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FUTEBOL
Ou isto ou aquilo
JOSÉ GERALDO COUTO
COLUNISTA DA FOLHA
A coluna de hoje é uma homenagem ao leitor que me
chamou de "vaselina" por conta
do meu comentário de segunda-feira sobre a campanha brasileira
na Copa América.
É sério. É que a crítica dele, por
mais mal-educada que fosse, me
fez pensar em como a maior parte
dos torcedores, no Brasil, gosta
das afirmações peremptórias, definitivas, que não deixam margem a dúvidas ou questionamentos. Quanto mais extremo o julgamento, melhor. Fulano é um craque, Beltrano é um cabeça-de-bagre, o melhor time do país é tal. E
não tem conversa. Deveria ser
motivo de estudos aprofundados
essa nossa dificuldade (pois não
me excluo de nada) de lidar com
tudo o que é contraditório, complexo, ambivalente.
Milênios de cultura judaico-cristã, reforçados por um século
de cinema americano e quatro
décadas de telenovelas nacionais,
nos tornaram arraigadamente
maniqueístas.
O sujeito é "do bem" ou é "do
mal". Preto ou branco. Isto ou
aquilo. E não tem conversa.
O problema é que as pessoas
não são assim tão definidas e unidimensionais, a vida não é assim
tão nítida. É isto e aquilo, juntos,
todo o tempo.
Querem um exemplo singelo?
Romário. Para uns, ele ainda é
único, imprescindível; para outros, está acabado, é um peso
morto para o seu time.
Quem viu Fluminense 2 x 0 Corinthians, sábado passado, sabe
que ele pode ser as duas coisas numa mesma partida.
No primeiro tempo, Romário
quase não tocou na bola, mas, na
única vez que ela lhe chegou mais
ou menos redonda, pelo alto, ele
fez um gol de cabeça da entrada
da área, encobrindo Fábio Costa
com sutileza e precisão. O comentário geral, depois do gol: "Romário é o craque que decide".
Mas veio o segundo tempo, e só
o Corinthians atacava. O Fluminense não passava do meio-de-campo. Romário se arrastava como se fosse um aposentado de
bermuda e chinelo. Seus companheiros se esfalfavam em vão.
Pois bem. Foi só o técnico Ricardo Gomes sacar o atacante, trocando-o pelo jovem e bem disposto Alan, para que o Fluminense
começasse a sair de seu campo e
criasse várias chances de gol.
O que dizer então de Romário?
Como engavetá-lo numa breve
definição, como atribuir-lhe uma
nota? Ele é o craque que decide ou
um peso morto? As duas coisas.
Isto e aquilo, ao mesmo tempo.
Tomemos outro exemplo, outro
personagem que divide opiniões:
Galvão Bueno, que aliás foi alvo
de comentários certeiros dos colegas Marcos Augusto e Soninha.
Galvão é chato, autoritário,
manipulador, patrioteiro, dono
da verdade. Mas é também, em
termos técnicos, um dos melhores
locutores do país. Sabe tudo de
seu ofício, tem "timing", modulação de voz, presença de espírito,
humor e vibração. É isto e aquilo.
Por essas e por outras, desconfie
quando alguém (comentarista,
colega de trabalho, companheiro
de mesa de bar) chegar dizendo
que tal coisa é tal coisa e não tem
conversa. Sempre tem conversa.
Dois destinos
Quando Santos e Cruzeiro permutaram seus técnicos, meses
atrás, muito se especulou sobre
quem sairia ganhando, Emerson Leão ou Vanderlei Luxemburgo. Hoje não há mais dúvida. Leão se desgastou com o declínio do Cruzeiro (pelo qual teve pouca responsabilidade), e
Luxemburgo tem grandes
chances de se tornar de novo
campeão brasileiro.
Lance arriscado
Fala-se numa possível volta do
volante Vampeta ao Corinthians. Pelo histórico recente
do jogador, teria tudo para ser
uma repetição do fiasco do colombiano Rincón.
Repouso do guerreiro
Valdo, 40, pára no fim do ano.
Está aí um jogador que soube
dignificar o seu ofício.
E-mail jgcouto@uol.com.br
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