São Paulo, Sábado, 31 de Julho de 1999
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Vingança de Dodô foi apenas o começo

JOSÉ GERALDO COUTO
da Equipe de Articulistas

Um jogador profissional atuar contra seu ex-clube é um fato corriqueiro no futebol. Mas, quando esse jogador é um centroavante que deixou magoado a antiga casa, o reencontro tem sabor de vingança.
Foi o caso de Dodô, que na última quarta-feira fez o gol do Santos que liquidou seu ex-time, o São Paulo, no clássico San-São.
Foi uma resposta à torcida tricolor muito mais eficaz e elegante do que a "banana" que o artilheiro endereçou à arquibancada do Morumbi, há alguns meses.
A vingança de Dodô foi apenas o começo. O Brasileirão deste ano vai proporcionar outros confrontos de artilheiros contra seus ex-times. Dois dos mais aguardados são o de Luizão (agora no Corinthians), contra o Vasco, e o de Viola (agora no Vasco), contra..., bem, contra um punhado de ex-clubes: Palmeiras, Corinthians, Santos.
Viola, de resto, tem a impressionante virtude de vestir de fato a camisa do clube em que joga, como se fosse uma segunda pele. Foi, sucessivamente, corintiano, palmeirense e santista desde criancinha. Está há poucas semanas no Vasco e já parece que nasceu em São Januário.
Confesso, por falar nisso, que torci um pouco para Viola ir para o São Paulo, como chegou a se esboçar a certa altura. Só pelo inusitado da coisa: o mesmo goleador jogar nos quatro grandes clubes de São Paulo.
Outro atacante que chegou perto disso, na década que chega ao fim, foi Muller, que passou por São Paulo, Palmeiras e Santos. Só faltou o Corinthians.
No setor oposto, o dos goleiros, também não me lembro de nenhum que tenha atuado nos quatro grandes. Zetti chegou perto: Palmeiras, São Paulo, Santos.
Aliás, vingança de goleiro, fechando o gol contra seu ex-time, é quase tão deliciosa quanto vingança de artilheiro.
Poderá ser o caso, neste Campeonato Brasileiro, de Velloso (no Atlético-MG), contra o Palmeiras, e de Dida (no Corinthians), contra o Cruzeiro.
  Escrevo esta coluna antes do jogo Brasil x Nova Zelândia. Espero que tenha sido menos tedioso do que Brasil 1 x 0 EUA.
A falta de imaginação mostrada pelo meio-campo brasileiro naquele jogo foi exasperante.
Pode ser que a partida contra a Nova Zelândia me faça queimar a língua, mas acho que o time só vai destravar de fato quando: 1) Odvan ou João Carlos der lugar a César, um zagueiro que sabe sair jogando, em vez de simplesmente se livrar da bola; 2) trocarmos um cabeça-de-área (Émerson ou Flávio Conceição) por um meia mais criativo, como Alex.
Sei que Émerson (o novo Mauro Silva), suspenso, não jogou. Mas estou me referindo a opções táticas, e não a frutos do acaso.
  Nossa vocação monárquica, monoteísta e monocultora volta a atacar.
Parece que só podemos ter um ídolo futebolístico de cada vez. Só porque Ronaldinho começou a encantar a todos, já tem gente se apressando em enterrar o outro Ronaldo, que até o ano passado era o maior do mundo.
Nos jogos da Copa América, parecia até que a platéia brasileira presente ao estádio torcia por uma atuação ruim do atacante da Inter para poder vaiar e gritar: Gaúcho, Gaúcho.
Sou fã do novo Ronaldinho, sem deixar de admirar o "velho". Quanto mais craques melhor.

E-mail jgcouto@uol.com.br


José Geraldo Couto escreve às segundas-feiras e aos sábados

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