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"Não sou louco", afirma Muricy
Técnico do Fluminense, que recusou a seleção para prosseguir no clube, diz dormir "em paz'
SÉRGIO RANGEL
DO RIO
Uma semana depois de recusar o comando da seleção,
o técnico Muricy Ramalho,
54, admite que ficou triste
por não poder trabalhar na
Copa de 2014. Mas garantiu
que voltou a dormir bem ao
optar por cumprir o contrato
com o Fluminense até 2012.
"Se não fizesse aquilo, seria difícil ficar em paz ao deitar na cama", disse em entrevista à Folha o paulistano,
que há um mês mora de frente para o mar de Ipanema.
"Não quero saber se me
chamam de romântico e não
quero dar exemplo para o
mundo. Só quero dar exemplo para os meus filhos. Tenho esse direito. Não sou louco. Sou normal demais. Só faço o que acho que tem que
ser feito", disse o treinador,
que pode deixar hoje o Fluminense na liderança do
Campeonato Brasileiro.
Folha - Você se arrepende de
ter recusado a seleção?
Muricy Ramalho - Claro
que bateu uma tristeza.
Quem não queria estar numa
Copa do Mundo? Mas não caminhou para esse lado. Acredito que essa não seria a minha hora. Sou bem resolvido.
Não consigo viver se não fizer
as coisas certas. Sempre digo
que tenho que cumprir os
meus contratos. Já tinha
acertado de boca mais dois
anos com os dirigentes daqui. Essa é a única mania que
tenho. Sei que não é bom no
futebol, mas sou assim. Se
fosse somar todas as propostas que recusei, já tinha parado com o futebol. Só que não
seria feliz e não teria uma carreira tão consistente.
Você acredita numa segunda
oportunidade na seleção?
Ninguém pode afirmar nada na vida. Deixo as coisas
acontecerem naturalmente.
Se continuar nesse ritmo, as
propostas vão aparecer.
Acredito nisso. Não acredito
em lobby, em sacanagem.
Você não entrou numa depressão pós-seleção?
Quem são as pessoas que
sempre foram suas referências na vida?
Meu pai me criou dessa
maneira. Ele tinha uma barraca de verduras no mercado
de Pinheiros e ia todo dia às
2h da manhã para comprar
as coisas dele no Ceasa.
Quando eu fazia coisas erradas, ele me levava e colocava
de castigo no caixote do mercado. Meu pai nunca teve dinheiro, mas cumpria as coisas e me ensinou esses valores. Ele já se foi. Acho que deve ter ficado triste por eu não
ter aceitado o convite da seleção, que é uma oportunidade
única. Por outro lado, está orgulhoso por eu respeitar o
Fluminense, os torcedores e
a história do clube.
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