fim, o de 2005 não anima. Webber na Williams é a única
boa notícia até aqui. A McLaren com Montoya e Raikkonen soa como bobagem. A BAR pode melhorar. A F-1 vai continuar de joelhos?
E-mail mariante@uol.com.br
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