São Paulo, sábado, 31 de julho de 2010 |
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RITA SIZA Branco sabe correr
ESTÁ A decorrer, em Barcelona, o Campeonato Europeu de atletismo, que é uma coisa divertida até porque os americanos não vêm estragar a festa das medalhas no final. Há favoritos para todos os gostos, mas a grande atração e curiosidade é o jovem velocista francês Christophe Lemaitre, o único homem branco a correr os 100 metros em menos de dez segundos. Faz tempo que os cientistas procuram explicar porque alguns atletas conseguem correr muito rápido e outros conseguem correr muito tempo -uma distinção que tem unicamente como pressuposto as diferenças da raça. Essa é uma discussão que me fascina e ao mesmo tempo assusta. Nesta época do politicamente correcto, qualquer debate que soa a engenharia genética corre o risco de ser percebido como higienização. As referências às distintas "capacidades" dos atletas brancos e negros são recorrentes e não exclusivamente genéticas. Elas também dizem respeito à sociedade e à cultura e estão instaladas no imaginário colectivo -quem não se lembra do filme do Spike Lee que dizia que "homem branco não sabe saltar"? Assim que o Lemaitre conseguiu iludir a barreira dos 10 segundos, a polémica que, por força dos resultados, estava adormecida, voltou. Para seu crédito, o jovem corredor de 20 anos escolheu não participar nela. "Acho isso absurdo", respondeu, quando a imprensa francesa fervia com a controvérsia. "Não vejo nenhuma razão para fazer polémica. Eu fiz uma boa corrida, bati o recorde [da França] e ponto final. Fiz o que tinha a fazer e é tudo. Não há mais nada a dizer", comentou. Em Barcelona, a corrida dos 100 metros que o Lemaitre venceu prometeu emoção e cumpriu, mesmo se para os registos desportivos acabou por revelar-se uma desilusão, com o pior resultado em finais da prova desde 1994. Com uma marca de 10s11, o francesinho branco derrotou os seus concorrentes negros -e os quatro atletas que o seguiram, do segundo ao quinto lugares, terminaram todos com o mesmo tempo de 10s18. O pódio foi decidido usando aparelhos eletrónicos e com recurso ao "photo finish". Correndo por Portugal, Francis Obikwelu (um dos únicos dez homens no mundo a conseguir correr a distância em menos de dez segundos) ainda apelou da classificação, apenas para ver o júri confirmá-lo no quarto lugar, por menos de um centésimo de segundo. Texto Anterior: Vissotto anuncia retorno ao Brasil Próximo Texto: Nas ondas do rádio Índice |
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